Capítulo 4

1.5K 174 5
                                    

No seu trabalho, Aruana se chocava poucas vezes., por isso não contara com a surpresa de ser assediada por uma criatura de ficção-científica.
Aquele Fiber Colorado não fizera questão de ser simpático com ela e descobrir que era o seu contato em Homeland III a desmotivara. Se pudesse ter evitado sentar-se com ele no jantar, ela o faria, preferindo encontrá-lo no dia seguinte quando estivesse descansada. Mas Creek não lhe dera alternativa.
Sentara-se de frente para o homem e ele sequer a cumprimentaram, porém não tirara os olhos dela. Então, ao sentir as pernas musculosas apertarem as suas ficara chocada. Ele estava tomando liberdades?
Fiber nem piscou, apenas ficara ali, as pernas quentes aquecendo as dela. Aruana sentira-se contaminada por aquele calor. Os músculos de suas coxas eram duros e faziam as suas parecerem mínimas.
Ficou em dúvida do que fazer. Se o acusasse na frente de outras Novas Espécies estaria prejudicando o seu trabalho, não poderia continuar em Homeland depois de uma acusação de assédio sexual.
Respirara fundo e decidira que aquilo ficaria entre eles dois. Abaixara a mão e tocara o joelho dele, como se fosse acariciá-lo e em seguida, com toda a sua força, cravara as unhas na pele quente. Ele sequer se mexera e ela subira a mão e afundara as unhas na carne dura mais uma vez.
Para as duas mulheres na sua mesa, tudo não passara de uma mordida na língua, mas para ela fora um momento de puro empoderamento; aquele Tarzan das cavernas não a diminuiria!
— Fiber, perdeu o apetite? - perguntou Leona. — Parou de comer.
Ele pegou uma porção da comida e enfiou na boca. Aruana ficou feliz por tê-lo perturbado. Creek virou-se para ela.
— Fiber era muito magrinho quando chegou em Homeland, todos se preocupavam com ele. Mas ganhou muito peso. E aqui ainda mais.
— É mesmo?
— A comida é muito boa. - comentou Leona. — Sempre temos carne de caça.
— A caça é boa?
Creek balançou a cabeça.
— A New e o Fiber são ótimos caçadores.
Aruana olhou para ele que sustentou o seu olhar.
— É verdade, senhor Fiber?
Ele engoliu a comida e respondeu.
— Sigo os meus instintos. - falou com uma voz cavernosa, os lábios revelando que consumira sangue.
Aruana já havia notado a carne quase crua em seu prato e imaginou o quanto de fera aquele homem tinha. Sentiu um arrepio e recuou as pernas para não encostar mais nele.
Leona fez mais perguntas a ela sobre suas origens indígenas. Aruana sorriu para ela, achando-a muito agradável. Os olhos felinos eram quase dourados.
— Não se decepcione, mas não fui criada nas tradições do povo da minha avó. A única vez que estive na Amazônia foi para participar de uma conferência ambientalista em Manaus.
— Ah, então é uma mulher da cidade.
— Sou.
A conversa continuou com Leona e Creek. Fiber ficou em silêncio, mas não deixava de fita-la. Aruana tentava não olha-lo, porém acabava se virando para ele. Os cabelos negros estavam soltos, derramando-se pelos ombros, o rosto escuro era muito marcado e sua aparência felina a impressionava. Mas eram os olhos que lhe causavam uma sensação de perigo; era como ter uma pantera negra a encarando.
Terminou sua refeição mesmo sem estar com fome.
— Querem sobremesa? - perguntou Creek, se levantando.
— Hoje tem bolo de macaxeira. - falou Leona, levantando-se também. — Você quer, Fiber?
— Não.
— Vou te trazer um, Aruana. - disse Creek.
— Obrigada.
As duas se afastaram e Aruana engoliu em seco ao ficar sozinha com Fiber. Ele inclinou a cabeça para o lado e a encarou.
— Você me feriu.
— Você me assediou.
— Hum.... - Fiber deslizou o cabelo por cima de um ombro e ela se viu seguindo as mechas negras escorrerem por seus dedos.
— Hum? Só isso? Não vai pedir desculpas?
— Não pretendi incomodar.
— Mas me incomodou.
— Só encostei minhas pernas em você.
— Você espremeu as minhas pernas!
Ele estreitou os olhos.
— São muito macias.
Aruana arregalou os olhos, sem acreditar no comentário.
— Como é que é?
— São mui... - ele parou de falar e ela viu Leona e Creek voltarem.
As duas se sentaram fazendo elogios às sobremesas que haviam trazido e Aruana se esforçou para dar-lhes atenção. Começaram uma conversa sobre sobremesas brasileiras.
De repente Fiber se levantou.
— Com licença.
Ele saiu com o prato e o copo e as três mulheres o acompanharam com o olhar. Ele andava como um gato e Aruana admirou os músculos glúteos que já haviam chamado sua atenção. Apertou os lábios, contrariada. Além de ter sido um grosseirão com ela, ele a tocara inapropriadamente no cais e ali, portanto não deveria considerar nada atraente nele.
— É um macho muito atraente, não acham? - perguntou Leona.
— É muito gostoso, mas sombrio. - respondeu Creek.
— Ele é só muito reservado.
— Os machos do Colorado são calados.
— Acho charmoso. - Leona riu ao comentar. — Os machos do norte e do sul são muito temperamentais para o meu gosto.
— Ah, isso são mesmo.
Aruana aproveitou para perguntar.
— O senhor Fiber possui DNA de qual animal?
— Não temos certeza, mas nossos médicos dizem que de grandes felinos. - respondeu Creek.
— Pantera, por exemplo? - Aruana perguntou com interesse.
Leona deu uma risadinha.
— Pantera negra.
Creek deu um tapinha nela.
— Está caidinha, hein?
— Já disse que o acho muito atraente.
Aruana viu Fiber voltando e mudou de assunto.
— Eu percebi aqui no Clube que a maioria parece ser felina.
— Mais felinos se interessaram pela imigração. A vida selvagem os atrai.
Fiber parou à mesa e levantou a mão se despedindo.
— Boa noite.
— Você não vai ficar para o filme? - perguntou Leona.
— Não.
— Eu posso ir com você. - a mulher afirmou sensualmente.
Aruana olhou de Leona para Fiber. Então eles eram um casal? Ele abaixou o olhar, mas manteve o rosto impassível.
— Eu agradeço, mas vou para o escritório.
A bonita felina não conseguiu disfarçar a decepção.
— Você precisa de ajuda? - Creek perguntou.
— Não. São apenas relatórios. - ele olhou para Aruana. — Perdi o dia em Santa Rosa. - Ninguém fez comentários e ele continuou. — Senhorita, nos encontraremos amanhã às sete.
— Às sete? - ela perguntou, pensando que estava bastante cansada.
— Precisa de mais tempo para se recuperar?
— Bem... - ela não gostou do tom condescendente dele. Levantou o queixo. — Sete está ótimo.
— Certo.
Ele balançou a cabeça e saiu. Aruana se dedicou à sobremesa para não o observar saindo. Não olhou para Leona, Creek, entretanto comentou.
— Fiber é muito contido, Leona.
— Eu pensei que ele estava interessado. - se lamentou, sem se importar com a presença de Aruana.
— Dê um tempo a ele.
— Já mostrei que quero algo mais. - ela comeu um pedaço do bolo. — Qualquer espécie veria como um privilégio.
Creek segurou a mão da amiga.
— Nem todo macho quer acasalar.
Todos querem acasalar.
— Nem todos.
— Uma dezena ou menos. A maioria quer acasalar.
Aruana tentou não mostrar interesse no assunto, mas estava curiosa. Aquele homem-fera além de rude, parecia não ter sentimentos também!
Mastigou o seu bolo de macaxeira pensando que homens eram sempre homens, tivessem DNA animal ou não.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora