Capítulo 27

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O dia de Aruana estava sendo esplendido. Encontrara com Felipe pela manhã e ele lhe apresentara o curso de agronomia básica. Explicara que os humanos que trabalhavam na plantação e nas criações eram da região e possuíam experiência; as Novas Espécies, porém estavam aprendendo com ele e dois técnicos.
Aruana ficara encantada que tantos Novas Espécies se interessassem pelo trabalho.
Mais tarde, Felipe a levara até os trabalhadores da pesca.
Almoçaram e voltaram. Felipe contara que um restaurante de um resort em Santa Rosa se interessara pelos vegetais e ovos orgânicos, iniciando um pequeno comércio com Homeland III.
Quando já tinha bastante material, Aruana decidira tirar mais fotos das pessoas envolvidas. Rira muito das mulheres Novas Espécies que se maquiaram para o momento.
Estar na região amazônica e ver de perto a natureza a fizera desejar ter sido criada com as tradições indígenas. Sentia-se de alguma maneira ligada àquela terra.
Seu coração estava alegre e sentia uma expectativa em relação àquele dia. Fiber logo estaria de volta e contaria para ele que ficaria mais um tempo com ali. Não sabia até quando, mas queria estar com ele.
Sorrindo, mostrou a Felipe as fotografias que batera dele e New; os dois mostravam vigor e orgulho pelos produtos da terra.
— Ficou ótimo, Aruana.
— Vocês são muito fotogênicos.
— A New, né? Eu pareço um homem das cavernas.
— Deixa eu ver. - a mulher pediu.
Felipe apoiou a mão no ombro de Aruana e deixou New ver a câmera. Ele passara todo o dia flertando com ela, mas não se importou. Levava o flerte na brincadeira e ignorava as tentativas dele em tocá-la.
De repente, ele ergueu a cabeça; Aruana o ouviu arfando e levantou a cabeça também. Felipe deu um passo para trás.
Aruana deu um sorriso ao ver Fiber se aproximando e seu coração deu um salto. Ele andava muito rápido e seus longos cabelos voavam sobre o seu rosto.
Aruana estranhou o rosto tão sério e sentiu um arrepio de apreensão. Ele não poderia estar zangado com ela, poderia?
— Eu acho que... - começou Felipe.
— Ei, Fiber! - New acenou para ele ao vê-lo se aproximar.
Aruana entreabriu os lábios quando ele lhe deu um olhar gelado. Fiber estendeu a mão e segurou seu braço.
— Você vem comigo. - ordenou com a voz cavernosa.
Aruana o olhou, espantada.
— O que foi?
Fiber a puxou e Felipe falou.
— Oi, Fiber. A gente estava...
Fiber rosnou, mostrando as presas para o rapaz.
— Afaste-se.
Felipe empalideceu e deu um salto para trás.
Aruana engoliu em seco reconhecendo a ira na voz do namorado.
— Fiber...
Ele a fitou com os olhos brilhando muito, mas não falou. Puxou-a e começou a se afastar.
— Ei! - ela agarrou o braço dele. — O que é isso?
— Fiber! - chamou New.
— Conversaremos em casa. - Fiber grunhiu.
— De jeito nenhum!- puxou o braço. — Quer parar?!
— Não.
Aruana fincou os pés no chão e ele se virou para ela.
— Já disse que conversaremos em casa.
— Não! - jogou o peso do corpo para trás. — Se quer falar comigo, fale agora!
Aruana viu New e Felipe se aproximarem. À distância, os trabalhadores começaram a prestar atenção neles.
— O que está acontecendo, Fiber? - a mulher perguntou.
— Fique fora disso, New.
— É que Aruana estava bem e você parece alterado.
Fiber rosnou novamente e Aruana notou que Felipe se esforçava para permanecer ali.
— Está tudo bem, New. - Aruana a tranquilizou.
— Se você precisar de... - Felipe começou, mas Fiber franziu as sobrancelhas para ele.
— Não seja dissimulado, macho. - Fiber fez um sinal com a cabeça. — Saia daqui.
— Olha...
Fiber soltou Aruana e se aproximou de Felipe tão rápido que o rapaz, ao recuar, deu um passo em falso e caiu no chão.
— Fiber! - Aruana gritou.
New pulou na frente de Fiber e abriu os braços.
— Ele é humano, não entende! - Fiber não tirou os olhos de Felipe. New continuou. — Vamos, Fiber... Olha como Aruana está assustada.
Fiber se virou para ela, o rosto transtornado. Aruana estava realmente assustada e lembrou-se de que nas suas pesquisas os Novas Espécies apareciam como pessoas sérias, mas voláteis. Seu coração batia forte, pois sabia que Fiber estava zangado por ela estar com Felipe.
Fiber apertou os punhos e se inclinou na direção de Felipe.
— Saia daqui agora.
Felipe se levantou e New se colocou ao seu lado.
— Vamos.
— E Aruana?
— Ela vai ficar bem. - olhou para Fiber. — Não é?
Fiber encarou Aruana por um longo momento e, sem se virar, falou para New.
— Ela vai ficar bem.
Felipe balançou a cabeça e Fiber deu um passo em sua direção.
— Não force.
Aruana teve que admirar a coragem do engenheiro agrônomo. Mesmo claramente assustado com o comportamento feroz de Fiber, ele demonstrava preocupação por ela.
New segurou a mão de Felipe e o puxou, afastando-se dos dois.
Fiber tornou a olhá-la. Aruana ergueu o queixo, torcendo para ele não perceber seu nervosismo.
— O que foi isso tudo? - perguntou, tentando controlar o tremor em seus lábios.
— Eu disse para você não vir.
— Eu estava trabalhando.
— Não era para chegar perto do Felipe.
— Isso é absurdo.
— Eu disse que não queria.
— Não sou uma criança desobediente e você não é o meu pai.
— Você me desobedeceu.
Aruana descansou as mãos na cintura.
— Já disse que você não é meu pai.
Fiber apertou os lábios e se aproximou mais. Aruana forçou-se a não sair correndo. Ela precisou erguer o rosto para olhá-lo.
— Você passou o dia com aquele macho cretino.
— E mais dezenas de pessoas.
— Ele estava tocando em você.
— Felipe só estava sendo amigável.
— Por isso a amante dele veio perguntar se nós dois somos exclusivos?
— Eu... eu não sei de nada disso.
Fiber segurou-a pelo quadril.
— Eu te disse para não vir. Você sentiu a falta dele?
— Que bobagem.
— Deixou ele te tocar o dia inteiro?
Aruana tentou se afastar.
— O que você está tentando dizer? Que eu fiquei com o Felipe?
— Ficou? - grunhiu.
Ela arfou, indignada pela pergunta. Empurrou-o, sem conseguir movê-lo.
— Me solte.
— Não.
— Fiber, esse show de masculinidade está me irritando!
Ele a apertou contra o seu corpo.
— Você gostou de ficar com Felipe?
— Olha, você está me ofendendo!
— Você o escolheria para ser seu marido? Ele combina mais com você.
— E se combinar?
— Você é minha.
— Eu não sou de ninguém! Pertenço a mim!
O rosto dele tornou-se assustador.
— Vai negar que se entregou para mim?
Aruana ferveu de raiva.
— Eu transei com você, não me tornei sua mulher.
Ele mostrou espanto.
— Sabe que sou seu.
— Eu não pedi nada disso!
Eu pedi para ser minha companheira.
— Eu passei uma semana com você, mal te conheço!
Fiber lhe deu um olhar magoado e a soltou. Aruana deu um passo atrás e respirou fundo. Não era possível que estivesse no meio de uma novela dramática! Mordeu o lábio inferior, recordando que há apenas poucos minutos estava ansiosa para dizer a ele que ficariam um tempo juntos. E ele a tratava como uma adolescente leviana!
— Você mal me conhece? - ele perguntou, os olhos amarelos estreitados.
— Sim.
— E não pediu para eu ser seu?
— Eu não pedi. - respondeu, incomodada com o olhar ressentido dele.
Fiber respirou fundo e enfiou as mãos nos bolsos.
— E o que aconteceu entre nós?
Os lábios dela tremeram.
— Foi... bom.
— Bom?
Ela se sentia encurralada. Sabia como se sentia por ele, mas não aceitaria que a tratasse com machismo. Admirou-o. Sua figura grande e escura se destacava na clara tarde. Só em olhá-lo ela se sentia faminta.
— Nós dois sabemos que foi bom. Até agora estávamos muito bem.
— Mas você não pediu para eu ser seu. - ele insistiu.
— Fiber...
— E é claro que jamais aceitaria ser minha companheira.
— Estamos passando um tempo juntos. - respondeu, se detestando por se afastar dele.
— E você não é minha.
— Fiber... Tudo isso por causa de ciúmes?
— Não é minha?
Ela engoliu em seco. Seu corpo e seu coração diziam que era dele, sim, porém sua razão alertava para o absurdo de se jogar num relacionamento possessivo.
— Eu sou uma mulher adulta e livre. O que nós estamos vivendo é maravilhoso, mas...
— Mas é livre para passar o dia com aquele macho sonso.
— Eu não vou ficar aqui ouvindo você bancar o macho alfa ofendido!
Fiber a encarou, encarou e encarou. Aruana sentiu o coração pesado, uma sensação enorme de decepção por estarem vivendo aquele momento.
— Então vá, Aruana. - ele falou com a voz estranhamente gentil.
— Vou mesmo!
Ele ficou em silêncio e ela teve a impressão que passara por um desastre de carro.
Fiber permaneceu imóvel, esperando pela reação dela. Aruana respirou fundo, deu as costas para ele e caminhou para o galpão na plantação. Cada passo era como uma aguilhoada no coração.
Quando chegou no galpão olhou para trás. Fiber não estava mais ali.
Engoliu em seco novamente, ergueu os ombros e entrou no galpão.

Me falem: já tiveram um homem inseguro e extremamente ciumento?

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora