Capítulo 51

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Aruana ficou com Fiber na UTI. Era um cômodo amplo, com quatro leitos. Ela não se admirou com o cuidado da ONE com seu centro médico. Os Novas Espécies além de viverem sob risco de ataques, eram propensos a se machucarem muito.
O doutor Bishop passara para ela as últimas informações sobre o estado de Fiber. As balas haviam sido retiradas e o pulmão direito estava estabilizado. Tudo dependia da reação de Fiber nas próximas vinte e quatro horas.
Ele lhe explicara que havia drogas especiais que aceleravam a cura nas Novas Espécies e esperava que o pulmão de Fiber começasse a curar logo.
Ela ouvira tudo, porém seu coração estava muito apertado. O simples pensamento de que podia perde-lo a enlouquecia.
Repassava em sua mente cada passo da sua rebelião. Pensou em todos os momentos que poderia ter desistido da aventura; seu orgulho, no entanto falara mais alto.
Admirou seu homem na cama. Estava nu e um dreno saia da lateral do seu peito. Os curativos escondiam os locais da cirurgia, mas ela sabia que a operação fora muito delicada. Acariciou os cabelos que estavam jogados todos para o lado esquerdo e cobriam seu ombro. Graças a Deus o tubo respiratório fora retirado depois de algumas horas.
Mesmo pálido, seu rosto mostrava força. Ela acariciou as maçãs altas e imaginou que seu filho também as teria.
Seu filho!
A possibilidade de perder Fiber a assustara tanto que precisara saber se tinha um pouco dele dentro de si. Explicara à doutora Thainá que haviam feito sexo sem proteção no dia que chegara.
A doutora Thainá lhe explicara que a gravidez de um bebê Nova Espécie era atípica. Em poucos dias o resultado do teste dava positivo e a gestação era bastante acelerada. Colhera um pouco do seu sangue e levara para o laboratório. Em menos de trinta minutos o resultado saíra.
Quando Thainá aparecera, Aruana estava sentada com Creek. Na sala de espera ficaram Sky e Wolf. Sky lhe dava olhares compassivos, mas Wolf parecia julga-la e ela sabia que merecia aquele julgamento.
Ao decidir voltar para Homeland III, Creek a alertara pelo jeito que havia tratado Fiber. Ela voltara e conseguira fazer pior!
Não se levantara quando Thainá a chamou. Dissera que podia falar na frente de todos. Então a médica lhe dera o resultado: estava grávida de três semanas. Naquele momento Aruana vira um fenômeno acontecer. Wolf e Sky se aproximaram dela e se postaram um de cada lado do sofá. Wolf ligara para Cedar e o homem aparecera em minutos. Fora como se sua gravidez fosse um acontecimento de todos.
Thainá imediatamente a levara para dentro da clínica para fazer uma ultrassonografia e Aruana vira seu filho e de Fiber pela primeira vez.
Naquele momento, na UTI, ela segurava o exame na mão. Olhava para a manchinha que era o seu bebê. Não se imaginara sendo mãe, mas também nunca pensara que fosse amar um homem tão violentamente como amava Fiber.
Olhou para o rosto amado. Por sua culpa seu filho quase perdera o pai.
Acariciou-o, perdida em sentimentos que nunca tivera.
De repente, as pálpebras dele se mexeram e ela ficou em pé. Estava acordando?
— Acorde, meu amor... Acorde para nós...

Ele tomou consciência de uma dor muito forte no peito. Parecia que uma faca incandescente fora enfiada na sua carne. Seu primeiro pensamento era que estava de volta em Mercile e eles o estavam torturando.
Seu coração acelerou e entrou em pânico. Não podia ser, ele estava livre!
— Meu amor... - ouviu uma voz,  era conhecida e ele se apegou ao som. — Estamos aqui e precisamos de você...
Aruana... - pensou. — Então não estou em Mercile...
Estava tão escuro e frio ali! Mexeu as mãos e sentiu que seus pulsos estavam presos. Por quê? Devagar, lembrou-se do tiroteio na aldeia Jaminawa. Tinha sido baleado!
— Fiber... Amor... Acorde.
Ele queria abrir os olhos, porém suas pálpebras estavam muito pesadas.
Sentiu uma carícia no rosto e ele sentiu um calor subir do seu peito. O toque de Aruana terminou de tranquiliza-lo. Respirou pausadamente, forçando o coração a diminuir o ritmo.
Ela beijou sua testa e ele tentou abrir os olhos novamente, conseguindo dessa vez. Estava num quarto muito branco e a luz incomodou seus olhos.
— Oi, amor. - as mãos dela acariciaram o seu rosto e ela sorria.
Parecia muito cansada e seus olhos estavam inchados.
— Oi. - sua garganta estava muito seca. — Você... está bem?
Aruana riu.
— Eu é que tenho que perguntar! - deu um beijo em sua boca. — Graças a Deus você acordou!
— Hum...
— Como está se sentindo?
— Foi uma bala só?
Os lábios dela estremeceram.
— Foram duas... - lágrimas encheram os olhos de Aruana. — Eu sinto muito, foi minha culpa.
— Você não atirou em mim.
— Você me deu o colete.
Fiber fechou os olhos, cansado.
— Você é minha para proteger. - declarou, mas abriu os olhos em seguida, franzindo a testa.
Ela era dele mesmo? Não respeitara sua vontade e arriscara a própria vida. Observou seu rosto. Aruana estava abatida, lágrimas corriam por seu rosto.
— Se eu tivesse sido correta com você nada disso teria acontecido.
Ele respirou fundo.
— Sim.
— Me perdoe, amor. Eu juro, juro, que nunca mais serei egoísta assim.
Fiber não tinha certeza. Aruana o amava, acreditava, porém não havia sido feita para ser uma companheira.
— Depois... depois conversaremos. - falou, sentindo os olhos fecharem novamente.
Quando acordou, ela não estava lá. A doutora Thainá o olhava.
— Bom dia, Fiber.
— Bom dia. - cumprimentou com a voz muito rouca.
— Como se sente?
— Cansado. O peito dói.
— Acabei de ver seus exames. A medicação parece milagrosa.
— Posso ir para casa?
A doutora Thainá riu.
— Não tenha pressa. Amanhã você irá para a enfermaria.
Ele torceu os lábios.
— Por que estou preso?
— Porque estava se debatendo muito e estava afetando a cirurgia. Vou te soltar.
— Hum...
— Na enfermaria poderá receber visitas. - falou, soltando as amarras.
— Onde está Aruana?
— Eu a mandei para casa, mas ela disse que vai só tomar um banho e trocar de roupas.
Fiber sentia a falta da sua mulher. Se é que podia considerá-la assim. A mágoa com ela retornou.
— O que foi? - perguntou Thainá, encarando-o. — A dor aumentou?
— Não.
— Se aumentar, posso aumentar os analgésicos.
— Estou bem.
— Você é um Nova Espécie, mas não é indestrutível.
Depois que a enfermeira do dia entrou, a médica lhe passou algumas informações e se retirou.
— Vou lhe dar um banho agora, Fiber. - disse a enfermeira.
— O quê? Não.
Ela sorriu. Sueli era uma senhora muito simpática, contudo não a queria tocando-o.
— Não seja tímido. Já banhei mais homens do que posso contar.
— Não vai me dar banho.
— Prefere outra pessoa? O plantão do Josivaldo foi ontem e o Sunset só pega à noite.
— Não quero ninguém me dando banho.
— Você não foi limpo desde a cirurgia.
— Não.
A boa senhora riu.
— Um homem do seu tamanho com vergonha de uma velha!
— Já disse que não.
— Veremos.
Ele rosnou, entretanto ela não se abalou. Neste momento Aruana entrou na UTI. Sueli a olhou.
— Ah, desculpe. Estou atrapalhando?
— Eu vou dar um banho nele.
Outro rosnado. Aruana ergueu as sobrancelhas.
— A senhora quer que eu espere lá fora?
— Ela não vai me dar banho.
A enfermeira sorriu para Aruana.
— Vou falar com a doutora Thainá. Talvez o Sunset venha.
Sueli saiu da sala de UTI e Aruana encostou em seu leito. Segurou o rosto dele e beijou seus lábios.
— Acho que eu mesma te darei esse banho.
Fiber a admirou. Seu peito sempre parecia aquecer quando ela estava perto. Tinha tomado banho e parecia mais disposta. Ele aspirou seu aroma. Desde que ela se mudara para sua cabana, Aruana não usava nenhum produto com cheiro forte, pois sabia que ele amava o odor natural da sua pele.
Vê-la lhe causou um aperto no coração. Por que ela precisava ser tão difícil? Ela dizia amá-lo, porém ele não era sua prioridade.
— Não precisa me banhar.
— Mas eu posso. - beijou novamente sua boca. — Já está na hora de eu começar a cuidar de você.
— Talvez não seja para cuidar.
— Oi?
Ele não queria magoá-la, mas pensara muito sobre aquilo.
— Talvez você não seja para ser minha companheira.
Ela o olhou com espanto.
— O que é isso, Fiber?
— Não posso mudar quem eu sou, nem a vida que levo. Você não se encaixa.
— O quê?
Ele sentiu um bolo na garganta. Engoliu antes de continuar.
— Não aguento mais ser menos para você do que é para mim.
— O quê? Não. Eu te amo.
— Aruana...
— Fiz besteira, eu sei, mas eu deixei tudo para ficar com você.
— Veio para ficar comigo, mas não se conforma com a vida que posso te dar.
— Não, Fiber. Eu continuei tendo trabalho, talvez eu possa fazer a reportagem para a Marie Claire.
— E quando aparecer algo como ontem?
Ela ficou muito vermelha.
Fiber ergueu a cabeça e os locais da cirurgia doeram mais. Ele tornou a recostar a cabeça no travesseiro.
— Você quer ficar comigo... só não consegue.
— Não diga isso... - Aruana se inclinou sobre ele. — Eu vou mudar.
— Não. - Fiber se mexeu, incomodado com o peito.— Não vai dar certo.
Ela piscou rapidamente, os olhos brilhando muito com as lágrimas.
— Você... está terminando comigo?
— Eu te amo. Te amo demais, Aruana. Mas quero tudo de você. Preciso de tudo.
— Eu posso te dar! Eu sei que posso!
Fiber deu-lhe um olhar triste.
— Você prometeu antes. - sentiu uma fisgada no peito. —Não posso te forçar a querer viver como eu vivo.
— Eu posso!
— Não, por favor. - fechou os olhos, sentindo muita dor. — Eu não aguento mais.
— Fiber...
Ele colocou a mão sobre o peito.
— Por favor... Chame a doutora Thainá.
— O que foi?
— Só chame.
Ela arregalou os olhos, se virou e saiu correndo.
Sentindo-se realmente mal, Fiber ainda concluiu que não havia dor maior do que abrir mão de Aruana.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora