Capítulo 21

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Aruana usou as horas que passara no escritório de Fiber para baixar suas fotos para o notebook e escrever um pouco. Ela tentava não olhar para o enorme Nova Espécie a cada minuto, mas não resistira a admirar o rosto tão diferente. Fiber era mais que humano e ela apreciava as maçãs do rosto que se destacavam com linhas duras, os cabelos que a lembrava os da sua avó Karajá e os olhos quase sobrenaturais.
Quando ele a olhava, ela sentia um arrepio gostoso, concluindo que era uma presa indefesa à masculinidade dele.
Quando ele ordenara que ela dormisse em sua cabana, Aruana chegara a resistir, porém após um beijo profundo e carícias quentes, ela amolecera e concordara. Ele a buscaria logo que terminasse o seu trabalho.
Agora saía do banho, pensando que procrastinara demais o telefonema para seu contato na revista Many Tribes. Sentou-se na cama, enrolada na toalha, e teclou o telefone dela. Explicou que ficaria mais alguns dias em Homeland III sem prejuízo para a data da entrega da reportagem.
Desligou e entrou no site da sua operadora de voo. Por um instante temeu estar tomando uma atitude equivocada; passaria aqueles dias com um homem-fera que acabara de conhecer! Lembrou-se que sempre seguia sua intuição e ela lhe dizia que aquela era uma experiência que valeria a pena viver.
Ouviu barulho na sala e, logo em seguida, uma batida na porta do quarto.
— Entre. - gritou, torcendo para que fosse mesmo Creek.
A linda Nova Espécie abriu a porta.
— Como foi o seu dia?
— Foi ótimo. Consegui um material rico para a reportagem.
Creek deu um sorrisinho.
— Fiber não a deixou um minuto, não é?
Aruana ergueu as sobrancelhas.
— Ele foi um bom guia.
— Ele está sendo muito simpático com você. - Creek pegou uma mecha do cabelo e começou a alisar.
— Tem sido, sim.
— Sabe, Fiber é da Mercille do Colorado.
— É? - perguntou sem entender a importância da declaração.
— Os machos do Colorado não gostam de humanos.
— Bom... Acho que ele gosta.
Creek deu uma risada.
— Ele gosta de bebês humanos. Você não é um bebê.
— É, nos damos bem.
— Leona disse que ele não responde às mensagens dela. E não quis mais ninguém na sua escolta.
— Creek, não me leve a mal, mas este assunto é pessoal.
— Claro que é.
— Então, eu não gostaria de conversar sobre isso.
— Ah, não ligue para isso. Somos uma família aqui. Fiber é tímido, mas é um macho normal, afinal. - Aruana pensou que não vira nenhuma timidez naquele homem. — Fiber gostar de você é uma novidade. - riu novamente. — Aquele macho sombrio e calado caidinho por uma humana!
Aruana franziu a testa, não havia mesmo privacidade na colônia.
— Creek...
— Pode deixar, não falarei mais. - segurou a maçaneta. — Fiber me mandou para te levar para jantar. Ele está muito ocupado.
— Tudo bem.
— Ele é muito atencioso mesmo com você.
Aruana revirou os olhos e esperou Creek fechar a porta. Terminou a alteração no seu voo e se vestiu; voaria dali há quatro dias. Escolheu uma camiseta e uma bermuda larguinha. Gostaria de ter roupas mais atraentes para se exibir para Fiber. Um sorriso se abriu em seu rosto; Fiber não parecera se preocupar com roupas.
Pegou uma câmera, saiu e encontrou Creek já de banho tomado.
— Creek, eu gostaria de ir na lavanderia.
— Agora?
— Amanhã.
— Não vai embora amanhã?
— Ficarei mais alguns dias.
Creek sorriu.
— Você também gostou do Fiber, não é?
Erguendo os ombros, Aruana evitou o assunto.
— Podemos jantar?
Creek riu.
— Vamos, sim.
No momento que Creek abriu a porta, Aruana lembrou de um assunto crítico.
— Creek... - a mulher a olhou e Aruana sentiu seu rosto pegar fogo. Pensou que daria todo combustível agora para as intromissões da mulher. — Fiber me convidou para ficar na cabana dele.
Creek guinchou, colocando as mãos sobre a boca.
— Eu sabia!
— Eu quero agradecer pela sua boa vontade em me hospedar.
— Claro, claro. - balançou a cabeça, divertida. — É sempre assim, as humanas não resistem aos nossos machos.
Aruana torceu os lábios, porém não refutou. Não resistira mesmo a Fiber.
Saíram e atravessaram a grande clareira à luz do crepúsculo até o Clube. Um cheiro muito bom vinha de lá. Creek ergueu o nariz.
— Estou sentindo cheiro de assado de capivara. Nós adoramos. Os selvagens devem ter trazido a caça.
— Quem, os indígenas? - perguntou, chocada com o termo usado pela Nova Espécie.
— Não, são os moradores da... - interrompeu-se e olhou para Aruana. — Alguns machos que caçam.
— Eles moram na floresta?
Creek lhe deu um olhar estranho antes de responder.
— Sim.
— Que bacana. Gostaria de ver aonde moram.
— Hum...
Chegaram no Clube e Creek mudou de assunto.
— Gosto desse primeiro horário do jantar, porque comemos junto com as crianças.
Aruana acompanhou o olhar de Creek para um lado do refeitório. Mulheres alimentavam crianças e ela notou Estela sentada com Peace que tinha um prato cheio à sua frente. Perto de Estela estavam as mães das duas outras criancinhas Novas Espécies.
Mais cedo Fiber lhe dissera que uma mulher era de Brasília e a outra uma jovem de Santa Rosa. Lamentou não poder fotografar as crianças.
Acenou para Estela e foi para a fila.
Não conseguia deixar de olhar para as crianças, todas de pele bronzeada e cabelos longos. Certamente as três puxaram aos pais na aparência.
Creek sentou-se ao lado de Estela.
— Boa noite, Aruana.
— Boa noite, Estela. Oi, Peace.
— Oi. Mamãe, é a namorada do tio Fiber!
— Peace! - Aruana ficou desconcertada. Estela
balançou o dedo para o menino. — Essa conversa é só para gente grande.
Creek riu alto e as crianças ao redor riram junto, mesmo sem saber o motivo.
— Desculpe, Aruana, ele deve ter ouvido eu e o pai conversarmos. Vengeance brincou que Fiber estava apaixonado por você.
— Eu te disse, Aruana... - disse Creek. —...somos uma grande família.
Aruana não queria ser desagradável, mas não conseguiu dizer nada que amenizasse o constrangimento de Estela.
Peace esticou a mão e cutucou Aruana com o dedinho.
— Tio Fiber nada comigo.
— É? Que legal.
O garotinho, que tinha olhos azuis eletrizantes, deu um sorriso.
— Quer me dar comida na boca?
— Peace! - Estela exclamou. Virou-se, muito sem graça, para Aruana. — Ele está muito mal acostumado.
— Eu posso dar. - interviu Creek.
O garotinho deu a volta na mesa e sentou-se ao lado de Creek.
— Peace, você está muito grande para receber comida na boca. - a mãe reclamou.
Peace puxou seu prato para o lado de Creeck. Estela balançou a cabeça.
— Além de ser falastrão igual ao pai, meu filho também é teimoso.
Peace só deu um sorriso e se virou para Creek que já levantava o garfo.
Aruana observou que as crianças eram adoradas pelos Novas Espécies. Começou a comer, tentando deixar Estela mais à vontade. Volta e meia um Nova Espécie vinha até as mesas das crianças, apenas passando a mão por suas cabeças ou as alimentando. Até as crianças humanas recebiam atenção.
Estela começou a perguntar sobre a reportagem e Aruana aproveitou o assunto para perguntar sobre os casamentos inter espécies.
— Você está casada há muito tempo?
— Quatro anos.
— Mas a colônia existe só há pouco mais de um ano.
— Eu me casei na Reserva.
— Ah, então vivia lá.
Estela deu um sorriso sonhador.
— Eu prestava serviço para a ONE quando Ven me pegou.
Creek e Estela riram e Aruana se sentiu de fora da piada.
— Pegou?
— É. Ele me viu e me pegou para ele.
— Não entendi.
Estela apertou os lábios para impedir a gargalhada, mas Creek riu livremente. Peace aproveitou para subir no colo da mulher.
— Vão me deixar sem entender? - Aruana reclamou.
Estela sorriu para ela.
— Vamos dizer que meu companheiro decidiu que seríamos um casal.
— Fácil assim?
— Fácil e rápido. Nos casamos em menos de duas semanas. Detalhe: eu estava grávida.
— Nossa! - Aruana ficou muito curiosa. — Com as outras mulheres foi assim também?
— Um drama aqui, um drama ali e somos mulheres muito felizes.
Aruana sorriu, porém sabia que havia muita história por trás dos casamentos.
Acasalamentos. - pensou, querendo saber mais.
Continuou o seu jantar, refletindo sobre as mulheres que haviam se envolvido com Novas Espécies. Elas teriam ficado tão encantadas quanto ela ficara? Desejou fazer uma reportagem com aquela mulheres. Quem sabe não entenderia melhor a sua entrega a Fiber!
Se os Novas Espécies ficavam loucos por mulheres humanas, Fiber estaria louco por ela também? Um arrepio a percorreu ao lembrar da presença marcante dele em sua vida.
Louca. Estou ficando louca...

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora