Capítulo 47

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— E vão agora? - Aruana perguntou.
— Sim. Vim apenas para te ver.
Fiber balançava Peace que estava pendurado em seu braço; as outras crianças batiam palmas e pulavam, esperando a sua vez.
— Quero ir também.
— Você? Por quê?
— Porque sou uma jornalista e poderia vender essa matéria facilmente.
— Não vou deixar que corra riscos.
Aruana pousou as mãos na cintura e ele não pôde deixar de admirar seu corpo.
— Você não tem que deixar, Fiber, é só eu ir.
Ele balançou a cabeça, achando engraçado ela tentar convencê-lo.
— De jeito nenhum.
— Eu não correrei riscos; ficarei segura.
— Eu não conseguirei me concentrar com você lá.
— Seria ótimo para mim. Eu preciso pegar qualquer oportunidade que vier. Aqui não é São Paulo.
— Não.
— Fiber! Está sendo superprotetor!
— Estou. - Fiber desceu Peace. — Vá brincar, filhote.
— Brinca comigo!
— O tio não pode agora.
— Por favor! - Peace pediu agarrando sua perna. Várias crianças fizeram o mesmo.
Luana interviu, puxando o garotinho.
— Depois o tio Fiber virá brincar com vocês, tá bom?
Várias boquinhas reclamaram e de três saíram rosnados, mas Luana enxotou o agitado grupo para o parquinho.
Aruana se aproximou de Fiber, colocando as mãos em seu peito.
— Eu sou muito profissional; não atrapalharei.
— É arriscado encontrar com esses garimpeiros e você não pode ir na Zona Selvagem.
— Se eu for com você não terá perigo.
— Nenhum companheiro deixaria uma companheira correr riscos.
Ela franziu a testa.
— Só que não sou sua companheira.
— É claro que é.
— Se o senhor não percebeu não tem nenhuma aliança no meu dedo.
Fiber quase riu com a teimosia.
— Darei um jeito nisso logo. - segurou as mãos dela. — Preciso ir.
Ela recuou, mas ele a puxou contra o peito.
— Falarei com Cedar. - ela resmungou.
— Ele nunca permitiria você ir sem meu consentimento.
— Consentimento? - Aruana se remexeu, tentando soltar-se. — Estamos no Brasil Colonial, por acaso?
— Não sei como era o Brasil Colonial, mas não deixarei você ir.
Ela abriu a boca, parecendo muito zangada e Fiber se inclinou, beijando-a. Aruana trincou os lábios e ele riu.
— Me beije, companheira.
Ela virou o rosto.
— Companheiras não são deixadas para trás.
— Se forem para sua segurança, sim. Me beije.
Aruana apertou os lábios com força. Fiber a apertou sentindo muito amor por ela naquela hora. — Meu amor, preciso ir, mas não irei em paz se estiver zangada comigo.
— Você está sendo injusto.
— Só quero que fique segura. - ele abaixou o rosto e beijou seu nariz. — Eu ficaria louco se alguma coisa acontecesse com você.
Ela o encarou por um momento e fungou.
— Quero entrevistas com os policiais e garimpeiros.
— Tratarei disso com Cedar.
Aruana o olhou com os lábios torcidos, mas logo desfez a carranca.
— Se cuida, tá?
Fiber sorriu, contente por ela ter reconsiderado.
— Voltarei para você logo.
Ela se colocou na ponta dos pés e passou os braços pelo pescoço grosso.
— Eu te amo, minha ferinha.
Ferinha?
— É grande e feroz para os outros, mas um fofinho para mim.
Fiber balançou a cabeça.
— Fofinho, hein? Acho que estou fazendo algo errado.
Ele segurou a bunda de Aruana e a apertou.
— Ui!
— Se essas crianças não estivessem por aqui eu te mostraria quem é o fofinho.
— Me mostra mais tarde?
Fiber a beijou carinhosamente. Adorava o jeito de Aruana. Ele se soltou dela de má vontade.
— Quando eu voltar, vou querer saber por que estava tão calada hoje de manhã.
Ele viu uma sombra nos olhos dela e teve certeza de que havia alguma coisa, porém deixaria para mais tarde.
— Está bem. - ela concordou e apertou o traseiro dele também. — Também sei pegar pesado, senhor Colorado.
Fiber riu, beijou o topo da sua cabeça e saiu. Caminhou pela vila, mais tomado pelo sentimento por Aruana do que por receio pela missão com a Polícia Federal. Queria resolver logo e voltar para sua mulher. Anotou na mente que pediria para Cedar preparar os papeis de acasalamento. Deixara passar tempo demais.

