Aruana caminhava por uma trilha no meio da floresta que os levaria até a plantação de Homeland III. Estava com a máquina na mão e fotografava tudo o que chamava sua atenção: pássaros coloridos, macaquinhos barulhentos, grandes borboletas e árvores vistosas. New lhe prometera que um homem chamado Life lhe diria o nome de cada espécie.
A distração no caminho estava sendo muito bom para seus sentimentos. Saíra do escritório de Fiber com as pernas tremendo e o coração aos pulos. Nunca vira um homem ser brutalmente sincero como ele. Não tentara negar que a assediara, não prometera que não faria novamente e suas desculpas foram sem convicção nenhuma.
Como agir diante desse comportamento?
Suas vivências com homens não a prepararam para um que agia instintivamente. Deveria abandonar a reportagem, voltar para São Paulo? Estaria se arriscando a ter experiências desagradáveis?
Observou o homem que caminhava ao seu lado. Era grande, parecia ameaçador e não lhe passava segurança nenhuma. Não que achasse que ele não a protegeria de animais perigosos, mas a protegeria dele mesmo?
Lembrou da sensação das suas coxas nas dele; ele era tão quente... Balançou a cabeça. Não podia aceitar as atitudes daquele homem, fosse meio animal ou não!
A trilha se abriu numa clareira cercada por árvores menos robustas. A plantação das Novas Espécies não era padrão, mas se espalhava entre a vegetação nativa e Aruana não conseguia ver até onde ia. Verduras comuns cresciam entre outras plantas e ela viu o caule de vários tubérculos, além de legumes e frutas que cresciam em trepadeiras nas árvores.
— Que interessante!
— É a agrofloresta. - falou New, animada. — Nós interferimos o menos possível na vegetação nativa.
Homens e mulheres trabalhavam na plantação e a maioria era Nova Espécie. Conversas podiam ser ouvidas e todos pareciam realizar as tarefas sem esforço.
Aruana disparou a câmera para todos os lados, encantada.
New gritou um nome e um homem surgiu do meio de arbustos. Ele caminhou para eles; não era Nova Espécie. O homem era pardo e seus cabelos caiam em dreadlocks clareados pelo sol. Ele tirou os óculos escuros e sorriu para ela.
— Arauana, este é nosso engenheiro agrônomo, Felipe.
— Oi, Felipe.- ela estendeu a mão e ele a segurou.
— Oi, Aruana. Bem vinda ao paraíso.
Aruana o achou muito charmoso.
— Estamos no paraíso?
Ele ergueu os braços, apontando para os lados.
— Estamos, sim.
New puxou um dread do rapaz.
— Mostre para Aruana, porque você é um gênio da agricultura.
Felipe levou Aruana através da plantação, explicando as práticas de desenvolvimento da área. Fiber não saiu do lado dela nem um momento.
Depois de muitas perguntas e fotografias, Aruana acompanhou Felipe de volta para a vila. O rapaz queria lhe mostrar o criadouro de animais.
— Você vai achar muito interessante. Os animais ficam livres na área, mas todos possuem galpões para passar a noite. E graças aos patrulheiros os predadores ficam longe.
— O criadouro é patrulhado?
— Ah, não, mas por onde passam os patrulheiros, eles assustam os animais. - olhou para Fiber. — Sem ofensas.
— Não me ofendi. - Fiber disse.
Chegaram no local do criadouro. Era um espaço amplo com um pasto onde passeavam duas vacas, vários cordeiros e muitas galinhas e patos; mais à frente, uma área alagada abrigava vários porcos.
— A carne de boi vem de fora, mas todo o restante é das nossas terras. - Aruana admirou o entusiasmo do rapaz. Ele segurou seu braço. — Venha ver os leitõezinhos.
Aruana seguiu Felipe e, quando chegava perto, sentiu uma mão em seu ombro. Parou, fazendo Felipe parar também.
— O que foi?
— Ande perto de mim.
— Eu só vou ver os leitõezinhos.
— Eu vou junto.
Ela apertou os lábios e não respondeu.
—Então, vamos.
Fiber começou a caminhar e ela o acompanhou. Felipe ergueu as sobrancelhas para ela e também não fez comentários.
Chegaram no galpão e Felipe foi até um cercado onde uma porca enorme amamentava cerca de uma dúzia de leitõezinhos.
— Que lindos!
— E com criação cem por cento orgânica.
Fiber se abaixou e acariciou um animalzinho. Aruana lembrou dele com Peace. Aparentemente o grandalhão gostava de filhotes. Felipe a olhou.
— Quanto tempo ficará aqui?
— Alguns dias.
— Quer conhecer minha maternidade?
— Maternidade?
— Desenvolvo plantas mais resistentes às pragas. A ONE subsidia minhas pesquisas.
— Vou adorar conhecer sua maternidade.
Ele deu um sorriso e se aproximou dela. Fiber se ergueu de repente e Felipe deu um salto para trás.
— Ei!
Fiber olhou o rapaz de cima.
— Acabou a apresentação?
— Bem... Sim.
Fiber segurou o braço de Aruana.
— É hora do almoço.
— Mas ainda é cedo!
— Eu almoço cedo.
Ela o observou. Estava tão sério...
— Posso ficar com New.
— Não. Eu sou sua escolta.
— Acho que não corro nenhum perigo.
Ele estreitou os olhos e inclinou a cabeça para ela.
— Venha comigo.
Algo na voz dele a fez se arrepiar. Os olhos pareciam de vidro na luz do sol e ela ficou incomodada.
Discutiria com ele, porém foi Felipe quem resolveu a questão.
— Olha, eu tenho que voltar para a plantação. Vou organizar o meu trabalho para te mostrar a maternidade hoje à tarde.
— Ótimo.
Fiber encarou Felipe e ele enfiou as mãos nos bolsos da bermuda.
— Bem, então eu vou andando. Tchau, Aruana. Tchau, Fiber.
— Até mais tarde, Felipe.
Fiber segurou o braço de Aruana, deu um leve puxão e ela se deixou levar na direção da vila.
Atravessaram o pasto e Aruana puxou o braço.
— O senhor anda muito rápido!
Ele desacelerou os passos.
— Desculpe.
— É pressa para ir almoçar?
— Não estou com fome.
— O quê? - ela parou. — Disse que era hora do seu almoço!
— E é, mas não almoçarei agora. Irei no segundo horário.
— Então, por que disse que almoçaria?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Já era hora.
— De acabar com a visita?
— Não quer conhecer mais de Homeland III?
— Quero, claro.
— Vou levá-la ao ginásio.
— Tem um ginásio aqui?
— Tem, vamos.
Ela o acompanhou de volta. Agora havia um grande movimento, com Novas Espécies e humanos transitando de um lugar para outro. Eles ultrapassaram o prédio dos escritórios e Aruana viu um prédio alto e colorido. Conseguia ouvir muitas vozes e gritos.
Entraram por um portão largo e Aruana abriu a boca ao ver cerca de duas dezenas de Novas Espécies se exercitando. Alguns usavam aparelhos pesados, dois subiam em cordas e vários lutavam agressivamente, sendo observados por humanos, cuja maioria era feminina.
Aruana disfarçou um sorrisinho ao ver os homens musculosos, sem camisas e suados. Era uma visão impressionante!
Fiber a olhou.
— Quer fazer perguntas?
— Quero. As outras pessoas não treinam?
— Os humanos?
— Bem... sim.
— Os humanos não treinam com os espécies.
— Por quê? São proibidos? - os lábios dele se retorceram e ela pensou que ele estava impedindo um sorriso. Continuou olhando para ele. — Tem um motivo?
— Humanos podem treinar juntos. Só não querem.
Ela deu-lhe um olhar cauteloso.
— Têm medo de serem feridos?
— Não ferimos ninguém.
— Mas pode ser medo...
Fiber a encarou.
— Humanos não gostam de ver que são fracos perto de nós. São medíocres.
Aruana ergueu as sobrancelhas.
— Está falando sério?
— Olhe ao redor. Suas fêmeas sabem da diferença .
— Ah! E as mulheres não resistem aos seus músculos?
— Não.
— Oras!
— Mulheres humanas amam os espécies.
— Nem toda humana, com certeza.
Fiber se virou para ela e Aruana olhou para cima. Ele parecia uma montanha.
— Você não, suponho.
Ela abriu a boca para dizer que não era uma daquelas mulheres, mas um homem surgiu ao lado deles.
— Ei, Fiber! Finalmente aparece aqui.
— Estou muito ocupado.
Aruana reconheceu o homem do dia anterior, só não lembrava o nome.
— Está evitando lutar? Está fora de forma mesmo.
— Estou ocupado. - olhou para ela. — Estou mostrando o ginásio.
O outro Nova Espécie sorriu para ela.
— Vai escrever sobre Fiber?
— Pretendo.
— Então escreva que ele está fugindo de uma luta comigo.
— Não estou fugindo, Blade. Hoje estou acompanhando nossa visitante.
Aruana achou engraçado o constrangimento dele. Deu um sorriso para Blade.
— Eu não me importo de esperar um pouco.
Fiber deu um olhar feio para Aruana.
— Ótimo. - exclamou Blade. — Vamos lutar.
Para surpresa de Aruana, Fiber a segurou pelo braço, levou-a até a arquibancada e fez com que sentasse. Ele puxou a blusa pela cabeça e jogou para ela. Aruana abriu a boca quando viu os músculos peitorais e o abdômen trincado, que só vira em imagens. Fiber tirou as botas e as meias e se inclinou para ela.
— Quer me ver lutar? Então verá.
Ele deu-lhe as costas e Aruana respirou pela boca admirando-as. Seus olhos fixaram-se na bunda e, sem perceber, passou a língua nos lábios. Pegou rapidamente a câmera.
Aquele seria um espetáculo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...