Capítulo 22

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Fiber olhou mais uma vez para o relógio. Já passava das nove da noite e ele ainda participava de uma teleconferência com Justice, os conselheiros e os líderes das comunidades Nova Espécie.
Se esforçava ao máximo para se concentrar na reunião. Seus pensamentos, entretanto voavam na direção de Aruana.
Pedira para Creek acompanhá-la e contara que a encontraria logo, mas a teleconferência se prolongava, pois Justice pedira os relatórios sobre a população humana das Homelands e da Reserva. Fiber ficara bastante atento, pois na colônia brasileira havia trabalhadores diaristas, alguns trabalhadores que viviam na colônia e as companheiras.
Cedar, o diretor de Homeland III brincou com ele.
— Se incomoda, Fiber, se eu prolongar minhas férias?
— Não me faça isso.
Cedar riu.
Fique tranquilo. Voltarei no início da semana que vem.
Fiber riu, satisfeito. Talvez tivesse mais tempo com Aruana. Lembrou-se da tarde agradável que passara com ela; nunca se sentira tão à vontade com uma fêmea. Pensou no sexo com ela, em como seus corpos se encaixaram tão bem, a delícia que Aruana fizera com a boca... Um gemido escapou, fazendo-o voltar a prestar atenção na reunião.
— Algum problema, Fiber? - Justice perguntou.
— Não, não.
Já estamos encerrando a reunião. Esqueci da sua concussão.
— Não se preocupe comigo.
Certo. - Justice verificou seu tablet. — E como está com a repórter?
Fiber achou que todos perceberam seu sobressalto à menção de Aruana.
— Está tudo bem. Eu lhe mostrei o funcionamento da colônia.
Isso é bom. Estamos recebendo muito mais apoio depois dos eventos na França.
A reunião continuou por mais meia hora e ele teve que disfarçar sua insatisfação. Esperou Homeland I encerrar a ligação e tratou de se organizar para sair. Desligou o computador e, rapidamente, arrumou sua mesa. Queria se encontrar logo com Aruana.
Ouviu a porta se abrindo e levantou o rosto. Era Leona.
— Olá.
— Olá, Leona. Não sabia que ainda tinha alguém aqui.
Ela entrou na sala e fechou a porta, encostando-se nela.
— Eu estava esperando para falar com você. - Fiber permaneceu em silêncio. — Você está compartilhando sexo com a repórter? - perguntou diretamente.
Ele não gostou da intromissão da amiga, mas respondeu.
— Estou.
Leona respirou fundo e se afastou da porta.
— Eu pensei que éramos exclusivos.
— Como?
— Desde que começamos a compartilhar sexo, não estivemos com mais ninguém.
— Da minha parte, sim.
Aproximando-se dele, Leona estendeu as mãos.
— Por isso pensei que estávamos num relacionamento.
Fiber precisou se controlar para não torcer os lábios quando ela apoiou as mãos em seu peito.
— Eu não sabia que você queria um relacionamento.
— Eu quero. Por que acha que ficava com você depois que compartilhávamos sexo?
— Eu... não tinha pensado nisso.
— Agora já sabe.
A surpresa desconcertou Fiber. Leona era uma fêmea doce e gostava de passar tempo com ela. Nunca imaginou que ela gostasse dele de outro jeito.
Leona deslizou as mãos até seu pescoço e o abraçou.
— Quero me acasalar com você.
Ele ficou mudo, muito espantado com a declaração. Pouquíssimas fêmeas se acasalaram.
— Me desculpe, eu não sabia.
— O que importa é daqui para a frente. Posso me mudar hoje para a sua cabana.
Segurando os braços dela, Fiber os soltou de si gentilmente.
— Você é uma fêmea maravilhosa... - ela o olhou com decepção. — Mas eu não esperava isso.
Leona segurou suas mãos.
— Podemos ser um casal.
— Acho que não.
— Por quê? Sei que me acha atraente.
— Você é e é muito doce também.
Fiber deu um passo atrás, aumentando o espaço entre eles. Ficou triste por estar decepcionando sua amiga.
— Então, por quê? - ele não respondeu imediatamente e ela recuou também. — É a fêmea humana? Está enlouquecido por ela?
— Estou compartilhando sexo.
— E não suporta compartilhar com outra?
Fiber franziu o cenho. Ele não queria sequer ser tocado por outra fêmea. Pensou em Aruana esperando por ele e sentiu uma angústia verdadeira. Estava realmente enlouquecendo!
— Não sei o que estou sentindo.
Ela abriu a boca, surpresa. Balançou a cabeça .
— Você está acasalando com ela! Mas você... você a conhece há poucos dias!
— É como eu te disse: não sei o que está acontecendo.
— Quando... quando aconteceu?
— Não tenho que te contar.
Leona parecia transtornada.
— Eu gosto de você, Fiber. Estou apaixonada por você.
Surpreso, Fiber não respondeu. Era o sonho da maioria dos espécies ter uma companheira. Leona oferecia a ele uma vida de casal. Por um momento se vislumbrou compartilhando a vida com ela, usufruindo juntos da liberdade que ganharam... Contudo um rosto moreno surgiu no lugar do rosto de Leona.
— Você não vai dizer nada?
— Eu não sei o que dizer, Leona.
Então, num rompante, Leona socou o seu peito e silvou. Ele não reagiu e ela socou novamente.
— Você é uma vergonha para nós! Como pode trocar o amor de uma igual por uma trepada com uma humana? Você é como aqueles machos patéticos e suas mulherzinhas!
Ela soltou um grito e correu para a porta. Fiber ficou parado, chateado com a reação da fêmea. Sabia que podiam ser temperamentais, porém nunca tivera problemas com elas.
Balançou a cabeça, lamentando por sua amizade com Leona. Esperava que ela o perdoasse. Apagou as luzes do escritório e saiu. Na portaria do prédio um macho canino o observou, muito interessado.
— O que foi, Wolf?
— Felinas são muito temperamentais.
— Eu sei.
— Fique longe dessa até ela se acalmar um pouco.
— Agradeço pelo conselho.
Deixou o macho em sua vigilância e rumou para as cabanas. Estava uma noite fresca e ele caminhou rápido, pensando em Aruana. Ela ficaria e ele teria mais dias e noites com ela.
Até quando? - questionou, curioso por estar tão incomodado com aquilo.
Viu que a cabana de Creek estava às escuras, mas bateu na porta mesmo assim. Não houve resposta e ele imaginou que ela estava no Clube.
Chegou no Clube e ainda havia espécies jantando, mas Aruana não estava lá. Foi até o outro salão onde espécies e humanos conversavam, jogavam sinuca ou pingpong e outros desenvolviam jogos de tabuleiros. Foi até Sky, que contava histórias de Homeland e da Reserva para duas humanas fascinadas. O macho levantou os olhos quando o viu.
— Olá, Fiber.
— Viu Creek?
— Creek, é? - deu um sorrisinho malicioso.
— Você a viu?
— Eu a vi saindo com a companheira de Vengeance.
— Estava com a repórter?
— Ah, a repórter. A repórter  foi com elas...
— Certo. - virou-se para sair.
— O fazendeiro também.
Fiber estacou e olhou para Sky por cima do ombro.
— Qual fazendeiro?
— O Felipe.
Ele tornou a olhar Sky.
— O Felipe?
— Foi.
Fiber rosnou e saiu do salão. O interesse do rapaz por Aruana ficara muito claro e ele não gostou nada de saber que estava com ela. Rosnou novamente. Iria até a cabana de Vengeance e tiraria Aruana de lá. Ela não poderia reclamar, já que deixara muito claro que não a queria perto do engenheiro agrônomo.
Aproximou-se da cabana e ouviu vozes animadas. Antes de bater à porta, olhou pela janela. Aruana estava sentada no sofá com Creek e Peace estava em seu colo. O menino acariciava o rosto de Aruana, enquanto ela conversava com ele.
Peace passou os bracinhos pelo pescoço dela, abraçando-a. Aruana abaixou o rosto e começou a beijar o garotinho, que gargalhou.
Fiber ficou parado, admirando a cena. Ele amava crianças, as achava lindas e engraçadas, fossem espécies ou humanas, mas ver Aruana com a criança no colo despertou um sentimento diferente nele. Era como se sentisse saudades de algo que nunca tivera. Devia estar enlouquecendo mesmo!
De repente, Aruana levantou o rosto e o viu. Ela sorria, mas ao trocarem um olhar o sorriso aumentou e seus olhos brilharam.
Fiber piscou e sentiu um calor encher o seu peito. Não o reconheceu, mas sabia que era bom.
A porta se abriu e Vengeance apareceu.
— Fiber, o que faz aqui fora?
— Eu já iria bater na porta.
— Entre.
Fiber passou por Vengeance e entrou na sala.
— Tio Fiber! - Peace gritou, animado.
Fiber viu Felipe, pensou em rosnar para ele, mas Creek se levantou e Peace ergueu um bracinho para ele. Aruana sorriu de novo e ele sentou-se ao seu lado, abrindo os braços para receber o menininho.
— Oi. - disse Aruana baixinho.
— Oi.
Ele respondeu, enquanto Peace, sem soltar o pescoço de Aruana, o puxou. Seu rosto se colou ao de Aruana e os dois riram, enquanto Peace revezava beijando um e outro.
Fiber conteve um suspiro e relaxou o corpo, esquecido dos ciúmes. Aquele sentimento quente era muito, muito melhor.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora