Capítulo 36

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Aruana sonhava com Leona. A mulher chorava, mas a cercava mostrando muita raiva. Leona a alcançou e a atacou na garganta, como ela vira Jaded Wild fazer em Estrasburgo. Seu sangue espirrou em Leona, mas ela não se importou, sorrindo ao vê-la se esvair em sangue.
Aruana acordou assustada. Demorou um minuto inteiro para acreditar que estava na cama, nos braços de Fiber.
— Calma. - ele sussurrou. — Está tudo bem. Você está bem.
Ela o observou. No escuro, seus olhos brilhavam assustadoramente e ela piscou, incomodada.
Fiber acariciava sua cabeça, enquanto falava tranquilizando-a.
Aruana engoliu em seco sentindo a garganta arranhar.
— Quero água. - pediu.
Ele se levantou agilmente e saiu do quarto. Sentando-se ela, respirou profundamente, procurando acalmar seu coração. O sonho fora horrível, porém estar acordada não desfazia o mal-estar em seu peito. Imaginou o que teria acontecido se Creek ou Cedar não tivessem conseguido conter Leona.
Fiber voltou, acendeu a luz e se aproximou com um copo com água. Aruana entreabriu os lábios ao vê-lo nu, nunca se cansando de admirar seu corpo magnífico. Ele sentou-se na cama e levou o copo até os lábios dela.
Aruana bebeu; estava sedenta. Fiber segurava o copo, enquanto acariciava seus cabelos.
Admirou-o. Fiber era tão grande, seus músculos tão poderosos que ela se sentia muito frágil perto dele. Afastou o copo da boca.
— Já chega?
— Não, quero mais um pouco. Estou só tomando fôlego.
Ele esperou, os dedos deslizando no cabelo curto. Aruana pegou o copo e ele a serviu.
Fiber a tratava com muita gentileza; sentia-se querida quando estava com ele.
Quando ela finalmente se saciou, afastou os lábios. Ele colocou o copo na mesinha de cabeceira e depois a abraçou.
— Está melhor agora?
— Tive um pesadelo.
— Imaginei.
— Sonhei com Leona. - ele apenas franziu as sobrancelhas. — No meu trabalho já passei por muitas situações de perigo, mas não foi nada exatamente contra mim.
— Não acontecerá mais nada. Confie em mim.
Ela balançou a cabeça. Tudo o que estudara sobre as Novas Espécies não a preparara para conviver com eles. Eram tão chocantemente atraentes, brutalmente sinceros e autênticos , naturalmente violentos. Conviver com aquelas pessoas era como andar numa superfície escorregadia; poderia cair a qualquer momento.
Ergueu a mão e acariciou o rosto de Fiber. Ele fora como uma onda carregando-a em direção à arrebentação. Ela não tivera como resistir.
— Você é tão lindo... - ele deu um sorriso. — Acho que me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi.
— O quê? - ele perguntou com os olhos arregalados. — Você é apaixonada por mim?
— Mas você já sabia disso, não sabia?
— Não.
Ela deu-lhe um selinho.
— Eu adiei minha volta para São Paulo por você.
— Eu sei que sente atração pelo meu corpo e gosta do sexo.
— Amor, Fiber. Nós fazemos amor.
Ele a apertou contra o peito.
— Eu sinto assim, mas não imaginei que também sentisse.
— Nunca me joguei numa relação como fiz com você. Nunca.
— Você me deixa feliz Aruana.
Ela encostou o rosto no peito largo e fechou os olhos. A imensidão do que significava estar envolvida com Fiber e o ataque de Leona a estavam esmagando.
— Eu preciso de um tempo longe de você, Fiber.
— O quê?
Fiber segurou sua cabeça e a puxou para trás, forçando-a a olhá-lo.
— Seu mundo... como você é... é demais...
— Não entendo.
— Você espera de mim mais do que posso dar...
— Acabou de dizer que está apaixonada por mim.
— Sim e isso tudo é demais realmente para mim.
Ele a encarou e ela conseguia ver que ele tentava, porém não conseguia compreendê-la.
— Fale de novo.
Aruana não gostou da tensão em sua voz; não queria magoá-lo.
— Apesar do que eu sinto por você, preciso de um tempo para pensar nisso.
— Nisso?
— Nós dois.
— É por causa de Leona?
— Também. Leona é uma mulher que te ama tanto que me machucou.
— Ela não fará isso de novo.
— Não é só isso... É tudo. Você pensa muito diferente de lim.
— Sou espécie, sou diferente.
— Acha que não percebi o quanto você se distanciou quando eu disse que não queria ser sua companheira?
— Eu não pedirei novamente.
— Mas é o que você quer.
— Sim, mas te darei todo o tempo que você precisar.
— Você espera que eu aceite uma hora, não é?
Ele engoliu em seco e respondeu.
— Sim.
— E espera que eu viva aqui com você.
— Sim.
— Minha vida está toda em São Paulo. Você viveria lá comigo?
— Não.
— Por que não?
— Seria complicado. Para viver na cidade eu precisaria levar várias escoltas comigo. Não posso pedir isso aos meus amigos.
— Você vê a dificuldade?
— Faça uma vida para você aqui. As companheiras desenvolvem trabalhos para a ONE.
— Eu sou uma repórter. Não posso me esconder  no meio da floresta amazônica.
Fiber a soltou e se levantou, andando de um lado para o outro.
— Você sempre faz isso. - grunhiu,erguendo as mãos.
— Fiber...
— Desde o início você reluta contra o que nós temos.
— É porque é difícil mesmo.
— Eu quis você, você me quis, mas não aceitou ser minha. Não aceitou ser minha companheira. E agora... - o rosto dele endureceu. — ... agora diz que está apaixonada por mim, mas quer se afastar.
— Fiber, Leona poderia ter me matado!
— É medo? Se for medo eu posso te proteger.
— Você não pode responder pelos atos dela.
— Eu posso. Eu matarei Leona se for preciso para se sentir segura.
— Fiber, não! Eu não quero atrapalhar a sua vida.
— Atrapalhará se me deixar.
Aruana sentia o peito doendo, contudo precisava ser sensata. Sua vida e a de Fiber não combinava e permanecer mais tempo ali somente causaria mais dor quando se fosse.
— Eu... eu preciso...
Fiber pulou na cama e ela deu um grito, surpresa. Ele a deitou e cobriu com seu corpo.
— Pare com isso agora. - ele ordenou.
— Fiber...
— Diga o que sente por mim.
— Eu já disse.
— Repita.
Ela engoliu em seco, nervosa, presa ali debaixo dele.
— Eu me apaixonei por você.
— Diga de novo.
— Fiber...
— Diga.
Aruana sentiu os olhos umedecerem. O que estava fazendo?
— Estou apaixonada por você.
— E quer ir embora.
— Porque somos muito diferentes.
— E não sentirá minha falta.
— Eu não disse isso.
Fiber deslizou o nariz por seu pescoço.
— Não vai mais sentir o meu toque... - ele beijou atrás de sua orelha. — Não vai ouvir minha voz... - falou com os lábios colados em seu ouvido e ela se arrepiou. — Não vai mais sentir o quanto te quero... - Fiber pressionou o pênis contra seu púbis, seu corpo ardeu de desejo e Aruana abriu as pernas, sem se controlar. — E não vai me beijar nunca mais...
Fiber mergulhou em sua boca e ela o recebeu. A língua dele tocava em cada cantinho da sua boca, fazendo seu corpo derreter. Ela afundou as mãos em seus cabelos e ele sugou seu lábio inferior. Ela gemeu quando a língua voltou a torturar a sua.
O peso dele a prendia na cama, entretanto ela não se incomodava. Sentia-se toda tomada por ele. Fiber afastou os lábios.
— Vai me deixar, Aruana?
— Preciso de um tempo... - murmurou, enquanto ele dava beijinhos em seu rosto.
— Você pode ficar.
— Fiber... - ela deslizou as mãos pelas costas musculosas.
— Eu adoro o seu toque.
Ela passou as unhas sobre a pele rija. Nunca sentira tanto desejo por um homem, mas... Tinha que voltar para sua vida, seu lugar não era ali. Sentiu uma dor surda no peito ao se ver sem ele. Fiber tinha razão, ela perderia muito.
— Hoje... - ela tomou fôlego para falar. — Hoje eu vi o quanto somos diferentes... Logo teria que terminar...
— Eu amo você.
As palavras dele a paralisaram. Fiber a encarou e novamente seus olhos a queimaram.
— Fiber...
— Diga que me ama e quer ficar comigo.
— É tão complicado...
— Diga, Aruana. - ele esperava uma resposta.
Seus olhos brilhavam intensamente e a sensação de que estava sendo comprimida voltou. Lágrimas vieram aos seus olhos.
— Eu não posso... É demais para mim, Fiber.
Ela viu os olhos dele se apagarem lentamente enquanto ele aceitava o que ela dizia. O corpo sobre o dela ficou muito tenso. Aruana sentiu seu coração apertar e suas mãos foram para o rosto dele. Não queria magoá-lo, apenas... apenas se sentia perdida.
Ele se levantou e ela sentiu-se fria. Fiber ficou um longo tempo olhando-a, parecendo uma deslumbrante estátua de bronze.
Aruana sentou-se na cama.
— Não quero te magoar. - as lágrimas escorreram por seu rosto. — Foi tudo muito intenso, muito lindo entre nós, mas...
— Basta. - ele a interrompeu.
— Só quero que entenda que...
— Chega. - sua voz soou cavernosa. — Já me humilhou o bastante, fêmea.
— O quê? Não! - ela sentiu o coração pesar com a expressão no rosto dele. Fiber a olhava quase como se sentisse nojo. — Não, Fiber, eu não quero...
Ele recuou um passo.
— Arrume seus pertences.
— O quê?
— Quer se afastar, eu facilitarei para você. Arrume suas malas.
Aruana arregalou os olhos.
— Não... - gaguejou. — Não precisa ser assim.
Fiber foi até o guarda-roupa e tirou uma calça de dentro.
— Eu a levarei até Santa Rosa. Já estará de manhã e poderá pegar um barco para Rio Branco.
— Você... - ela o olhou, assustada, enquanto ele vestia as calças. — Está me expulsando?
Fiber foi até a cômoda e pegou uma blusa do uniforme.
— Não posso mais te ver. Preciso que vá embora. - falou, vestindo a blusa.
Aruana estava chocada. Ele a estava chutando para fora de Homeland!
— Nós estamos conversando, Fiber!
— Não quero conversar. Quero que vá embora.
— Eu não vou embora assim!
Ele a olhou.
— Eu. Quero. Que. Vá.
— Sou uma convidada aqui, não pode simplesmente me mandar embora.
Ele colocou as mãos nos quadris.
— Você não vai?
— Não! - gritou, mas se arrependeu em seguida.— Nós somos adultos. Não pode me tratar assim porque eu não estou pronta para uma relação com você.
Ele rosnou para ela, que se calou, ofendida. Fiber calçou os sapatos, deu-lhe as costas e saiu. Aruana ouviu a porta bater com força e ficou um longo tempo de boca aberta. Ela sentou e esperou que ele voltasse. Fiber já agira assim uma vez, ele voltaria.
Mas ela esperou e esperou.
Quando  os raios de sol entraram pela janela, ela finalmente percebeu que ele não voltaria.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora