Aruana terminara a reportagem quase com pena. Gostara demais de aprender sobre a rotina de Homeland III e da interação da colônia com a cidadezinha de Santa Rosa. As fotografias ficaram excelentes e decidira fazer uma exposição no Clube com todas as que tirara.
Por obrigação contratual, o texto da reportagem deveria passar pelo crivo do líder da colônia, Cedar. O pouco que convivera com ele o achara muito centrado e educado, por isso estranhou quando ele pediu para vê-la em seu escritório. Ela enviara o texto para Cedar no dia anterior.
Aquela seria a última semana que trabalharia para a Many Tribes, dependendo do feedback de Cedar.
Aproveitara a manhã respondendo a propostas de trabalho e mensagens da família e amigos. Sua avó ficara muito animada quando contara que conhecera alguém especial, porém não falara que era um Nova Espécie. Ela mesma ainda estava se acostumando a namorar aquela criatura tão diferente e não contara para ninguém.
Fazia uma semana que haviam brigado e feito as pazes. Estava tudo tão bem com Fiber que ela passara a tomar cuidado ao falar com outros homens, já que descobrira que a sensibilidade de Fiber era com todos os homens, inclusive seus iguais. Ela verificara como os Novas Espécies eram educados, porém reservados com ela.
A primeira vez que alguém se referira a ela como mulher de Fiber a pegara de surpresa, mas Creek lhe explicara que era assim que ele, e toda a colônia, a consideravam. Era estranho, pois estavam há tão pouco tempo juntos, porém apenas ela parecia achar estranho.
Viver com Fiber era uma delícia! Ele acordava muito antes dela, mas voltava no horário que ela costumava acordar. Faziam amor e ele a levava para o desjejum. Com a chegada de Cedar, Fiber voltara para a chefia da segurança. Eles se encontravam na hora do almoço e ele fazia questão de fazerem amor, rapidinho, mas intensamente. Depois ele só voltava às oito horas da noite e, às vezes um pouco mais tarde. À noite, depois que faziam amor, conversavam até ela dormir. Era uma rotina maravilhosa!
Depois que concluisse seu trabalho da manhã, Firmness, que se tornara sua escolta constante, a levaria para o escritório de Cedar.
Uma batida na porta a fez desligar o notebook.
— Um momento!
Pegou sua câmera e seu celular e abriu a porta. Firmness a aguardava.
— Oi.
— Oi, Aruana. Está pronta?
— Estou.
As duas caminharam pela vila. Aruana ainda se encantava com o equilíbrio entre as construções e a floresta. Todas as cabanas e prédios tinham plantas nativas em seus jardins. Ela se sentia muito próxima das suas origens ali.
Ela e Firmness foram conversando sobre o curso que alguns Novas Espécies fariam num hospital em Brasília. Aquela seria a primeira vez que Firmness viveria no mundo humano e estava muito ansiosa.
— Eu sabia que teria que estudar num hospital, mas sempre tive medo das cidades humanas.
— Você vai estranhar, claro, mas ficará bem.
— Eu me sinto um pouco mais tranquila pelo doutor Bishop ir conosco.
— É, ele é bacana.
Firmness desviou o olhar e corou.
— Ele é.
Aruana achou engraçada a reação da mulher, entretanto não fez comentários. Não eram tão íntimas assim.
Chegaram nos escritórios e foram até o de Cedar. Firmness bateu à porta e ouviram Cedar dizer para entrarem.
Quando abriu a porta, Aruana ficou surpresa ao ver Fiber no sofá.
— Oi!
Ele sorriu para ela e se levantou.
— Oi.
Como sempre fazia em público, Fiber beijou o topo da sua cabeça. Cedar a cumprimentou.
— Olá, Aruana.
— Olá.
Firmness fez um sinal com a mão.
— Vou esperar lá fora.
Cedar esperou que ela saísse.
— Sente-se. - falou para Aruana, apontando para uma cadeira à frente de sua mesa.
Ela se sentou e Fiber ficou às suas costas, segurando seu ombro. Aruana o olhou.
— Não sabia que estaria aqui.
— Cedar me avisou.
Ela não entendeu, mas não perguntou. Cedar a olhou com simpatia. Aruana o vira apenas uma vez e achara lindos os seus olhos cor de chocolate e os cabelos castanhos que usava à altura dos ombros. Ele parecia ser mais velho do que Fiber.
— Aruana, eu li sua reportagem. Está muito fiel à colônia e aos Novas Espécies.- ela assentiu e ele continuou. — Eu o enviei para Justice. Ele também gostou muito.
— Que bom.
— Justice autorizou que você escreva sobre as crianças espécies.
— Sério?
— Pede apenas que não cite o nome das mães.
— Sim, eu posso fazer isso.
— Acredito que não terá problemas em permanecer mais um tempo. - Cedar olhou para Fiber.
— Ela ficará. - Fiber respondeu por ela.
— Aliás, Aruana, se Fiber me permite dizer, você é bem vinda à Homeland III o tempo que desejar ficar.
— Ah, obrigada.
Cedar se levantou e Aruana o imitou.
— Se precisar de algo, diga ao Fiber e ele resolverá comigo.
— Tudo bem.
Fiber segurou sua mão e saíram juntos da sala. Aruana esperou chegarem no corredor para perguntar.
— Por que Cedar te chamou?
— Porque você viria.
— E o que tem isso?
Fiber lhe deu um olhar de lado.
— Por minha causa.
— Continuo sem entender.
— Por respeito, ele não quis falar com você sem a minha presença.
Ela abriu a boca, surpresa.
— Por respeito?
— Sou seu macho.
Aruana estacou e Fiber parou. Ele a olhou com o semblante sério.
— Eu sou uma mulher independente, Fiber. Não preciso de um homem me fazendo companhia.- ele franziu o cenho, mas não comentou. — Cedar achou que precisava da sua permissão?
Fiber a puxou e voltaram a andar.
— Cedar sabe como as coisas são.
— Não comigo. Eu posso muito bem cuidar de mim.
Fiber parou novamente e a encarou. Seus olhos estavam estreitados e pareciam perigosos.
— Você já deixou muito claro que não sou importante para você, mas meu povo não sabe disso.
Aruana abriu a boca para reclamar, mas o olhar magoado dele a tocou. Encostou-se nele e tocou seu rosto.
— Já conversamos sobre isso.
— Já. - respondeu sucintamente.
Quando Fiber voltou a andar, ela não o impediu. Firmness esperava na entrada folheando uma revista. Quando os viu se levantou.
— Vai levá-la, Fiber?
— Não. Preciso voltar.
— Não vai almoçar? - Aruana perguntou.
— Não. Vá com Firmness. -ela o observou. Ele parecia muito chateado. — Depois nos vemos. - Fiber falou, soltando sua mão.
— Tá.
Ele saiu antes delas. Firmness lhe deu um olhar estranho.
— A reunião foi ruim?
— Não, foi boa.
— Fiber parecia aborrecido.
— Eu causo esse efeito nele.
— Duvido. Ele está muito apegado a você.
Aruana sabia disso.
Caminharam para o Clube, Aruana em silêncio. Não gostava de aborrecer Fiber; ele era tão maravilhoso com ela... De repente lembrou-se de algo que ele dissera e seu rosto ficou quente. Virou-se para Firmness.
— Eu preciso ligar para Fiber.
— Tudo bem.
Firmness deu alguns passos e pegou seu próprio celular. Aruana fez a ligação. Ele atendeu ao primeiro toque.
— Aruana? O que houve?
— Eu preciso te dizer uma coisa.
— Diga.
Ela respirou fundo.
— Você é muito importante para mim. - Fiber ficou em silêncio. — Eu nunca... eu nunca me esforcei para ficar com um homem antes. Eu quis ficar com você. Eu quero. - ele continuou em silêncio. — Fiber, você está entendendo o que estou te dizendo?
— Não tenho certeza.
— Eu gosto muito de você. - hesitou. — Isso para mim... é muito.
A resposta dele demorou.
— Entendo.
Aruana esperou que ele dissesse mais e suspirou quando não continuou.
— Te espero em casa.
— Nos veremos lá.
— Tchau.
— Até mais.
Ela desligou sentindo que faltava algo. Balançou a cabeça. Tinha que ser fiel a si mesma. Não aceitaria algo diferente do que pensava.
Nem por Fiber? - pensou, mas afastou o pensamento. Fora totalmente sincera com ele; se ele a desejava realmente, aceitaria o que ela podia oferecer.
Ergueu o queixo e caminhou para o Clube, sentindo que seu dia perdera o brilho.
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Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...