Aruana ficou vendo Fiber se afastar, admirando as costas largas e a bunda redonda e bem feita. Aquele homem era uma tentação para qualquer mulher! Suspirou, reconhecendo que estava apaixonada demais por ele.
Eu o amo. - pensou, sentindo o coração quentinho.
Amá-lo, porém não a fazia concordar com tudo que ele dissesse. Pegou sua câmera e se despediu da equipe da creche. Firmness não fez comentários quando ela disse que ficaria na cabana, descansando.
Fizera amizade com as outras companheiras e elas lhe davam dicas utéis de como lidar com um marido Nova Espécie. Aruana rira quando elas colocaram o sexo no topo das necessidades de seus homens, pois não eram tão diferentes dos humanos. Outra coisa que aprendera era como eles eram territorialistas e possessivos, entretanto ela já vira bastante daquilo em Fiber.
Andou apressadamente, fazendo planos. Àquela reportagem poderia ser oferecida às principais revistas e jornais do país. A garimpagem ilegal estava no topo das discussões sobre as terras indígenas na Amazônia. Não podia perder aquela oportunidade!
Chegou na cabana, despediu de Firmness dizendo que ligaria para ela se precisasse sair. Correu para pegar uma bolsa de viagem. Colocou nela o seu equipamento, um carregador portátil, repelente de mosquitos e sua garrafa de água. Separou o mapa que Creek lhe dera da colônia e instalou uma bússola no seu aparelho celular. Trocou de roupa rapidamente, substituindo as sandálias por botas e o short por uma calça cargo com muitos bolsos. Se lambuzou de repelente e decidiu que estava pronta.
Pegou o celular. Fiber instalara um sistema de rastreamento; ele queria que ela soubesse onde ele estava o tempo e vice-versa. E naquele instante ele ainda estava na segurança.
Saiu da cabana cuidadosamente, não querendo chamar a atenção por estar sozinha. Caminhou na direção da plantação, evitando ser vista. Ultrapassou as terras cultivadas e se escondeu no meio da mata, esperando. Durante todo o tempo, evitou pensar em como Fiber reagiria ao seu plano. Ela pretendia segui-lo através da floresta.
Não era a primeira vez que se lançaria numa aventura daquela. Já estivera numa expedição em busca de um avião na Serra do Mar e fizera parte de uma equipe de reportagem nas florestas da Costa Rica. Tinha treinamento para sobreviver na selva e até no deserto.
Seu medo não era da floresta, mas do seu companheiro. Fiber ficaria furioso, mas ela provaria que era capaz de se cuidar.
Acompanhou Fiber se aproximando no mapa do celular e viu que eram quase três da tarde quando ouviu vozes masculinas. Se escondeu atrás de algumas árvores para esperar os homens passarem.
O primeiro que viu foi Cedar. Ele era enorme, maior do que Fiber e tinha um rosto feroz; seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Fiber lhe contara que ele fazia parte do Conselho original da ONE. Pelos cálculos que médicos fizeram, a maioria das Novas Espécies tinha cerca de trinta anos quando foi resgatada, então Cedar já devia ter mais de quarenta anos. Sua aparência, como de Justice North ou Blade ainda era de trinta anos. Outros como Jaded, Fiber ou Wolf mostravam o rosto de um homem de vinte e poucos anos.
Atrás de Cedar, vários Novas Espécies, incluindo Sky e Blade,cercavam os policiais. Apesar dos policiais serem altos e fortes, não se comparavam às criaturas híbridas.
Ao ver Fiber precisou conter uma exclamação. Ele vinha atrás do grupo maior, com Wolf. Como os outros espécies, ele usava colete à prova de balas e capacete. Segurava um enorme fuzil e tinha um coldre atravessando seu peito.
Quando passou perto de onde ela estava ele hesitou. Olhou ao redor e inspirou forte. Wolf lhe disse algo e ele balançou a cabeça.
Aruana mordeu o lábio inferior. Ele estava sentindo o seu cheiro? Se encolheu mais, o coração aos pulos.
Fiber balançou novamente a cabeça e tornou a caminhar.
Esperou o grupo sumir no meio da mata e seu coração diminuir o ritmo. Tinha que se lembrar de manter uma distância deles. Aguardou mais um pouco e os seguiu.
Esperava não ter tomado uma decisão errada.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora