Capítulo 14

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Naquela manhã, Fiber concordou com o doutor Bishop. Sua cabeça doera bastante durante a noite e, de verdade, ficara tonto. Se deitara muito mais cedo do que costumava e foi acordado por uma mão batendo em sua perna. Gemeu e se virou na cama.
— Ei, cara. - Sky chamou.
Fiber abriu os olhos sentindo as pálpebras pesadas.
— O que é?
— Blade disse para te deixar dormir até tarde, mas já é muito mais tarde.
— Que horas são?
— Oito horas.
Ele se sentou, tirando os cabelos do rosto.
— Dormi demais.
— Está se sentindo bem?
— Minha cabeça dói um pouco.
— Eu trouxe o seu café da manhã. - abriu as cortinas e Fiber fechou os olhos, incomodado com a luz. — E a doutora Thainá disse que virá aqui daqui a pouco.
— Hum...
— Precisa de ajuda para levantar?
Ele rosnou e Sky riu.
— Você já está bom, o mau-humor voltou. Vamos tomar café. Eu trouxe para mim também.
Fiber se levantou e foi para o banheiro. Enquanto fazia sua higiene , ouviu Sky falando ao telefone.
— ... se ela não pode, eu posso substituí-la. Claro, Ven... Anhãm, falarei com ele... Melhoras para Peace.
Fiber secou o rosto e foi para a sala. O amigo estava com o seu telefone celular na mão.
— Vengeance ligou para você.
— O que houve com Estela?
— Não foi com ela. Peace levou um tombo e cortou o queixo. Está no Centro Médico. Eu disse para o Ven que acompanharei a repórter. - abriu as embalagens sobre a mesa, separando os cafés.— Ela é bem bonita para uma humana.
Fiber fechou o rosto e sentou-se à mesa.
— Eu irei.
— Você? Pensei que repousaria uns dias.
— Eu estou bem.
— Blade falou que você estava fraco e com tonteira.
— Estou bem.
— Está bem, então. Posso encontrá-la mais tarde.
— Por quê?
— Você viu aquela boca? Dá vontade de morder.
O rosnado fez Sky olhá-lo.
— O que foi?
— Quer compartilhar sexo com a fêmea?
— Se ela se interessar... Por que está me olhando assim?
— A fêmea já tem alguém.
— Ela acabou de chegar. Quem foi que... - Sky lhe deu um olhar desconfiado. Depois sorriu. — Ah, entendi.
Fiber se levantou e pegou pratos e talheres na pequena cozinha. Colocou um prato na frente de Sky, pegou um bife e começou a picá-lo. Não levantou o rosto, mas sabia que Sky o estava olhando. Abriu o copo e tomou um gole do café. Ninguém tinha nada a ver com a sua vida, porém não queria outro macho dando em cima de Aruana.
Sky sentou à mesa e pegou um bife e pão.
— Desculpe ter falado da repórter. Eu pensei que você não tinha gostado dela.
— Por que pensou isso?
— Quando ela chegou você parecia que queria atacá-la e... - Sky o encarou. — Acho que me enganei com isso também.
— A fêmea me atrai.
— Estou surpreso. Jaded tinha razão.
— Por quê?
— Ele dizia que as humanas enlouqueciam os espécies.
— Ele casou com uma humana.
— E provou que estava certo.
— Você acha isso?
— Namorei uma humana em Homeland. Pensei em acasalar com ela e ter filhos.
— Por que você não se acasalou?
— Ela teve medo de ser perseguida por isso. Foi uma pena.
Fiber observou o amigo; ele parecia muito triste. Pensou em Aruana e em como seu cheiro o seduzia. Ele estaria enlouquecendo por uma humana?
Comeram em silêncio e, quando terminaram, Sky pegou a louça e levou para a cozinha. Fiber voltou para o quarto e se vestiu, sem se preocupar com a concussão.
— Fiber... - chamou Sky. — Quer que eu avise à repórter?
— Ligue para Firmness e pergunte onde estão.
— Certo.
Fiber terminou de se vestir e encontrou Fiber na sala.
— Firmness está no escritório.
— Obrigado, Sky. Obrigado também pelo café e pela companhia.
— E me desculpe pelo que falei da fêmea.
— Você não sabia.
Sky lhe deu um tapa no ombro e ambos saíram. Fiber estranhou a sensação que sentia, porém concluiu que não era ruim. Disfarçou um sorriso e caminhou na direção dos escritórios.

Estela havia marcado às oito horas com Aruana, mas Firmness recebeu um telefonema do seu marido avisando do acidente de Peace e de que outro oficial iria substituí-la. Lamentou apenas pelo garotinho.
Aproveitou para conhecer melhor os setores administrativos da colônia. Cada setor de Homeland III possuía um líder e havia funcionários Novas Espécies e humanos em cada setor. Descobriu que lanchas buscavam e levavam alguns funcionários diariamente para Santa Rosa.
Fez uma nota para si mesma para abordar na sua reportagem como as Novas Espécies se adaptaram tão rápido ao mundo humano.
Conversava com um técnico em contabilidade quando ouviu vozes no corredor. Uma voz feminina podia ser ouvida claramente e uma masculina soava mais baixo, porém seu coração saltou quando reconheceu que era a voz de Fiber.
Conseguiu entender que a mulher estava surpresa em vê-lo ali. As vozes se aproximaram da sala onde ela estava.
— Talvez seja melhor procurar os médicos.
— Estou bem.
Aruana reconheceu a voz da linda Leona.
— Mas não pode passar seu trabalho para outra pessoa?
— Não.
Fiber apareceu na entrada do escritório e a viu. Aruana inspirou fundo quando ele entrou na sala, o coração acelerado.
— Oi.
— Oi, Fiber.
Ele usava o uniforme preto da ONE e ela admirou como ele ficava sexy com a blusa de malha e com a bermuda curta.
Ele tem que ser tão gostoso? - pensou.
— Você está bem?- ele perguntou.
Ela não conseguiu evitar o sorriso.
— Eu que deveria perguntar, Fiber.
— Estou bem.
Leona apareceu por trás de Fiber e franziu a testa. Aruana lembrou do aviso de Creek e tirou o sorriso do rosto.
— Estou esperando o meu guia.
— Eu vou te acompanhar.
— Mas, e o repouso?
Os cantos dos lábios dele se ergueram e ela esperou um sorriso, contudo aquilo foi tudo.
— Vamos ao escritório de Cedar?
— Hã... Claro.
Ele saiu da sala e ela o seguiu. Passou por Leona e a mulher lhe deu um olhar magoado.
Aruana entrou no escritório e Fiber fechou a porta. Arfou quando num movimento muito rápido ele a abraçou.
— Fiber!
Ele passou o nariz na curva do seu pescoço e inspirou.
— Este cheiro...
Aruana o empurrou, sentindo os músculos peitorais rígidos e o calor através da blusa.
— Por favor...
Fiber a beijou e Aruana tentou virar o rosto, porém a língua dele invadiu sua boca. Fiber a apertou e desceu uma mão para o seu quadril, apertando-o. O beijo foi profundo e ela não conseguiu se afastar. Todo o seu corpo esquentou e ela percebeu que estava cedendo.
Ele deixou sua boca e lambeu seu pescoço.
— Deliciosa.
— Fiber, Leona está lá fora.
— O que tem?
Aruana sentiu seu temperamento ferver.
— O que tem é que ela dorme com você!
Ele parou e a olhou.
— O quê?
— Você ouviu.
Fiber perscrutou o seu rosto.
— Está com ciúmes?
— Ciúmes? Você não é meu para eu ter ciúmes. - ele a olhou, parecendo surpreso. — Eu só não quero me intrometer numa relação. Não sou fura olho, se quer saber.
— Fura... o quê?
— Fura olho. É quem dá em cima de alguém comprometido.
— Eu não sou comprometido.
Aruana procurou se desvencilhar do abraço dele, mas Fiber não permitiu.
— Vai me dizer que não transa com a Leona?
— Eu compartilho sexo com ela.
A boca de Aruana abriu num O perfeito com a sinceridade dele.
— Você... - as palavras se tornaram difíceis. — Você queria sexo comigo ontem.
— Eu ainda quero.
— Mas é muito cretino!
Ele balançou a cabeça, parecendo sinceramente confuso.
— Não estou entendendo.
— Você só quer uma transa com uma humana, não é? Para contar para os seus amigos?
— Contar?
— Todo mundo sabe que você dorme com a Leona! Vai querer que saibam que me chupou também?
— O que importa que saibam?
— Me solte.
— Calma.
— Me solte!
Dessa vez Aruana o empurrou com força e Fiber afrouxou o abraço.
— O que fiz de errado?
— Não sou uma vadia!
— Eu não disse isso.
— Não, só está me tratando assim!
— De jeito nenhum.
Ela conseguiu se soltar dele e se afastou. Passou as mãos nos cabelos, arrepiando-os. Bufou, procurando se acalmar. Fechou os olhos e respirou fundo. Era uma mulher adulta e aquela não fora a primeira vez que um homem tentava diminuí-la. Abriu os olhos e ergueu os ombros.
— Olha, vamos esquecer isso. Rolou um clima, é verdade, mas eu não topo sexo casual. Vamos encerrar isso numa boa. - respirou fundo de novo. — Só espero que o... lance não atrapalhe o meu trabalho.
Fiber apenas a olhou por um longo momento. Se ele tinha explicações a dar, não o fez. Apertou os lábios e jogou os cabelos por cima dos ombros.
— Não fiz nada de errado. - Aruana abriu a boca para falar, mas ele continuou. — Vou levá-la à creche.
Ele se virou e abriu a porta, olhou-a e Aruana sentiu uma grande mágoa. Parecia que estava vivendo algo especial, mas se enganara.
— Tudo bem.
Ele esperou que ela saísse e a seguiu. Aruana procurou andar com tranquilidade e se preparou para passar um dia ao lado de Fiber.
Seria um longo dia.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora