Capítulo 26

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Fiber voltou para Homeland III no horário do almoço. A viagem fora tranquila, apenas no aeroporto juntou-se uma multidão querendo tirar fotos deles.
Estava acostumado ao assédio dos humanos. As Novas Espécies foram descobertas há quase dez anos, mas ainda interessavam muito aos humanos. Aos poucos, Justice e o Conselho foram permitindo que soubessem um pouco mais sobre o seu povo. O anúncio da existência das crianças causou um alvoroço; as teorias de que as Novas Espécies queriam dominar o mundo voltaram à discussão. A implantação das colônias também ajudou a fomentar a polêmica.
Mas os líderes da ONE não iriam recuar. Um projeto de lei tramitava no estado da Califórnia, onde Homeland e a Reserva I seriam considerados distritos e assim a ONE teria representação na Câmara estadual. Justice pretendia que todas as colônias seguissem esse caminho. Logo as Novas Espécies teriam representação no Congresso. E as colônias poderiam, em poucos anos fazer o mesmo.
Fiber reconhecia que era um plano ambicioso, mas os humanos teriam que se acostumar com eles.
Blade voltara de Santa Rosa com a doutora Thainá. Não era o plantão dela, mas de alguma maneira ela voltava para Homeland III. Blade pilotava a lancha, enquanto parecia fazer a doutora rir.
Fiber sorriu para o nada, lembrando-se do carinho entre ele e Aruana. Estava louco para vê-la; voltaria a pedir para que fosse sua companheira. Adorara acordar todos os dias com ela, fazer amor e aconchegá-la até ela voltar a dormir.
— Hei. - Cedar o chamou. — Está dormindo de olhos abertos?
Fiber balançou a cabeça.
— Não.
— Parecia que estava sonhando, rindo sozinho.
Fiber deu um sorriso tímido.
— Eu estava mesmo.
Cedar o encarou.
— Tem a ver com aquela fêmea?
— Quem? - Cedar sabia sobre Aruana?
— A Leona.
Franzindo a testa, ele refletiu por Cedar o ligar à sua amiga. Compartilhara mais sexo com Leona do que com outras fêmeas, porém não tinham um compromisso. Aparentemente não fora apenas Leona que se equivocara.
— Não estou ligado à ela.
— Ela disse à Creek que iria se acasalar com você.
— E como é que você sabe disso? - perguntou, surpreso.
— Eu e Creek conversamos muito.
Fiber ficou um momento em silêncio. Entendeu melhor a mágoa de Leona; ela realmente acreditava que estavam num relacionamento.
— Eu nunca fiz promessas para Leona.
— Você é um macho muito sério e calado. Talvez ela tenha pensado que você só estava sendo discreto.
— Não tive a intenção de enganá-la.
— Acredito em você. - Cedar inclinou a cabeça. — Então, quem é a fêmea?
— Por que tem que ser uma fêmea?
— Você está me lembrando de Darkness. O macho era era igual a você e agora brinca de cavalinho com Shine. - os olhos de Cedar arregalaram. — Peraí, é uma humana? - Fiber se remexeu, sem jeito. — É sério isso? Quem é a mulher?
— A repórter.
— A repórter brasileira?
— Sim. - respondeu de má vontade.
Cedar gargalhou, chamando a atenção dos outros espécies. Fiber lhe deu um olhar carrancudo.
— Não é possível! Sabe quantos espécies existem? Excetuando as fêmeas, são 247 machos adultos e 54 estão acasalados com humanas e o número aumenta a cada ano. - cutucou Fiber. — Você, meu amigo, é só um número na estatística.
Fiber não respondeu, mas sabia que Cedar tinha razão. Ficara o restante da viagem ouvindo notícias de Homeland I que os espécies traziam.
Atracaram e ele sentiu um calor no peito; veria Aruana em breve!
Cedar e sua escolta foram para suas acomodações e ele foi para o escritório. Se controlara todo o tempo da viagem para não ligar para Aruana, mas logo que entrasse no escritório ligaria para ela.
Quando passou pela sala de TI pensou em Leona e em como estava magoada com ele.
No escritório, ligou para Aruana, mas o telefone apenas chamava. Talvez ela estivesse no banheiro. Deixou o telefone de lado e começou a recolher seus pertences; estava feliz em devolver o comando da colônia para Cedar.
Guardou suas coisas na sua bolsa e ligou novamente. Nada.
Ele sabia que ela não estava sem sinal, pois havia uma torre de telefonia nas terras da ONE.
Ouviu uma batida na porta.
— Entre.
A porta se abriu e Leona entrou. Fiber se esforçou para ser afável com a fêmea.
— Está se mudando?  - ela perguntou suavemente.
— Cedar está de volta. Voltarei para a segurança.
Ela fechou a porta.
— Queria falar com você.
— Claro.
De repente ela ficou ruborizada.
— Soube que está vivendo com a repórter. - ele apenas assentiu com a cabeça. — É sério... entre vocês?
— Leona...
— Estou perguntando porque Rain veio me procurar.- ele esperou que ela continuasse. — Ela estava num relacionamento com o agrônomo, o Felipe.
Fiber se empertigou, cismado.
— O que tem?
— Ela queria saber se você e a repórter são exclusivos.
— Por quê?
— Rain está magoada, porque Felipe anda atrás da repórter. - Fiber piscou, nada surpreso. — E hoje eles passaram o tempo todo juntos.
— Como é que é? - vociferou.
Leona entreabriu os lábios com a reação dele.
— Ela ficou em dúvida se vocês eram exclusivos ou não. Está bem magoada.
— O que está dizendo? - ele deu um passo na direção da fêmea.
O rosto de Leona ficou ainda mais vermelho.
— Ela passou o dia com o Felipe e...
Fiber ouviu um rumor como se seus ouvidos estivessem cheios de vento. Suas narinas dilataram e suas presas ficaram à mostra.
— Por que veio aqui, Leona?
— Porque a Rain...
— Se ela quisesse saber algo de mim era só me procurar.
— Ela ... ela achou mais fácil para eu falar. - Fiber não queria despejar sua raiva sobre Leona. Não queria acreditar que sua amiga estava sendo mesquinha. — E eu não queria que você fosse o último a saber.
— Com licença, Leona.
Ele passou por ela, que o agarrou pela camisa.
— Eu não quis te chatear, eu só...
Fiber soltou a mão dela e saiu da sala.
Fora direto com Aruana. Ela não deveria se encontrar com Felipe; estava muito claro que aquele macho a queria.
Saiu dos escritórios e rumou para o interior da colônia. Vários espécies falaram com ele, mas tudo em que pensava era em Aruana perto do macho. Não queria sequer que ela falasse com ele!
— Fiber! - ele ignorou a voz feminina e continuou andando. Suas mandíbulas doíam de tanto que as apertava. — Fiber!
Reconheceu a voz de Creek. Olhou por cima do ombro e a fêmea o alcançou.
— O que é?
— Eu vi Leona saindo do seu escritório. Ela estava chorando.
— Tenho que ir, Creek.
— Você brigou com ela?
— Não.
— Ela estava transtornada.
— Não quero falar disso agora. - se virou para ir embora.
— Tem a ver com Aruana? Eu vi Rain e Leona conversando.
Ele franziu a testa. Desde quando sua vida estava aberta à discussões?
— Não se meta nisso, Creek. Este assunto é só meu.
— Sou amiga de todos...
— Por isso tem que se meter? - perguntou, muito aborrecido.
Creek recuou, chateada.
— Estou tentando ajudar.
— Ouça, eu não tenho uma ligação com Leona.
— Ela achou que...
— Sei o que ela achou, mas não é verdade.
— Você é um macho muito sério, Fiber, e sei que não é irresponsável.
— É, não sou. Tenho que ir.
— Vai atrás da Aruana?
— Por que quer saber?
— Porque você também parece transtornado. O que Leona te disse?
— O que você tem a me dizer?
— Eu?
— Parece saber de tudo. Então, o que quer falar?
Creek deu um olhar ofendido.
— Não estou fazendo fofoca. Estou preocupada.
— Se está tão preocupada com Leona, volte para ela.
— Estou preocupada que Leona tenha falado algo sobre Aruana.
— Por quê?
— Porque Rain está muito enciumada.
Fiber perdeu a paciência.
— Depois nós poderemos conversar. Agora preciso ir.
— Me diga se vai atrás da Aruana.
— Vou. - Creek mordeu o lábio inferior. — Sabe onde ela está?
A fêmea pareceu estar decidindo.
— Pense no que vai fazer, Fiber.
— Onde ela está?
— Estava na plantação, mas já deve estar de volta.
Ele não ouviu mais. Virou-se e se dirigiu na direção da plantação.
— Fiber!
Começou a correr. Estava muito, muito zangado! Aruana o desobedecera! Pior, passara o dia com Felipe!
Imagens de Aruana sentada com Felipe na casa de Estela provocavam uma raiva surda. Logo imaginou-a passando horas na companhia dele! Rain estava muito enciumada; devia saber de alguma coisa!
Atravessou a colônia em alta velocidade.
Aruana já tivera amantes, ele imaginava, e devia preferir humanos. Por que ela iria querer mais dele do que sexo? Claro que não se uniria a um ser híbrido, ainda mais um tão sombrio como ele.
Viu que se aproximava da plantação.
Sentiu-se um idiota por ter pedido que ela fosse sua companheira. Uma mulher divertida e linda como ela não largaria sua vida na cidade para morar na floresta com um homem meio fera.
Chegou na plantação e diminuiu a velocidade. O que estava fazendo ali afinal? Discutiria com ela? Mataria Felipe?
Um sentimento duro pesava em seu peito. Por que não deixá-la fazer o que quisesse, ficar com quem desejava?
Parou de correr. Ele acreditou que ela poderia... amá-lo.
Olhou à distância e viu Felipe e New posando para Aruana, segurando vegetais. Ela ria, enquanto tirava as fotografias. Felipe se aproximou dela e estendeu as mãos para a câmera. Com as cabeças juntas, eles olhavam para o aparelho.
Raiva! A raiva o dominou novamente. Caminhou na direção deles.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora