Aruana passara a última meia hora com New. O confronto com Fiber a aborrecera muito, mas também a assustara. Daria tudo para esquecer o rosto feroz e a voz cavernosa. Não era aquele Fiber que conhecia.
New enxotara Felipe e ficara com ela no galpão. Nos primeiros minutos apenas chorara, de raiva, de decepção e de medo. Depois, a mulher começara a explicar como eram os machos Novas Espécies. Falou de como eles nunca possuíram nada antes de sua libertação e que sentiram-se confusos quando descobriram a possibilidade de um relacionamento.
New contou também alguns casos de machos que se apaixonaram por mulheres humanas e o quanto que eram possessivos e dedicados. Aruana fizera muitas perguntas e quanto mais New respondia, mais ficava fascinada com a capacidade de amar dos homens Novas Espécies.
— Mas todas as mulheres concordaram em... acasalar em pouco tempo?
— Alguns machos descobriram mais tarde que sua mulher estava grávida, então demoraram um pouco.
— Foram forçados a casar?
— De jeito nenhum. É que nossos machos às vezes se confundem e confundem suas fêmeas.
Aruana ouvira tudo que New dissera e assim conseguira entender, mas não aceitar, a reação de Fiber.
Ficaram mais um pouco no galpão até ela se tranquilizar.
Quando New precisara voltar para a plantação, Aruana ficara refletindo. Fiber apenas estava inseguro e muito enciumado quando quase agredira Felipe. Conseguira entender também o olhar decepcionado quando ela menosprezara a ligação dele com ela.
Aruana precisara investigar também o seu coração. Tivera alguns relacionamentos e em alguns os homens eram possessivos, porém ela sempre terminara com eles; era muito independente para um homem se sentir seu dono. Com Fiber era diferente, o sentimento dele por ela era profundo, mais do que qualquer homem sentira por ela. E tinha que confessar que nunca se entregara a uma relação como fizera com ele.
Ele se considerava dela e a considerava dele. Ela estava pronta para viver um romance visceral? Ela poderia dar a ele o que ele ansiava ter?
Enquanto caminhava para a cabana tentara se decidir. Pegaria suas coisas e iria para Rio Branco? Deveria voltar para São Paulo e esquecer aquela aventura?
Quando chegara na cabana correra para o quarto e começara a arrumar suas bolsas. Devagar, porém pensara em Fiber e no que significava para ele. Lembrara daquela semana de loucura, mas de fortes sentimentos. Quando deu por si estava sentada na cama, em meio à uma grande dúvida. O que sentia por Fiber era diferente, mas não entendia em quê. Ficara impressionada ao perceber o quanto aquele término a incomodava.
Então o ouvira entrar e seu coração saltara com força.
Agora Fiber estava ali, olhando para ela, sua expressão mudando tão rapidamente que ela não conseguia imaginar o que ele estaria sentindo.
— Você quer conversar? - ele perguntou, mostrando desconfiança.
— Acho que precisamos.
Ele cruzou os braços.
— Estou surpreso em te ver aqui.
— Quer que eu vá embora?
Fiber franziu a testa.
— Pensei que já estaria longe.
Aruana abriu a boca para falar, mas percebeu o corte em seus lábios e um olho inchado.
— O que aconteceu com você?
— Eu lutei.
— Com quem?
— Blade e Morning.
Ela arfou, chocada.
— Você teve uma concussão lutando com Blade!
— Dessa vez eu venci.
Aruana não podia acreditar.
— Por que você lutou?
Ele franziu os lábios antes de responder.
— Não podia bater no Felipe, então lutei.
— Por que tinha que bater no Felipe?
— Ele te tocou. Mas isso não importa mais.
Ela abaixou os braços, lembrando-se do que New explicara.
— Eu quero te entender.
— O que quer entender?
Sentando-se na cama, Aruana deu tapinhas no colchão.
— Sente aqui.
— Por quê?
— Porque eu quero conversar. - Fiber ficou um instante quieto, ainda desconfiado. — Vem.
Ele abaixou os braços, porém não se aproximou. Ele a lembrou de um animal arisco. Encarou-o, esperando Fiber se decidir.
Franzindo ainda mais as sobrancelhas, ele se aproximou dela e sentou na cama. Ele estava muito suado e o corte nos lábios tinha sangue seco.
— Você me deixou muito chateada.
— Desculpe, mas eu entendi certo.
— O que entendeu?
Os olhos dele brilharam.
— Que você também quer o Felipe.
— O quê? Não, não é nada disso!
— Disse que não é minha.
Ela engoliu em seco, entretanto decidiu ser sincera.
— Eu sou uma mulher independente, Fiber. Ser propriedade de alguém é absurdo.
O olhar dele descaiu.
— Disse que não sou seu.
— Você não tem que ser. Olha, quando duas pessoas se gostam elas só querem ficar juntas. Ninguém precisa ser dono de ninguém.
— Pensamos muito diferente, Aruana.
A forma como ele disse seu nome fez seu coração aquecer.
— E você me entende?
— Não.
Ela resolveu tentar de outro modo.
— Não quero que você seja meu dono, quero que seja meu namorado.Fiber encarava Aruana. Ele não gostou de perceber que ela havia chorado, mas a mágoa doía em seu peito.
— Não entendo. Você me quer por namorado, mas não quer ser minha.
Aruana estendeu a mão e acariciou seu rosto.
— Fiber...
— Não, Aruana. Eu quero ser seu e quero que você seja minha. Não quero que o Felipe ou qualquer outro homem te toque.
Ela segurou o rosto dele entre as mãos.
— Não basta que eu só queira que você me toque?
— E os outros?
— Só você, Fiber.
Uma sensação de esperança tomou o coração de Fiber, mas o ciúme ainda era muito forte.
— Eu pedi para você não ver aquele macho. Ele quer você.
— Mas eu quero você ! Não é isso que importa?
— Não suporto que outro macho te toque.
Ela respirou fundo.
— Não deixarei que ele me toque.- prometeu.
— Não quero que ele chegue perto de você.
Ela revirou os olhos.
— Falar com o Felipe faz parte do meu trabalho. - Fiber ficou calado. Já dissera tudo o que pretendia dizer. Aruana o observava, os olhos passeando vagarosamente por seu rosto. — Você pode entender isso?
— Não.
Ela o soltou.
— Você gosta de mim, não gosta?
— Sabe que a quero como minha companheira.
— Isso é outra coisa que você precisa entender. É tudo muito recente, não posso me comprometer tão seriamente.
Fiber sabia como os humanos se relacionavam e achava uma droga. Ele tinha certeza do que queria.
— Você vai voltar para casa?
Aruana segurou seus ombros e sorriu.
— Esta é a surpresa que eu queria te contar. - ele sentiu seu coração acelerar. — Eu decidi deixar minha passagem de avião em aberto.
Fiber sentiu a esperança brotar novamente em seu peito.
— E o que isso quer dizer?
Ela roçou os lábios nos seus e ele se derreteu.
— Quer dizer que não tenho data para voltar. - ele segurou-a pela cintura, enfiando as mãos por debaixo da camiseta. Afundou os dedos na carne macia,desejando senti-la mais. Aruana o abraçou pelo pescoço. — Não vai dizer nada?
— Vai ficar longe do Felipe?
— Fiber, isso é... Não posso me anular por sua causa.
Fiber a soltou.
— Então você não quer ser minha.
— Fiber...
Ele se levantou.
— Preciso sair.
— Não. Estamos conversando.
— Você já disse tudo o que queria?
— Acho que disse, sim, mas você não entendeu...
Fiber não a entendia. Se ela o queria, então por que não aceitava ser sua?
— Vou dar uma volta.
— Não faça assim.
Ele se inclinou para ela.
— Você já me viu com raiva, Aruana. Não acho que vai gostar de ver novamente.
Ela abriu a boca, mostrando surpresa. Fiber se virou e saiu, sentindo a raiva borbulhar.
Saiu da cabana e foi na direção da floresta. Suas emoções estavam fora de controle e não queria assustá-la mais do que fizera mais cedo.
Entrou na floresta se perguntando se os machos que acasalaram com humanas tiveram as mesmas dificuldades.
Enquanto se sentisse tão chateado, não voltaria para casa.
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Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...