Capitúlo 50

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Aruana acordou num colo quente de alguém que caminhava rapidamente.  Num primeiro momento achou que era Fiber, mas a lembrança do que acontecera assaltou sua mente.
— Fiber? - abriu os olhos para ver que estava sendo carregada pela floresta fechada, com vários homens ao redor.
O homem que a carregava abaixou o rosto. Era Blade.
— Você está bem?
— Onde está Fiber? - perguntou, desesperada.
— Cedar e outros machos foram correndo levá-lo para o Centro Médico.
Ela piscou os olhos que se encheram de lágrimas.
— Como ele está?
— Não sei.
Aruana se mexeu, incomodada.
— Me ponha no chão, por favor.
— Eu ando muito mais rápido que você.
Ela fungou.
— Quero ver Fiber...
— Logo chegaremos na colônia. - Aruana não aguentou e chorou copiosamente. Seu coração parecia que iria arrebentar. — Fique calma, Fiber é bem forte.
— Ele estava sangrando muito...
— O doutor Bishop e Thainá foram avisados para esperá-lo. Eles já devem estar chegando lá.
Aruana cobriu o rosto, sentindo-se péssima. Descansou a cabeça  no ombro de Blade, deixando as lágrimas rolarem por seu rosto.
Ela era a culpada de Fiber ter sido baleado! Se não os tivesse seguido, ele não precisaria ter aberto mão do seu colete. A culpa era sua!
O tempo que levaram de volta à colônia lhe pareceu uma eternidade. Revezava entre fazer orações por Fiber ou se desesperar, em ambos momentos deixava que as lágrimas caíssem, sem se importar que os oficiais e os policiais a ouvissem.
Aruana se corroía de remorsos. Desde que entrara na vida de Fiber ela fora uma fonte de aborrecimento e decepção. Sempre lutando contra seu sentimento, sempre procurando se afirmar e agora estava ali, sofrendo por ter, possivelmente,  causado a sua morte.
Blade andava rapidamente, quase correndo, e ela não imaginava como ele aguentava carregá-la por tanto tempo.
Alcançaram a plantação e seu coração acelerou. A
— Pode me botar no chão agora.
— Não. Eu vou correr.
E, de fato, Blade disparou pela plantação e alcançou rapidamente a vila. Aruana viu pessoas e construções passarem em alta velocidade.
Quando chegaram na portaria do Centro Médico estava tonta e enjoada. Blade a colocou no chão, mas continuou segurando-a.
— Você está bem?
— Estou um pouco tonta.
— Aruana! - era a voz de Creek.
Aruana ergueu o rosto a tempo de ver a amiga saindo da sala de espera. Atrás dela havia uma pequena multidão, incluindo humanos. Creek a abraçou tão forte que a fez perder o ar.
— Como você está?
Aruana a afastou.
— Quero ver Fiber.
— Ele está no centro cirúrgico.
— Eu preciso vê-lo, Creek!
— Primeiro se sente e descanse um pouco. Cedar disse que desmaiou. - Creek a puxou para a sala de espera.
— Não quero descansar. Quero ver Fiber.
Estela correu até ela.
— Ah, minha amiga! - abraçou-a carinhosamente.
Cedar se aproximou delas. Sua blusa apresentava manchas e Aruana sentiu o cheiro de sangue. Sangue de Fiber!
— Cedar, eu preciso ver o Fiber!
— Os médicos estão com ele.
— Eu sei, mas eu tenho que... Por favor, tenho que entrar!
Cedar coçou a cabeça e olhou para Creek.
— Peça um calmante para ela.
Aruana fuzilou o homem enorme com o olhar.
— Não quero calmante! Eu quero Fiber!
— Calma.
Creek passou a mão por sua cintura.
— Se você sentar eu irei até lá dentro e perguntarei se você pode entrar.
Cedar balançou a cabeça.
— Não é uma boa  ideia, Creek. Humanas são sensíveis.
Estela lhe deu um olhar atravessado.
— Já viu uma humana tendo um filho?
— Não.
— Então não nos chame de fracas.
— Eu quis dizer que...
Josivaldo apareceu no corredor. Seu pijama cirúrgico estava sujo de sangue. Ele olhou para Aruana.
— Oi, querida. Eu sinto muito.
Aruana sentiu o corpo gelar.
— Como ele está?
Josi olhou para Cedar.
— O doutor Bishop pediu que reúna felinos. Precisamos de mais sangue.
— Como ele está, Josi? - ela repetiu, sentindo-se fraca de ansiedade.
— A prioridade é repor o sangue.
— Mas ele vai ficar bem?
O rosto do rapaz corou.
— Vamos fazer de tudo, tá?
Ele não está bem! Ele não está bem! - pensou, desesperada.
Cedar se virou e começou a apontar para alguns homens Novas Espécies. Rapidamente, havia um grupo de cinco. Aruana notou que todos tinham os olhos felinos.
Josivaldo levou os homens pelo corredor. Aruana afundou-se no sofá.
— Você quer um pouco de água? - perguntou Estela.
— Não.
Creek sentou ao seu lado e segurou suas mãos.
— Fique calma. A doutora Thainá estava na colônia e pôde se juntar ao Bishop.
Aruana se recostou no sofá.
— É minha culpa. - declarou, sentindo as lágrimas voltarem a correr.
— Não diga isso. - pediu Estela.
— Ele me deu o capacete e o colete à prova de balas. Foi atingido por minha causa.
— Cedar me contou. -  Creek comentou. Aruana olhou para Cedar que a observava seriamente. — Fiber fez o certo, quis protegê-la.
— Precisou me proteger, porque eu o desobedeci! Ele não queria que eu fosse!
— E por que você foi, Aruana?
Aruana levou as mãos à testa, puxando os cabelos para trás.
— Porque eu queria mostrar que podia fazer o que quisesse. Queria fazer a reportagem. - Creek balançou a cabeça, enquanto Cedar desviava o olhar. — Fui tão idiota!
— O que Fiber fez? Ele te bateu?
— O quê? Não! - limpou as lágrimas com os dedos. — Ele... ele...
— O quê?
— Ah, meu Deus, Creek, ele ficou arrasado! - mais lágrimas  rolaram. — Eu o fiz infeliz... - cobriu o rosto com as mãos e chorou amargamente.
Estela sentou do seu outro lado.
— Não fique assim. Ele vai se recuperar e vocês ficarão bem. Fiber te ama.
— Você não é boa companheira para o Fiber. - declarou Cedar.
— Cedar! - exclamaram Estela e Creek.
— Ele sofreu muito com você.
Ela abaixou a cabeça e chorou mais ainda. Creek a abraçou.
— Você é um estúpido, Cedar. Não vê que ela está sofrendo?
Aruana não ouviu a voz dele e achou que tivesse indo embora. Creek puxou sua cabeça para o ombro e começou a acariciar os cabelos dela.
— Você também trouxe muita felicidade para o Fiber. Nunca vi aquele macho tão feliz. Ele até ria!
— Quando você voltou ele parecia o homem mais feliz do mundo! - contou Estela.
Aruana não se sentiu confortada, as palavras de Cedar apenas fortaleciam o que ela mesma pensava. Sua cabeça começou a doer e seu coração batia dolorosamente.
Os minutos passaram devagar. Pessoas entravam e saiam da sala de espera, algumas falavam com ela, mas a maioria a olhava com o semblante muito sério. Ela se sentia muito cansada. Os amigos mais achegados de Fiber não saíram da sala.
De repente, Thainá apareceu no corredor. Aruana deu um salto e se levantou.
— Thainá, como ele está?
— Interrompemos a hemorragia e estabilizamos os sinais vitais. - disse, segurando os ombros de Aruana.
— Mas ele está bem?
— Os Novas Espécies têm um fator de cura muito forte e estamos apostando nisso.
— O que quer dizer?
Creek se levantou e ficou ao seu lado. Cedar e Sky se aproximaram.
— Esperamos que seu corpo reaja bem à cirurgia.
— E-então está fora de risco?
— Um projétil atingiu o pulmão direito e vasos importantes foram atingidos.
— Thainá, por favor, seja mais clara!
A doutora apertou os lábios um instante.
— É bastante sério. Está estável, mas não bem. - Aruana sentiu o sangue fugir do seu rosto e as pernas enfraquecerem. — Venha, sente-se aqui.
Estela e Creek a fizeram sentar-se.
— Vou pegar água. - disse Cedar e foi na direção do bebedouro.
— Aruana... - Thainá se agachou à sua frente e esfregou as suas mãos. — Fiber é muito forte. Eu vi o prontuário dele; resistiu apesar de maus-tratos pesados. Lembra do acidente ano passado? Da concussão? Em um dia ele já estava bem. Lembra?
Cedar chegou com o copo de água e Creek o pegou.
— Tome, beba um pouco. - disse, colocando o copo na boca de Aruana.
Ela bebeu um pouco, mas afastou logo o copo.
— Você quer um calmante leve? - perguntou Thainá.
— Não.
— Não fará você dormir.
— Não quero, obrigada. - respirou fundo. —Thainá... Posso pedir uma coisa?
— Claro que pode.
— Eu gostaria de fazer um teste de gravidez.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora