Capítulo 52

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Aruana esperou do lado de fora enquanto Thainá atendia Fiber. Seu coração estava apertado, partido e não só porque ele tinha passado mal. Fiber se cansara dela!
Suas pernas estavam como gelatina e ela mal conseguia ficar em pé, magoada com as palavras dele. E o pior é que nem poderia culpá-lo por sua reação. Ela, de fato, forçara sua relação a um desgaste desnecessário.
Sua mente voltava ao dia anterior, mostrando o seu erro. Podia ter feito a reportagem sobre os garimpeiros sem se colocar em risco. Podia visitar a tribo mais tarde e tentar entrevistas com os indígenas. Podia ter procurado os garimpeiros na prisão. Podia, podia... Mas agira por impulso, sem pensar que era vista como uma companheira.
Fiber tinha razão; ela não se conformara ao que aceitara ao voltar para Homeland III. Decidira abrir mão da sua vida em São Paulo, ela quisera isso, porém trouxera São Paulo com ela.
Como fazê-lo acreditar nela? Como pedir mais uma chance de provar que o queria e aceitava ser verdadeiramente sua companheira?
Colocou as mãos no ventre. E agora? Fiber queria romper com ela... Como contaria sobre o bebê?
A doutora Thainá saiu da UTI. Aruana correu para ela.
— Como ele está?
— Fiber teve uma reação à medicação. Administrei um sedativo para fazer seu corpo descansar. Ele ficará bem.
— Graças a Deus! - ela respirou, aliviada. — Posso entrar?
— A enfermeira Sueli vai dar um banho nele agora. E Aruana... - Thainá a olhou de modo estranho. — Ele pediu para ficar sozinho.
— O quê? - o coração de Aruana deu um salto. — Como assim?
— Desculpe-me, mas Fiber não quer que você fique aqui.
O rosto de Aruana despencou. Ele não a queria lá?
— Até que horas?
— Ele não disse. Só me pediu isso.
Aruana queria não acreditar, entretanto ele fora bem firme com ela um pouco antes. Um buraco pareceu se abrir sob seus pés. As lágrimas voltaram aos seus olhos.
— Ele não me quer mais...
Thainá segurou seu braço.
— Ele está se sentindo mal. Alguns pacientes preferem ficar sozinhos quando estão com dor.
— Não. Ele disse... disse que não estava dando certo. Não me quer mais.
— Não deve ser isso. Blade me disse que Fiber te ama muito.
— Blade também disse que eu sou egocêntrica e faço Fiber sofrer?
A médica apertou os lábios e Aruana teve certeza que Blade já conversara com a namorada sobre aquilo. Thainá a puxou e a abraçou.
— Olha, vá para casa e descanse. Você passou a noite em claro.  - afastou-se e a olhou. — Você não contou sobre a gravidez, contou?
— Não.
— Então... Fiber ficará louco de alegria quando souber. - mas Aruana não pretendia contar. Se Fiber não a quisesse mais, não jogaria aquela questão sobre ele. — Vá descansar.
— Unhum...
Aruana saiu pelo corredor sentindo-se fraca de tristeza. Quando chegou do lado de fora a beleza do lugar a tocou. Homeland III era linda e mostrava o amor que as Novas Espécies depositaram nela. Quando voltara de São Paulo se imaginara vivendo ali, viajando a trabalho algumas vezes, mas agora via que voltara para Fiber, mas não estava preparada para abrir mão da sua vida.
Blade estava do lado de fora. Cumprimentou-o sem graça.
— Bom dia, Blade.
— Bom dia, Aruana. Serei sua escolta hoje.
— Onde está Firmness?
Blade franziu os lábios.
— Está chateada com você.  - Aruana entreabriu os lábios. — Cedar a recriminou por não ter te impedido ontem.
— Ah... - aquilo a puxou mais um pouquinho para o fundo do poço. — Eu entendo.
Abaixou a cabeça e caminhou para a vila. Alguns humanos a pararam para perguntar por Fiber, porém as Novas Espécies só falavam comBlade.
Chegaram à cabana e entraram. Blade colocou as mãos na cintura.
— Cedar pediu que eu cuidasse de você. Por favor, não saia sem mim.
— Eu não sairei.
— Ficarei aqui na cabana, está bem?
— Tá.
Aruana foi para o quarto e se deitou. Agora se tornara um estorvo para a ONE local! As Novas Espécies a estavam evitando; todos já deveriam saber que era a culpada por Fiber estar internado.
Afofou o travesseiro e descansou a cabeça, que agora estava muito cheia.
Há dois dias ligara para os pais e para a avó para dizer que estava muito bem. Só para Magda contara do atraso em sua menstruação. Queria conversar sobre aquilo com alguém, mas agora era persona non grata.  Será que alguma das companheiras estaria disponível para lhe fazer um pouco de companhia? Pegou o celular e ligou para Estela.
— Alô!
Oi, Aruana. Você está bem?
— Não. Estou precisando conversar.
Espere aí. - ela fez silêncio e logo em seguida Aruana ouviu o som de uma porta fechando. — Vim para fora. Pode falar, minha amiga
Então Aruana despejou tudo em cima dela. A intenção de Fiber, o tratamento das Novas Espécies, a confusão que sentia... Estela ouviu tudo pacientemente.
Você contou ao Fiber sobre o bebê?
— Não. Se ele quer terminar comigo, é um péssimo momento para falar.
— Ele precisa saber. As crianças são muito especiais para esse povo.
— Ele parecia tão firme quando disse que eu não me encaixava na vida dele... Como vou falar dessa criança?
Estela fez um barulhinho de preocupação.
— Como se sente sobre o bebê?
Eu não esperava por isso. Pensava que ser mãe não era para mim.
— Você não quer o bebê?
A surpresa estava explícita na voz de Estela.
— Eu nem sei o que pensar. Eu... nem consigo me imaginar sem o Fiber... Muito menos tendo um filho sem ele.
— Fiber não a deixará sozinha. Quando souber da sua gravidez ficará louco de alegria.
— E ficará forçado comigo, você quer dizer.
— Não pense assim. Fiber está ferido... Ele ficou mal quando você foi embora.
— Mas ele quer que eu vá embora agora.
Estela estalou a língua.
— Eu duvido muito! Ele deve estar com medo, em dúvida , mas quando se sentir melhor verá que não pode viver sem você.
— E se ele estiver certo? Se eu nunca me encaixar?
Isso só depende de você. Você quer mesmo ficar com ele?
— Eu não vou aguentar ficar sem ele.
Sua carreira não será mais a mesma vivendo aqui. Está pronta para abrir mão de oportunidades como a de ontem?
— Ah, Estela... Se eu pudesse voltar no tempo... Fiber ficou arrasado quando me viu.
— Em muitas outras ocasiões você terá que desistir de algo para não chatea-lo. Está pronta?'
Você se arrependeu de ficar com Vengeance?
Em alguns momentos sinto falta da vida que eu tinha... Mas não faria nada diferente. Escolheria Ven quantas vezes fosse necessário.
Aruana respirou fundo.
— Eu amo Fiber. Não quero magoa-lo nunca mais. E quero ter esse bebê com ele!
— Então vá lá e o faça ter confiança em você!
— E se ele não quiser?
—   Só se ele não te amasse. E, acredite, Aruana, ele te ama.
— Obrigada, Estela. Conversar com você... Obrigada.
— Seja muito feliz, Aruana. Você e Fiber receberam dois presentes da vida: o amor e o bebê.
Aruana riu.
— Meu Deus, eu vou ter um bebê!
Estela riu com ela.
— É isso aí. Você pisou na bola, é verdade, mas está com o jogo todo na sua frente.
Obrigada, amiga.
Quando Fiber melhorar, eu te darei todas as dicas sobre a gravidez. Se cuida. Qualquer coisa, me ligue. Tchau.
Eu ligarei. Tchau.
Aruana encerrou a ligação e ficou deitada no colchão, as mãos no ventre, colocando seus pensamentos em ordem. Fiber já lhe dera uma chance, teria que fazer por merecer a próxima.
Fechou os olhos e decidiu dormir um pouco. Tinha que estar bem para encontrá-lo.
Quando dormiu sonhou com sua avó com uma criancinha no colo. Era um bebê de pele escura e instigantes olhos de pantera.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora