Capítulo 25

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Vestindo-se na penumbra do fim da madrugada, Fiber admirava Aruana. Ela dormia toda encolhida, em posição fetal com as mãos em punho contra a boca; parecia que estava se protegendo contra algum perigo noturno.
Conversaram até tarde e fizeram amor antes de dormir, mas ele ainda achava muito pouco.
Sairia dali a instantes com mais três espécies preparados para buscar Cedar no aeroporto internacional de Rio Branco. O conselheiro vinha com uma escolta de quatro, mas era protocolo da ONE reforçar a escolta quando transitavam no mundo humano.
Não queria deixar Aruana, porém sua responsabilidade com seu superior direto deveria ser cumprida.
Vestiu a camisa sobre o colete à prova de balas, pegou o coldre e o prendeu no peito e no tornozelo prendeu uma faca de caça. Nenhum cuidado era o bastante quando andava entre humanos. A presença da ONE era muito recente no Brasil e nunca tiveram problemas de segurança, entretanto estavam preparados para qualquer imprevisto.
Foi até a cama e se inclinou sobre ela. Inspirou profundamente, apreciando o aroma que vinha da sua pele; simplesmente estava viciado naquele cheiro. Beijou seus lábios e ela franziu o nariz. Ele achou engraçado e beijou-a de novo. Dessa vez ela passou a língua nos lábios. Ele não resistiu e, deitando-se, a pegou nos braços. Aruana se contorceu, mas o abraçou. Fiber a beijou novamente, pressionando seus lábios. Ela gemeu.
— Já está indo? - murmurou de olhos fechados.
— Já.
— Hum... - ela o apertou. — Não vai, não.
Ele sorriu, satisfeito.
— Tenho que ir.
Ela resmungou e esfregou o nariz nele. O coração de Fiber bateu contente por tê-la ali com ele. Passou a mão nos cabelos dela e beijou sua testa. Abrindo os olhos sonolentos, Aruana o encarou.
— Eu poderia ir com você...
— Prefiro que me espere aqui.
— Vamos perder quase um dia todo.
— Não. Eu aluguei um helicóptero para nos levar.
— Sério?
— Sim, ele chegará em Santa Rosa daqui a uma hora.
— Então chegará cedo.
— Sim.
Ela segurou seu rosto e o olhou por um longo momento. Ele acariciou seus cabelos.
— O que foi?
— Nada. Vou ficar com saudade.
— Me espere.
— Unhum...- Aruana sugou seu lábio superior. — Me beija.
Fiber capturou seus lábios e mergulhou em sua boca. Ele terminara a noite frustrado, pois Aruana não conseguira entendê-lo. Ele a queria ao seu lado, não viver um relacionamento à distância; conversaria com ela mais tarde.
Separou-se dela com muita má vontade. Aruana acariciou seu rosto e ele se levantou. Estava excitado, mas não poderia fazer nada sobre aquilo agora.
— Já falei com Firmness. Ela gostou de continuar na sua escolta.
— A gente se dá muito bem.
— Bom saber. - ele pegou sua carteira e enfiou no bolso de trás da calça. — Tenho que ir. - deu-lhe uma última olhada e saiu do quarto para a sala escura, desanimado.
Conseguia entender Jaded completamente. Sabia o que ele sentia por Cecília e se fosse a metade do que sentia por Aruana, já seria de bom tamanho.
Quando abriu a porta ouviu-a.
— Fiber!
Ele se virou e Aruana se jogou em seus braços. Ela o abraçou e levantou o rosto para ser beijada. Fiber a estreitou contra seu peito e abaixou a cabeça beijando-a com paixão.
Aruana estava na ponta dos pés e ainda assim ele precisava se inclinar, porém Fiber achava que o encaixe de seus corpos era perfeito.
Beijou-a ferozmente, querendo prendê-la a ele. Ela se afastou e ele tentou beijá-la novamente, mas Aruana afastou o rosto.
— Tenho uma surpresa para quando você voltar.
— O que é?
— Surpresa é surpresa.
Fiber quase desistiu de sair. Admirou o rosto moreno mais um pouco e respirou fundo.
— Vou agora.
Ela deu um beijo rápido e apertou sua bunda.
— Vai com Deus.
Fiber ergueu as sobrancelhas, mas não comentou. Se ela o entregava para o seu Deus, ele aceitava com carinho. Ele a largou e saiu, antes que decidisse ficar.
Caminhou pela colônia com a sensação de que a vida era boa para ele. Primeiro, ganhara a liberdade. Depois recebera uma família com muitos irmãos e irmãs. E agora conhecera Aruana.
Chegou no cais e os machos já o estavam esperando. Blade deu um assobio.
— Pensei que iríamos sem você.
— Estou aqui.
Entraram na lancha e Fiber não se sentou, mas ficou olhando na direção do cais, sentindo-se, de repente, muito sozinho sem Aruana.

Ela estava enlouquecendo, só podia ser!
Na frente do notebook, Aruana desmarcara a sua passagem de avião. Ela gastara um tempo no site da empresa aérea para deixar o uso da passagem em aberto. Fechara os olhos para a taxa de adiamento , pensando que podia fazer uma loucura, sim.
Aquela era a surpresa que faria a Fiber.
Acordara no meio da noite e ficara apenas sentindo a proximidade dele. Ele tinha um cheiro que ela só podia pensar na natureza. Fiber tinha o cheiro da floresta, da terra.
Tocara o seu bíceps, sentindo a pele quente. Ele era tão especial... Estava acontecendo algo ali,ela sabia. O sexo era bom? Nem tinha palavras para descrever. Mas havia algo mais. Aruana tinha a sensação de que o conhecia há muito tempo e, não entendia porque, queria fazê-lo feliz.
A ideia surgira primeiro como uma impossibilidade. Ela não podia ficar em Homeland III sem data para partir, podia? Lembrou-se da avó, que desistira de voltar para casa pelo amor de um homem branco.
Pensou no seu trabalho. A verdade era que longe de São Paulo perderia muitas oportunidades de trabalhos, porém nada a impedia de continuar trabalhando remotamente.
Fiber se mexera na cama e a puxara para mais perto e beijara seu pescoço sem acordar. Suspirando, ela concluira que poderia ficar mais um tempo na colônia. Voltara a dormir, decidida.
Pela manhã, percebera que ele estava relutante em viajar. Quisera contar seus planos para ele, mas preferira fazer uma surpresa.
Fechou o notebook e se virou para Firmness, que a acompanhava desde cedo. Observou a mulher. Ela era muito alta, com um corpo magro com músculos se destacando. O rosto parecia saído de um filme de ficção científica, os olhos grandes e brilhantes, os malares altos marcados e a pontinha de suas presas aparecendo entre seus lábios. Era estranhamente linda.
— Firmness?
Ela ergueu o rosto do livro de bolso.
— Sim?
— Terminei aqui.
— Quer sair?
— Gostaria de entrevistar alguns funcionários.
— Disse ao Fiber?
— Não. Eu iria fazer outra coisa.
— Bem, Sky está no lugar do Fiber.
— Perguntarei para ele. Vamos até os escritórios?
Foram até os escritórios e Aruana acompanhou Firmness até o escritório de Fiber. Quando passaram pelo setor de TI, Aruana pensou em dar um alô para Estela. Mal a vira nos últimos dias.
— Vou falar com Estela.
— Não acho bom.
— Ué? Por quê?
Firmness franziu os lábios antes de falar.
— Vai incomodar Leona.
— O quê?
— Todos sabem que está vivendo com Fiber.
— Eu não estou... - começou a falar, porém se conteve . Ela estava vivendo com Fiber. — Nós estamos passando um tempo juntos.
— Leona ficou muito magoada. Ela esperava se acasalar com ele.
Aruana ficou na defensiva.
— Ele me disse que não tinha um compromisso com ela.
— Diga isso a ela.
— Você é contra?
— Contra, o quê?
— Eu e Fiber.
Firmness respirou fundo antes de falar.
— Nossos machos têm outras necessidades além de compartilhar sexo. A maioria das fêmeas não quer se acasalar. Mas algumas, como Leona, escolhem um macho para serem um do outro. Ela esperava que Fiber a reivindicasse, mas ele escolheu você. - deu-lhe um olhar firme. — Ela é minha amiga, estou pensando nela. Não sou contra você.
— Obrigada.
— Mas Leona ficará melhor quando você se for.
— Ah... - Aruana pensou na decepção da Nova Espécie. — Tudo bem.
Firmness continuou a caminhar e foram até o escritório.
Sky a recebeu muito bem, mas teve dúvidas se ela poderia falar com os funcionários e pediu que esperasse Fiber chegar.
— E Cedar pode ter algo a dizer também.
Frustrada, Aruana decidiu mudar seus planos. Usaria a manhã para escrever mais um pouco.
As duas voltaram para a cabana de Fiber. Estavam chegando quando ela viu New se aproximando; novamente a mulher carregava um enorme cesto vazio.
— Olá, humana.
— Bom dia, New.
— Felipe disse que nos visitaria hoje de manhã. Desistiu?
Aruana se esquecera do que tratara com Felipe. Junto com a lembrança, ela também recordou da proibição de Fiber.
Que besteira! - pensou. Ele não podia ter tantos ciúmes assim.
— Eu mudei um pouco minha agenda, mas agora poderei ir. - Firmness fez um barulho com a garganta. — O que foi?
— Acho que Fiber não vai gostar.
Ela sentiu seu rosto pegar fogo! Outras pessoas sabiam dos ciúmes do seu... O que ele era, afinal?
Meu dono que não é!
Deu um sorriso forçado para Firmness.
— Não vejo problema nenhum. - virou-se para New.
— Você vai voltar agora para a plantação?
— Vou.
— Ótimo, irei com você.
Firmness franziu as sobrancelhas, mas permaneceu calada.
Aruana acompanhou New, esperando que Fiber não se aborrecesse.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora