Capítulo 53

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Fiber se sentia fraco e desgostoso. Não eram as feridas causadas pelos tiros que o faziam sentir assim. Pensava nos dois meses que ficara sem Aruana, em como estivera deprimido, e não queria passar por aquilo de novo. Não queria amar Aruana também.
Antes de conhecê-la ele sentia que nunca conseguiria se encaixar no mundo fora de Mercile, como Justice e Jaded. Pelas suas habilidades com luta e sua capacidade de aprender rápido, ele se tornara rapidamente um oficial. Ensinaram-no a ler e escrever, dirigir automóveis e motocicletas e a usar armas. Sua seriedade e calma o fizeram fazer parte do corpo de elite que viajaria para a Europa. De terno e gravata, tinha uma figura distinta e, ao mesmo tempo, perigosa. Fora guarda-costas de Bestial na Noruega e de Jaded na França.
Fora na França, porém que sua violência se tornara evidente. Ele não se negara a socar, rasgar e estrangular inimigos da ONE e gostara daquilo. Justice percebera e o enviara para o Brasil como um prêmio, mas ele sabia que estava sendo colocado num lugar pacífico onde sua selvageria poderia encontrar equilíbrio em meio à natureza primitiva.
Mas então acontecera Aruana e ele conseguira se ver mais como homem do que fera. Por ela aceitaria tudo no mundo humano para se tornar um companheiro, um marido. Ela se fora e o deixara sem chão, voltara e o trouxera de volta à vida. Mas, para quê?
Para sentir-se constantemente inseguro? Para saber que não era o bastante para satisfazê-la e ela sempre precisaria de mais?
Cansara do mundo que lhe fora imposto, cansara de não saber quem era. Diria a Cedar que queria viver na Zona Selvagem. Deixaria seu lado animal vencer e esqueceria aquela coisa de ser um homem. Tão logo melhorasse iria se reunir a Gale e os outros selvagens.
— Oi. - virou a cabeça rapidamente ao ouvir a voz de Aruana. Sentiu seu coração dando uma cambalhota e abriu a boca, puxando mais ar. — Pensei que estivesse dormindo.
— O que está fazendo aqui? Eu disse que não queria te ver.
— Eu sei.
— Quem te deixou entrar?
— Ninguém. Eu entrei escondida.
Fiber franziu fortemente as sobrancelhas. Ele não queria vê-la.
— É melhor ir agora, Aruana.
— Eu precisava ver você.
— Eu... não quero. Falei sério com a doutora Thainá.
— Não queria me ver mesmo?
Ele a olhou de cima a baixo. Ela usava uma camisetinha florida, um short jeans e tênis branco de cano longo. Parecia fresca como se tivesse acabado de sair do banho.
— Eu vou conversar com você mais tarde.
— Mais tarde quando?
— Quando sair da UTI.
— Converse agora.
Fiber sentiu vontade de rosnar. Estava fraco demais, preferia conversar quando não estivesse tonto pela medicação.
— Amanhã.
— Eu quero falar agora.
Ela se aproximou da cama e ele inflou as narinas, sendo nocauteado pelo aroma dela.
— Não estou me sentindo bem. - ele estendeu a mão para a campainha, mas Aruana a cobriu com a mão. — O que está fazendo?
— Não vou sair daqui.
— Eu quero que saia.
— Sou sua companheira, não pode me expulsar.
Fiber estreitou os olhos; não queria brincar.
— Você mesma disse que não tinha uma aliança.
— Isso é algo que você tem que resolver.
— Aruana... Quer conversar? Está bem. - se ajeitou na cama. — Essa coisa entre nós dois... não deu certo.
— Eu sei, por minha causa.
Ele ficou surpreso com a admissão dela.
— Você tinha razão: tudo isso aqui é demais para você.
— A colônia?
— Tudo. Eu. Ser companheira.
Aruana se encostou na cama. Seus seios ficaram ao nível dos olhos dele e ele desviou o olhar.
— Eu quero isso tudo, Fiber.
— Não. Você quer a sua vida e aqui não conseguirá.
Ela tocou o seu bíceps e ele olhou para a mão morena em sua pele.
—  Quando te vi baleado fiquei apavorada de te perder. - Aruana balançou a cabeça, como se pudesse espantar o pensamento. — Eu vi que tudo o que queria era você vivo ao meu lado, me amando.
— E a sua carreira?
— Mesmo que eu nunca mais faça uma reportagem, não quero viver sem você.
Fiber a encarou. Parecia sincera, porém ela já o decepcionara antes.
— Não posso te pedir para largar tudo.
— Pode, sim. Hoje de manhã me disse que queria tudo de mim.
— Isso foi ingenuidade minha.
Ela se inclinou sobre ele e puxou uma mecha do seu cabelo.
— Não. Isso é o que você quer. Isso é o que estou disposta a te dar.
— E se eu quiser ficar aqui para sempre?
Aruana se inclinou mais e ele sentiu seu hálito; engoliu em seco.
— Eu ficarei com você.
Ele agora estava tonto não pelos remédios, mas por ela praticamente estar debruçada sobre ele. Os seios apoiavam-se em seu braço e a boca estava a centímetros da sua. Respirava o seu odor e isso mexia com seu corpo.
— Não dará certo... - murmurou, a boca enchendo d'água de vontade de morder aquele pescoço.
— Fiber... - Aruana sussurrou. — Eu te amo. E espero que você me perdoe por cada egoísmo, por cada vez que te envergonhei com seu povo.
— Você será mais feliz em São Paulo.
— Não. Serei mais feliz com você.
Fiber perdeu o controle e ergueu a mão, deslizando os dedos na curva do seu pescoço.
— Preciso te dizer...
— O quê?
— Não sou um macho bom.
— Duvido.
— Eu me controlo o tempo todo. Sinto raiva, sinto vontade de me vingar dos humanos, ferir do mesmo jeito que me feriram.
Ela abriu um pouco mais os olhos.
— Me ferir também?
— Não. - Fiber segurou seu pescoço e a puxou para ele. Ergueu a cabeça, passou o nariz na pele quente e inspirou. — Você, eu tenho vontade de dominar.
— Dominar, como? - ela sussurrou e ele podia sentir a pulsação forte no seu pescoço.
Fiber queria parar, entretanto todo o seu corpo fervia e seu pênis já estava duro.
— Quero te prender a mim. - cheirou novamente o pescoço. — Não quero que saia nem um segundo debaixo dos meus olhos. - beijou-a. — Quero te possuir várias vezes no dia até eu não aguentar mais. Quero te colocar de quatro e meter tão forte que você gritará pedindo para eu parar...
— Não pedirei.
— Não?
— Não...
Fiber passou a língua do ombro ao pescoço.
— E a fera dentro de mim quer te morder para te marcar... Sentir o gosto do seu sangue. - ele pousou os lábios na curva do pescoço. — Está com medo de mim agora, Aruana?
— Um pouco.
— E eu vou querer te morder enquanto eu gozo e te encher com meu sêmen para fazer filhos em você.
Fiber deu uma mordida de leve e ela estremeceu.
— É isso que você quer de mim?
Ele se afastou, deitando a cabeça no travesseiro. Estava muito cansado.
— É isso o que eu quero... mas me controlo por você.
Aruana acariciou seu rosto.
— Já vi você sem controle.
— E te feri.
Ela deu um sorrisinho.
— As mordidas eu não quero, mas gostei daquela parte sobre me fazer gritar de quatro e...
Ele a puxou e devorou seus lábios. As feridas no seu peito repuxaram e sentiu dor, porém sua fome dela era maior.
Enfiou o dedo entre os cabelos curtos, puxando um pouco, invadindo sua boca sem reserva nenhuma. Ele amava demais aquela mulher!
— Senhor Fiber!
Fiber afastou a boca e olhou para ver quem os interrompera. A enfermeira Sueli estava parada no meio da sala, segurando uma bandeja de ferro e parecendo muito irritada.
— Vocês sabem que isso aqui é uma UTI? E que o senhor passou por uma cirurgia delicada? - Aruana se ergueu, mas Fiber a segurou. — E posso estar enganada, mas essa mocinha não estava proibida de entrar aqui? Pelo senhor?
— Ela é minha companheira.
— E isso resolve tudo, não é? - ela colocou a bandeja sobre o armário de cabeceira e se virou para Aruana. — Ele deveria estar dormindo.
— Me desculpe.
— Melhor voltar amanhã.
— Não. - Fiber falou. — Ela fica.
A enfermeira olhou de um para o outro.
— Tenho que falar com a doutora Thainá.
— Certo.
Ela apertou os lábios e encarou Aruana.
— Preciso administrar a medicação.
Aruana se soltou de Fiber e se afastou do leito.
— Me desculpe. - repetiu.
Ela ficou de lado, enquanto Sueli injetava substâncias em seu acesso venoso. Fiber  olhou para sua mulher durante todo o tempo.Quando a enfermeira terminou e saiu resmungando, ele estendeu os braços para Aruana que se entregou ao abraço.
— Não quero te machucar.
— Não vai. - ele falou, sentindo sono.
Aruana perscrutou seu olhos.
— Nós estamos bem, Fiber?
— Você quer ser realmente minha companheira? - indagou, com a voz arrastada.
— É o que mais quero.
Fiber sentia os olhos muito pesados.
— Eu te amo, Aruana.
Ela sorriu para ele.
— Tenho uma coisa para te contar.
Ele fechou os olhos.
— Conte. - abaixou os braços.
Quando Aruana encostou os lábios no seu ouvido, ele sentiu que apagaria.
— Você já fez um filho em mim. Você vai ser pai.
E então ele adormeceu.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora