Capítulo 54

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Aruana estava na cabana de Estela, sentada quieta enquanto ela terminava a sua maquiagem de noiva. Sua mãe quisera contratar uma equipe esteticista, mas ela não quisera. Pretendia que seu casamento fosse simples e tranquilo.
Teve que controlar Creek que queria promover um evento. Concordara apenas em fazer uma rápida cerimônia no Clube e uma recepção em seguida.
Na cabana de Estela estavam sua mãe, Magda e Creek; as duas amigas  seriam suas madrinhas. Sua mãe estava nervosa desde que chegara em Homeland III. Arregalava os olhos a cada Nova Espécie que chegava perto. Ela e seu pai tentaram demovê-la de se casar, porém a única opinião que lhe interessava era a da avó, que a apoiará completamente.
— E pronto! - falou Estela. — Você está linda!
Aruana se olhou no espelho. Sua maquiagem evidenciava a pele morena e os olhos escuros. Uma linda tiara de capim dourado complementava o penteado, que valorizou seus cachos. Estava muito bonita mesmo.
— Amei. - declarou para Estela.
— Agora o véu! - exclamou Creek muito animada.
Aliás, a ideia do véu tinha sido de Creek. Aruana comprara em Rio Branco um vestido pérola, na altura dos joelhos. O colo e as costas eram rendadas e ela achou divertido que tinha muitos botõezinhos de pérola, pois imaginava como Fiber se viraria com eles.
Estela prendeu o véu curto e ela se levantou. Creek e Magda bateram palmas, admirando-a.
Aruana alisou a barriga.
— Não estou ridícula com esta barriga?
— Está lindíssima! - disse Creek.
— Você está maravilhosa! - exclamou Magda.
Aruana percebeu que sua mãe não comentou. Estava com sete semanas de gestação, mas parecia ter o dobro. Sua barriguinha despontava orgulhosamente.
— Bom, então vamos a esse casamento!- falou, juntando as mãos.
A mãe se aproximou dela.
— Quero falar com você em particular.
Aruana respirou fundo e olhou para as amigas. As três entenderam o seu olhar e saíram do quarto. Aruana pousou as mãos na barriga. A mãe bufou.
— Aruana, você está fazendo uma loucura!
— Mãe, já falamos sobre isso.
— Minha filha, você estudou tanto e fez tantos sacrifícios para chegar até onde chegou... Não pode jogar tudo fora para se enfurnar aqui.
— Eu estou bem.
— Bem? Você se juntou a um... Aruana, essa criatura não é um homem normal. Eu li sobre eles. São meio animais e parecem... parecem feras!
— Nunca vi uma fera tão bonita como Fiber.
— Não brinque, menina! Isso é muito sério!
— Mãe, eu vou me casar com Fiber. Eu o amo, ele me ama. E está tudo certo.
— Não está! E você... Ele forçou você a engravidar?
— Que absurdo, mãe!
— Você quis engravidar?
— Não, não quis. Foi um acidente, mas estamos muito felizes.
— Você podia ter interrompido.
— O quê? - o choque a fez ficar gelada.
— Qualquer médico iria entender se você não quisesse ter...
— Chega.
— Você não sabe o que será essa criança.
— O nome dele é Elo! - Aruana fechou os olhos um instante. — Por que você veio, mãe?
— Para te mostrar a besteira que está fazendo!
— Eu estou feliz! Que parte disso não entende?
— Essas criaturas são caçadas, minha filha! Você terá que viver como uma prisioneira!
Aruana se virou e pegou o buquê que New fizera para ela. Encarou a mãe.
— Você não compartilha da minha alegria, não aceita o meu noivo e queria que eu matasse o meu filho...
— Só estou pensando no seu bem.
— Então acho que deveria ir embora.
A mãe piscou, espantada.
— Está me mandando ir embora?
— Se você quiser ir, não vou te impedir.
Com as sobrancelhas franzidas a mulher levantou as mãos.
— Você é minha filha! Eu quero o melhor para você!
— Se quer o melhor para mim, então vá para o Clube, cumprimente o meu noivo e fique feliz por mim.
A mulher abaixou as mãos.
— Aruana, não posso apoiar esta loucura.
Aruana ergueu o queixo e foi para a porta do quarto.
— Onde você vai?
— Casar, mãe.
— Filha, olhe para mim!
Com a mão na maçaneta, Aruana olhou para a mãe.
— Se é por causa da criança, você pode entrega-la ao pai e voltar para sua vida.
Aruana queria gritar com a mãe, xinga-la, mas respirou fundo. Com os olhos cheios de lágrimas, declarou.
— Não quero ver a senhora na cerimônia.
— Seu pai também não irá!
— Tudo bem. A vó estará comigo.
Ignorando o que a mãe começou a falar, saiu do quarto. Na sala, as três amigas a olhavam com compaixão.
— Eu estou pronta.
Magda foi até ela, segurou sua mão e encostou a barriga na dela.
— Nós sempre estaremos aqui para você.
— Obrigada.
A mãe passou por ela e saiu. Aruana ouviu vozes alteradas e depois o silêncio.
— Vou pegar um lencinho. - avisou Estela e correu para o quarto.
Creek se aproximou e a abraçou.
— Você tem uma família grande aqui, Aruana.
— Eu sei.
— Você agora é uma de nós.
Estela voltou e pressionou o lencinho nos olhos molhados.
— Viu? Nem manchou.
Aruana balançou a cabeça, respirou fundo e forçou um sorriso.
— Fiber está me esperando.
Cercada pelas amigas ela saiu da cabana. Do lado de fora a tarde estava com a luz dourada que precedia o crepúsculo. O passo para ser feliz ao lado de Fiber ela dera um mês atrás. Agora confirmaria diante de todos que ela era, definitivamente, dele.

Em pé, à frente da mesa que fora arrumada para a cerimônia, Fiber esperava por Aruana. O salão do Clube estava todo enfeitado com flores nativas. Cadeiras haviam sido dispostas em duas colunas com várias fileiras.
Ele vira um casamento ali, pouco antes de chegar em Homeland e se lembrava que o espécie parecia apavorado. Mas ele não se sentia assim. Ansiava por aquele momento.
Queria apenas assinar os papéis de acasalamento, mas Creek lhe dissera que as humanas valorizavam o casamento. Quando viu, já havia uma cerimônia com um padre e uma festa preparada.
A própria Creek cuidara das roupas que usava agora. Uma blusa social preta, calça preta com vincos e um sapato brilhante. Ele não quisera usar paletó, mas Creek fizera questão de uma gravata cor de pérola.
Uma música suave saía dos altos falantes e todas as cadeiras estavam ocupadas. Seu povo adorava uma festa.Olhou para a avó de Aruana. A idosa era calada, mas transmitia muito através da sua presença e olhares. Ele gostara bastante dela. Já os pais de Aruana...
Primeiro eles disseram que não viriam ao casamento, depois decidiram vir, porém desde o seu primeiro encontro os dois mostravam a contrariedade com a escolha da filha. A ausência deles não era um bom sinal.
Estela entrou no Clube e acenou para Cedar, que estava atrás da mesa com o padre. Cedar fez sinal para os dois espécies na mesa de som e uma música tocada por violinos começou.
Um burburinho correu entre as pessoas e todos se viraram para trás.
A melhor amiga de Aruana e seu marido entraram, caminhando lentamente no corredor entre as cadeiras, depois Creek e Sky. Os dois casais ficaram um de cada lado seu.
Então, a música silenciou e em seguida começou a Marcha Nupcial.
Aruana surgiu na entrada do Clube. Fiber respirou fundo, surpreso consigo mesmo, pois um bolo se formou em sua garganta e seu coração disparou.
A luz do sol que banhava Aruana fazia as partículas no ar brilharem e ela toda parecia estar brilhando no seu lindo vestido. Estava sozinha, mas o fitava com um sorriso enorme.
Aruana caminhou para dentro do Clube e as fêmeas suspiraram. Duas ou três apontaram as câmeras do celular para ela. Fiber queria correr para encontrá-la.
Admirou-a, perplexo por ela ser sua. A barriguinha anunciava seu filho, Elo, aquele que mostrava que ele e Aruana tinham uma ligação profunda.
Ela finalmente chegou até ele, que segurou sua mão.
—Oi, amor. - ela sussurrou.
— Oi.
Aruana apertou sua mão e se virou para a mesa. Fiber tinha se esquecido dos homens atrás dele.
O padre começou a falar e foi traduzido por Cedar; muitos espécies não dominavam a língua portuguesa.
Apesar da cerimônia estar sendo realizada em duas línguas, Fiber mal entendia o que era dito. Toda sua atenção estava na mulher ao seu lado. Conseguiu guardar palavras como união, companheirismo e fidelidade. Sim, sempre haveria união e fidelidade entre os dois.
— Fiber? - ele olhou para Cedar, que lhe dava um olhar divertido.— O padre.
— Como?
Fiber ouviu os risos no salão e percebeu que eram  por sua causa. Aruana apertou a sua mão, rindo também.
— O padre está falando com você. - Cedar olhou para o padre. — Pode falar agora, senhor.
O homem sorriu para Fiber.
— Fiber Colorado, você aceita Aruana Penna Karajá como sua legítima esposa, prometendo ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias das suas vida até que a morte os separe?
— Sim. - ele respondeu com a voz rouca.
Quando chegou a vez de Aruana, ela olhou para ele no momento do sim, respondendo suavemente.
Logo em seguida o padre anunciou a entrada das alianças. Fiber sabia quem seria o portador das alianças, por isso se virou já sorrindo.
Na entrada, Estela segurava Peace, vestido como Fiber, que saltitava animado, com uma almofadinha na mão. Quando ela o soltou o menino disparou, correndo ao encontro dos dois.
— Cheguei! - gritou jogando a almofadinha para Fiber.
Todos no salão riam, encantados com o menininho. Fiber entregou a almofada para o padre que as abençoou. Ele ofereceu a aliança a Fiber que a colocou cuidadosamente no dedo de Aruana e depois beijou sua mão.
O padre entregou a aliança à Aruana, mas ela não colocou logo. Olhou para Fiber e respirou fundo.
— Meu amor, este é o nosso momento. Eu o atrasei algumas vezes... - algumas pessoas riram. — ... mas finalmente entendi que o meu lugar era ao seu lado, como sua companheira, esposa e amada. Quero ser tudo para você. - ela segurou sua mão. — Com esta aliança eu reafirmo que temos um elo... - ela deu uma risadinha. - ... e nada, nada nos separará.
Fiber sentiu sua mão tremer quando Aruana enfiou a aliança em seu dedo. Gostaria de ser um homem que dominasse as palavras para dizer a ela tudo que sentia, mas conseguiu apenas olhar em seus olhos.
O padre recitou a declaração final e Cedar repetiu.
— Pela autoridade concedida a nós... - olhou para o padre. - declaramos agora que vocês são marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Fiber segurou o rosto de Aruana e, depous de um longo olhar, deu-lhe o primeiro beijo como companheiro e marido.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora