Era véspera de Natal e Fiber entrou na sala das câmeras de segurança. Todo o perímetro de Homeland III era monitorado e havia equipes especiais para manter a vigilância vinte e quatro horas por dia. Viu uma lancha retornando para o cais.
— Quem autorizou a saída dessa lancha?
— Foi o Sky. - um espécie comentou.
— Como eu não soube disso?
— Não sei.
Fiber foi até a sala de reuniões e encontrou Sky já de saída.
— Sky, você autorizou a saída de uma lancha?
O macho levantou os olhos para ele.
— Creek tinha uma encomenda especial em Santa Rosa.
— Eu não sabia.
— Foi um pedido de emergência. Algum problema?
— Estou muito atento ao rio por causa dos garimpeiros.
— Não foi nada demais. Sabe como Creek fica empolgada com festas.
— Hum.
— Você não está de folga hoje?
— Não.
— Não vi o seu nome na escala.
— Estou dando um apoio.
— Os domingos sempre são tranquilos.
— Unhum.
Sky o encarou.
— Por que não vai para casa e descansa para a festa?
— Não vou à festa.
— O quê? E vai me perder de Papai Noel?
— Farei a patrulha na Zona Selvagem.
— Eles terão sua própria festa.
— Então ficarei com eles. - Sky o olhou apenas piscando os olhos. Fiber franziu as sobrancelhas. — O que foi?
— Amigo, precisa relaxar.
— Eu estou relaxado.
— Eu juro que não vi você parar de trabalhar desde ontem. Você dormiu esta noite?
— Não se preocupe. Eu estou bem.
— É sério. Você só trabalha.
— Gosto de trabalhar.
Sky deu-lhe um olhar cético.
— Se você diz... Mas apareça na festa. Peace e Órion vão gostar.
— Será que horas?
— Às dezessete horas, daqui a... Opa, trinta minutos. Tenho que ir. - Sky saiu da sala, mas voltou. — Papai Noel tem um presente para você.
— Ah, tá.
O macho deu um sorriso alegre e saiu.
Fiber pensou que seria bom ver a alegria das crianças espécies e das humanas que viviam na colônia.
Resolveu fazer hora na sala das câmeras. Não viu a encomenda de Creek, porque a lancha já aportara e tinha sido descarregada.
A meia hora passou rapidamente e ele foi para o Clube.
De fora do prédio ouvia a animação das crianças. Órion e Peace estavam misturados aos brasileirinhos pulando e gritando. Seus pais estavam ao redor, fingindo vigiar os filhos. Peace levantou os olhinhos e o viu; deu um gritinho e correu para ele. Órion, de apenas um ano e meio, o imitou.
Fiber se abaixou e Peace se jogou em seu colo. O menininho estava cada vez mais parecido com o pai. Todos os bebês espécies nasciam idênticos aos seus pais, com uma única exceção, Gift Wild parecia muito com o pai, Jaded, mas tinha a pele escura da mãe.
Órion agarrou a sua perna e Fiber o ergueu também.
— Estão muito pesados. - fingiu não aguentá-los.
— Eu não tô gordo! - retrucou Peace.
De repente uma sineta começou a tocar e o Ho ho ho do Papai Noel chegou até eles. As crianças se agitaram em seu colo e ele os colocou no chão.
Sky entrou pela porta todo paramentado de Bom Velhinho e as crianças gritaram tanto que os caninos presentes taparam os ouvidos.
Sky trazia um enorme saco vermelho e foi cercado pela criançada. Logo ele foi levado à uma poltrona ao lado de uma enorme árvore de Natal artificial. Quando Sky sentou, Creek acalmou as crianças para a entrega dos presentes.
O amigo apontou para ele, balançando a cabeça, porém Fiber não entendeu o sinal.
Um aroma muito conhecido chegou até ele e cheirou o ar, achando que estava imaginando coisas.
— Oi, Fiber...
Seu corpo se eletrificou. Olhou por cima dos ombros e arregalou os olhos. Aruana estava ali!
Virou-se e deu um passo para trás, sinceramente surpreso.
— Tudo bem? - ela perguntou baixinho.
Fiber estava chocado. Não podia acreditar que ela estava ali! Olhou-a de cima a baixo, como se precisasse ter certeza que era ela mesmo. Ela parecia mais magra e seu cabelo estava um pouco mais comprido e uma mecha caía sobre sua testa.
Fiber não ouvia mais a agitação das crianças; toda a sua atenção estava na mulher morena à sua frente.
— O que está fazendo aqui? - sua voz soou mais ríspida do que esperava.
— Vim ver você. - ela respondeu, sem se atemorizar.
— Era isso que queria dizer ontem?
— Não. - ela ergueu o queixo. — Creek me convidou.
— E vai ficar aqui?
Aruana deu um passo em sua direção.
— Eu vim pra te ver. - repetiu.
Fiber sentia seu rosto pegando fogo. Passara quase dois meses sofrendo por aquela mulher e ela aparecia ali do nada.
— Podia ter ligado.
— Você não quis conversar.
— Eu estava ocupado.
O olhar meigo dela o incomodou.
— Não está agora. Podemos conversar?
Ele sentiu a raiva borbulhando em sua mente. Quem ela era para aparecer ali de surpresa? O que queria?
— O que você quer?
O quase silêncio ao redor chamou a sua atenção. Ouvia-se apenas as vozes de Sky e da criancinha sentada em seu colo. Todos os adultos prestavam atenção neles.
— Podemos conversar em outro lugar?
— É outra reportagem?
— Não. Eu... quero conversar.
Ele recordou aqueles últimos meses e do quanto esperara que Aruana voltasse. Mas ela não voltara e ele se esforçara para esquecê-la. Olhou-a novamente.
Estava linda como sempre. A camiseta suada estava colada em seu corpo e o sutiã rendado permitia ver a forma dos seios cheios. Sentiu água na boca ao lembrar-se dos carinhos que fazia neles.
— Certo. Venha comigo.
Ele deu-lhe as costas e saiu do Clube, sem olhar para trás. Seja o que ela tivesse a dizer, ele estava com muita, muita má vontade de ouvir.Aruana deu um olhar para Creek. A mulher fez um sinal de positivo e ela saiu atrás de Fiber. Imaginou que a conversa não seria tão fácil como pensara. Na sua cabeça, esperara que ele abriria os braços quando a visse e seu reencontro seria maravilhoso. Mas agora, quase correndo atrás dele, não tinha mais tanta certeza.
Fiber se virou de repente e ela trombou com ele, que a segurou para que não caísse. Ele estava tão sério que o seu rosto a assustou.
— O que quer falar?
— Quer conversar aqui, no meio do caminho?
— Está quieto. - respondeu, largando-a.
Aruana respirou fundo.
— Eu vim de longe só para te ver.
— Está vendo.
— Fiber... O jeito que nos separamos...
— Você quis separar.
— Eu sei, mas eu estava muito confusa...
— Desfez do que eu sentia.
— Eu não quis... - ele franziu as sobrancelhas para ela. — Olha, eu estava com muito medo.
— De Leona?
— De tudo. Você queria um compromisso que eu não estava pronta para dar. - as narinas de Fiber dilataram e ela viu seu peito se movimentando, a respiração acelerada. O rosto transmitia a confusão que ele sentia. — Esses meses... Não foram fáceis para mim... Eu não consegui tirar você da minha mente. - ele permaneceu calado. — Ontem eu vi a reportagem e não aguentei de saudades.
O sol começava a se pôr enchendo a tarde com uma luz dourada. Insetos voavam ao redor deles e uma brisa morna trazia o cheiro da floresta. Aruana poderia escrever sobre aquela beleza, mas seu interesse agora estava no homem diante dela.
Fiber estava mais magro e trazia um olhar triste. Engoliu em seco por saber que era a causadora daquilo.
— Quando você vai embora? - ele perguntou olhando-a fixamente.
— Eu gostaria de conversar sobre isso.
— Não tem trabalho para fazer?
— Tenho, mas darei uma pausa nas festas.
Ele apertou os lábios. Mostrava dúvida nos olhos.
— E veio para conversar?
— Vim.
Ele deu um rosnado baixinho. Ergueu o queixo, como se estivesse sendo desafiado.
— Vamos para minha casa.
Aruana tentou disfarçar a alegria.
— Tudo bem.
Ele segurou seu braço e a puxou na direção das residências. Andaram em silêncio muito rápido e ela teve dificuldade em acompanhá-lo. De repente, ele a ergueu e a pegou no colo. Aruana deu um gritinho de surpresa, mas passou os braços por seu pescoço.
Fiber acelerou os passos e ela encostou o rosto no seu peito, aspirando o odor do qual sentira tanta falta.
Relaxou nos braços dele esperando que a conversa que teriam respondesse a todas as dúvidas de Fiber.
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Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...