Depois do desjejum, Fiber levou Aruana até os escritórios. No construção de um andar estavam os escritórios da administração da colônia; ele substituía Cedar na direção geral naquela semana, mas realmente não gostava. Preferia ficar na segurança.
Cedar havia deixado sob sua responsabilidade receber a repórter e mostrar toda a estrutura de Homeland III. Optara por começar pela plantação.
Aruana visitou todos os setores da administração, desde o TI até a sala da segurança. Ela pareceu ficar impressionada com as muitas câmeras espalhadas pelo perímetro da colônia que era de mil e duzentos hectares.
— A segurança é bem grande.
— É o necessário.
— Vocês acham que poderiam ser atacados aqui?
— Fomos atacados em todas as nossas terras.
A mulher o olhou com interesse, enquanto iam para o seu escritório.
— Posso fazer uma pergunta pessoal?
Fiber franziu a testa, desconfiado. O que sua vida pessoal interessaria a ela?
— Pessoal?
— Sim. - encarou-a por um longo tempo e notou seu rosto avermelhar. — Pode não responder, se não quiser.
— Faça a pergunta.
Aruana passou a mão no cabelo curto e ele abriu a porta da sua sala.
— O senhor fez algum tipo de curso em Homeland?
Fiber não entendeu o interesse dela, mas resolveu responder, enquanto a deixava entrar.
— Podemos aprender o que quisermos.
— Aprendeu a ler e escrever quando estava aprisionado?
— Não, aprendi em Homeland.
— E quanto tempo tem isso?
— Seis anos.
— Fez curso de administração?
— Me ensinaram.
— Mas não foi um curso? Uma turma?
— Não.
— O que mais estudou?
— Por que quer saber?
— Para formar o seu perfil.
— Por quê?
— Para a reportagem.
Ele entendeu a intenção dela, só não tinha certeza de que ela não o estava enrolando.
— Aprendi tudo o que precisava.
— Como o quê?
— A usar computadores, armas, dirigir veículos, cozinhar. Estudei algumas línguas.
— E tudo em Homeland?
— Há treinamentos com professores humanos também.
— Em seis anos conseguiu a aprender tudo isso?
— É fácil.
Ela deu um suspiro engraçado e colocou a mão nos quadris.
— Ouvi teorias de que as Novas Espécies são superiores aos humanos.
Fiber balançou a cabeça.
— O que tem?
— São perfeitos?
— Não para humanos.
— Como assim?
Ele deu um passo para ela.
— Somos parte animal, guiados mais pelos instintos. Os humanos nos acham ferozes.
— O senhor não acha?
Fiber deu mais um passo e inclinou a cabeça para ela.
— Acho que não somos humanos e os humanos não devem esperar que sejamos perfeitos para eles.
Aruana deu um passo para trás.
— Vocês construíram sua sociedade com a ajuda humana...
— Sim.
— ... e estão se multiplicando e expandindo seus espaços.
Franzindo as sobrancelhas, Fiber parou de avançar .
— Sua reportagem falará sobre isso? É para prejudicar o meu povo com teorias da conspiração?
— Não, claro que não.
— Então por que fala sobre isso?
— Eu só estou... Estou construindo a reportagem.
— Sobre Homeland III?
— E as pessoas que vivem aqui. - ela mexeu em sua bolsa e pegou uma máquina fotográfica. — Quero falar da estrutura, mas também das forças que a movem.
Fiber refletiu na resposta dela. Outros haviam escrito sobre os espécies e muitos os desenharam como seres perigosos. Não entendia o interesse de Justice e Cedar naquela reportagem.
— Vou te mostrar Homeland, mas tenha cuidado com o que escreverá.
— Pretendo mostrar a realidade.
— Hum...
— Posso fotografar o seu escritório?
— É de Cedar.
— Mas posso?
— Sim. - respondeu de má vontade.
— O senhor pode sentar à mesa?
— Por quê?
— Para eu mostrar o seu trabalho. - mesmo contrariado, ele deu a volta na mesa e sentou. Aruana apontou a câmera em sua direção, porém logo ergueu a cabeça. — Que tal um sorriso?
— Por quê?
— Para causar uma boa impressão.
— Não.
Ela suspirou.
— Ok. - apontou a câmera e fotografou algumas vezes. Olhou para a telinha e olhou para ele. — Só um momento.
Aruana se aproximou dele e mexeu nos seus cabelos, ajeitando-os nos ombros.
— O que está fazendo?
— Com licença.
Ela enfiou a mão no seu colarinho e puxou seu colar. Fiber segurou sua mão e mostrou as presas.
— O que está fazendo? - repetiu.
Arregalando os olhos, Aruana perdeu o equilíbrio e caiu em cima dele, agarrando sua camisa. Fiber girou a cadeira e a segurou, sentando-a em seu colo. Ela empalideceu quando seus rostos ficaram muito próximos.
— M-me desculpe! Eu só queria...
Ele sentiu o cheiro dela e suas narinas dilataram, capturando-o melhor. Ela não usava perfume e Fiber sentiu apenas o cheiro de sua pele e das roupas. Segurava-a pelo quadril e pelas costas.
— Senhor Fiber... - ela tentou se erguer, entretanto ele não a soltou.
Fiber abaixou o rosto e aspirou o aroma que vinha do pescoço moreno. Era quente, gostoso. Puxando o ar pela boca, ele sentiu seu coração acelerar e uma vibração no pênis revelou o seu desejo.
— Senhor Fiber! - ele piscou rapidamente e a deixou se levantar. Aruana se afastou e a câmera tremia em sua mão; ela engoliu em seco. — Acho que o senhor está confundindo as coisas. Estou aqui como repórter e...
Fiber se levantou e ela arfou, olhando-o com espanto.
— Você me tocou.
— Eu estava te arrumando.
— Tocou em mim.
— Não quis ofendê-lo. Eu estava...
Fiber tentava controlar seu instinto. Falhara na noite anterior, porém dessa vez a culpa não era sua. Aruana ergueu o queixo para ele, que achou o rosto redondo adorável.
— Olha, não foi nada demais! Ontem, o senhor me tocou e eu... Bem, eu me ofendi, mas não criei caso.
Ele não estava ofendido, só abalado. Desde o dia anterior não tirava aquela mulher da cabeça e não entendia o motivo.
— Eu não estou ofendido.
Ele viu o rosto dela mostrar várias emoções. Primeiro espanto, depois ofensa e, por último, surpresa. Mas não medo.
— Não deveria estar mesmo. É normal o fotógrafo ajeitar o fotografado.
— Certo. - ele deu um passo em sua direção.
— Mas o que o senhor fez ontem foi claramente assédio.
— Foi. - deu outro passo.
— Eu poderia dar queixa, mas prefiro acreditar que não acontecerá mais.
— Não?
— Não. E assim poderemos agir profissionalmente.
— Não sou profissional.
Fiber a viu se encostar na porta e deu mais um passo, quase a tocando. Ela levantou o rosto para olhá-lo.
— E está fazendo de novo! Pode se afastar?
Ele podia, mas não queria. Pela sua mente passou que seus instintos animais estavam muito aflorados e deveria se controlar, mas o aroma dela era muito bom.
— Senhor Fiber, por favor.
Fiber inspirou profundamente e salivou com o sabor que veio em sua língua. Fechou os olhos. Tinha que se controlar. Respirou fundo e se afastou.
— Você cheira muito bem.
— O quê?
Fiber foi até a janela e olhou para a floresta que começava logo à frente. Sabia que havia algo errado com seu comportamento. Era um macho experiente, tivera muitas fêmeas desde que saíra de Mercille, então não conseguia entender aquele desejo súbito.
— Me ensinaram que não devo agir instintivamente com humanas. - virou-se para ela. — Então, me desculpo com você.
Aruana o olhou com desconfiança.
— São seus instintos?
— São.
— Ontem agiu por instinto?
— Sim.
— E agora também?
— Eu sou assim.
— Corro perigo com o senhor?
Ele queria dizer que não, que nunca a forçaria a nada, contudo a lembrança de que Vengeance sequestrara Estela surgiu. Ele não era instável como Ven e sempre se achara um macho controlado, entretanto agora estava em dúvida.
— Corre.
Ela abriu a boca, surpreendida.
— O senhor... o senhor está dizendo que... Não, não pode estar. - ela guardou a máquina na bolsa. — Li que os homens Novas Espécies foram acusados no início de sequestrarem mulheres e... e as forçarem. - encarou-o. — Isso nunca foi provado.
— Não.
— Mas é verdade?
Fiber torceu os lábios, sabendo que se ela soubesse tudo sobre o seu povo, não se sentiria segura ali.
— Não irei estupra-la, se é essa a sua preocupação.
—Posso ficar tranquila em Homeland?
— Nenhum macho a ferirá.
— Não haverá mais episódios de... assédio?
Fiber não faria promessas àquela mulher.
— Quer encerrar a sua reportagem?
— Não!
— Pode ir embora, se quiser.
— Não, eu só quero me sentir segura.
Para uma mulher que ele poderia dominar com facilidade, ela mostrava ser muito valente.
— Eu darei toda a colaboração para o seu trabalho.
Aruana mexeu na correia da bolsa e pareceu refletir. Ela bateu uma mão na bolsa e falou:
— Quero fazer minha reportagem.
Fiber conteve um suspiro. Seria tão mais fácil se ela fosse embora...
— Bom. Tire as suas fotografias e iremos para a plantação.
Ela apenas piscou e ele abriu a porta.
Aquela era uma boa hora para o seu lado humano estar no controle...
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Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...