Capítulo 37

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Na guarita no alto do muro do portão principal, Fiber observava a lancha se afastar. Passara o último dia na zona selvagem, furioso demais, magoado demais para voltar.
Antes de correr para a floresta, procurara Cedar e dissera que precisava ficar longe de Aruana. O macho ficara um bom tempo de boca aberta. Como assim ele queria ficar longe de sua mulher? Sentindo-se arrasado, Fiber lhe explicara que Aruana nunca se considerara assim. Cedar assentira e concordara em conversar com Aruana. Fiber não quisera saber como a situação seria resolvida e fugira para a zona selvagem.
Os espécies habitantes da floresta sentiram o cheiro de Aruana nele e fizeram muitas perguntas, até que perceberam que estava sofrendo e o deixaram em paz.
Cedar o procurara no final da tarde com a notícia de que Aruana decidira partir. Para ele, ela explicara que tinha compromissos em São Paulo e precisaria partir. Cedar não lhe perguntara sobre Fiber.
O amigo lhe contara que ela partiria no dia seguinte pela manhã e também que o Conselho de Homeland III decidira que Leona deveria voltar para Homeland I. Fiber não queria realmente pensar na antiga amiga. Ela fora o estopim para a fuga de Aruana.
Naquela manhã voltara para a colônia e esperara na guarita até vê-la surgir. Estava ladeada de Sky e Blade, que carregavam suas bolsas. Ele a vira atravessar a muralha em direção ao cais. Embarcou na lancha de cabeça baixa e assim ficou enquanto a navegação se afastava.
Fiber ficou olhando para a curva do rio por muito tempo; os espécies que estavam de guarda apenas o assistiram em silêncio.
Sentindo um peso desconfortável no peito, ele caminhou para o escritório da segurança, porém quando chegou no prédio desistiu e foi para casa.
A cabana estava impregnada com o aroma dela. Desanimado, tirou a roupa e se deitou. O lençol tinha o cheiro dela e ele se envolveu, tentando capturar o que ficara de Aruana.
Só percebeu que havia dormido quando uma mão o sacudiu. Abriu os olhos para ver Blade no seu quarto. A luz do crepúsculo entrava pela janela.
— Ei, eu liguei para você.
Fiber se encolheu dentro do casulo do lençol.
— Estava cansado. - justificou ao ver que dormira o dia todo.
O amigo lhe deu um olhar de compaixão.
— Está difícil assim?
— Só estou cansado.
Blade sentou na cama.
— Cedar está preocupado com você.
— Estou bem.
— Olha, eu já passei por isso. - Fiber torceu os lábios e tentou cobrir a cabeça. Blade o impediu. — Eu achei que fosse morrer de tristeza.
— Hum...
— Eu vi a mulher que eu amava se envolver com um macho que não queria ser um companheiro.
— Jaded.
— É. Ela o amava. - deu uma risadinha. — E eu vim parar aqui.
— E a Thainá?
Blade deu um sorriso aberto.
— Ah, ela foi um presente. - seu olhar se perdeu por um instante. — Thainá é uma mulher gentil, doce e me ama de verdade.
— E você?
— Ainda não sei o que sinto, mas estou gostando muito de estar com ela.
Fiber respirou fundo; sentiu-se egoísta, não queria saber da felicidade de Blade.
— Eu estou bem. Só quero descansar.
O amigo o olhou longamente.
— Por que não se levanta e faz uma patrulha? Vai te fazer bem.
— Depois.
Blade apertou os lábios. Não parecia satisfeito com sua resposta.
— Tudo bem. Amanhã estará no seu posto de trabalho?
— Claro.
Blade deu um tapinha em sua perna e se ergueu.
— Hoje à noite vamos assistir a um jogo de futebol. Vou te esperar no Clube.
— Certo.
Blade saiu e Fiber cobriu a cabeça. Pensar em sair daquela cama já o deixava cansado.
Não foi ao Clube e no dia seguinte pensou que poderia descansar um pouco mais. E no outro só queria ficar mais um tempo sozinho.
No terceiro dia, estava sentado na sala, fazendo nada, com uma lata de cerveja na mão.
— Ei.
Fiber levantou os olhos surpreso ao ouvir a voz. Haviam entrado em sua cabana e ele nem percebera! Blade e Cedar o encaravam do alto.
— O que foi?
Cedar pegou a lata da sua mão.
— Não sabia que estava bebendo.
Fiber deu de ombros. Blade sentou-se ao seu lado.
— Esperamos você ontem na segurança.
— Não estava me sentindo bem.
— Está doente? - perguntou Cedar. — Posso chamar um dos médicos.
— Só preciso descansar.
— Deixei você descansar dois dias. Eu não queria, mas Blade pediu que te deixasse em paz. - Fiber abaixou os olhos. Cedar segurou seu rosto e o ergueu. – Não pode ficar assim. E nem beber.
— A bebida me faz bem.
— Não faz bem nem para os humanos.
Suspirando fundo, Fiber virou o rosto. Blade estalou a língua.
— Eu te disse, Cedar. Ele está deprimido.
— É sobre a repórter, Fiber?
— Quero ficar sozinho. Podem ir embora?
— Para você ficar aqui se remoendo? Blade está fazendo o seu trabalho e sua equipe está preocupada com você.
Fiber apenas abaixou a cabeça. Não tinha forças para sair daquela casa.
— Cedar, acho melhor chamar a Thainá. - Blade sugeriu.
Cedar balançou a cabeça. Vira alguns espécies ficarem daquele jeito em Mercille. Eles deixavam de se alimentar , não reagiam aos maus-tratos dos técnicos e eram levados para os médicos, fracos. Alguns nunca voltavam. Ele achava que morriam de tristeza.
Agachou-se à frente do amigo.
— Você é um macho forte, Fiber. Aguentou muito mais do que a maioria de nós. Lembro como o resgatamos do Colorado. Estava pele e ossos e tão machucado que achamos que não conseguiria sobreviver. - tocou no seu joelho. — Mas você venceu tudo. E está aqui entre seu povo.
Blade deu um passo à frente.
— Você acasalou com Aruana, mas isso não é o fim. Pode voltar a amar outra fêmea.
Fiber ergueu a cabeça rapidamente. Ele não queria voltar a amar! Queria Aruana!
— Vão embora.
— Fiber, você não deve continuar assim. - declarou Cedar.
Levantando-se, Fiber viu a esperança no olhar dos amigos. Ele, porém não estava se erguendo para lutar contra a tristeza. Deixou os dois na sala e entrou no quarto, trancando a porta.
— Fiber, amigão! - Blade chamou através da porta.
Fiber não se importou. Deitou na cama e se enrolou no lençol.
— Fiber! - era a voz de Cedar.
Eles continuaram chamando-o e o incentivando atrás da porta, contudo ele os ignorou. Estava tão cansado e com tanto sono...
Enfim, os chamados se encerraram. Ouviu Cedar do outro lado.
— Vamos te deixar descansar, mas voltaremos. Você precisa se alimentar.
Fiber cobriu a cabeça. Eles que se danassem!
Finalmente, quando não ouviu nenhuma voz, deixou o sono capturar sua mente.
Não queria ficar acordado para sentir a falta de Aruana. Só conseguia pensar nos momentos que passaram juntos, do companheirismo e carinho. Conhecido por falar pouco, ele conversara mais com Aruana naquelas semanas do que o ano inteiro em Homeland III. Com ela conseguira compartilhar sobre o medo e revolta que sentia no cativeiro; para ela abrira seu coração e falara da solidão que sentia, de como se achava estranho entre seus irmãos. Com ela descobrira o prazer de tocar alguém a quem amava e ser tocado por ela.
Mas aquela intimidade não fora o bastante para Aruana. Desde o princípio ela mostrara que não queria ser sua companheira. Ele é quem fora tolo por pensar diferente.
Aspirou o cheiro dela no lençol. Breve aquele aroma desapareceria e, junto com ele, toda a excitação de desejar e amar uma pessoa.
Se perdeu em seus pensamentos e dormiu, exausto de sofrer por ela.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora