Capítulo 35

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Fiber caminhava verificando as altas cercas que davam para a floresta. Era um trabalho diário e, mesmo sendo o chefe da segurança, também o fazia. E precisava mesmo daquele trabalho.
Aquela semana fora difícil. Tentava blindar o seu coração para não sofrer mais decepções com Aruana. Ela nunca dissera o que sentia por ele e se negara a ser sua companheira. Ele tentara
sentir menos, desejar menos, porém mal conseguia passar o dia longe dela. Quisera passar a noite fora, porque simplesmente não aguentava mais se conter com ela.
Fiber sabia sobre a loucura que acometia os machos com as humanas, sabia sobre os acasalamentos e sabia sobre a forte ligação entre o macho e sua fêmea. O que não sabia era que ele poderia se apaixonar por uma fêmea que não desejava ser sua companheira. Não sabia como agir. Só sabia que aquela situação o machucava. Muito.
Caminhava com Cloud, atento a qualquer buraco na cerca e invasão de algum animal de porte grande. O macho era silencioso, porém muito habilidoso e Fiber achava confortável trabalhar com ele.
Testavam uma parte da cerca que havia sido reparada há poucos dias quando o telefone de Fiber tocou.
— Fiber.
Preciso que você faça algo. - era Cedar.
— Estou em patrulha agora.
Eu sei, mas você precisa voltar agora.
— O que houve?
Leona tentou atacar Aruana.
O coração de Fiber sofreu um baque.
— Como é?
Leona foi para cima de Aruana.
— Ela está ferida?
Talvez alguns hematomas.
Fiber gemeu.
— Ninguém impediu Leona?
-— Foi muito rápido. Ela agarrou sua fêmea; foi tudo o que fez.
— Aruana está no Centro Médico?
Não. Ela foi com a Estela de Vengeance. - Cedar hesitou. — Fiber, Leona está muito abalada.
— Ela está abalada? Atacou minha mulher.
Você sabe como os espécies são quando se apaixonam. Ela pensou que você sentia igual.
Franzindo a testa, Fiber pensou que Cedar o estava responsabilizando.
— Não fiz nada para dar essa impressão a ela.
Seja compreensivo. Depois que verificar Aruana, me procure.
— Certo. - Fiber encerrou a ligação e virou-se para Cloud. — Você ouviu?
Cloud assentiu com a cabeça. Fiber correu, pegou a moto que usavam para a patrulha das cercas e disparou para a vila residencial.
Ele sentiu-se mal por não ter protegido Aruana. E sentiu-se mal por não estar atento à Leona.
Não conseguia entender. Sua amiga era doce, sensata e, apesar de ver o seu ciúme, nunca imaginaria que ela pudesse ser capaz de violência. Violência que poderia afastar Aruana ainda mais dele.
Entrou na vila e foi até a casa de Vengeance. No jardim havia diversos brinquedos infantis, mostrando que aquela era uma casa onde reinava uma criança. Enquanto desligava a motocicleta, viu movimentos na janela da sala.
Saltou do veículo ao mesmo tempo que a porta abria. Vengeance estava com Peace agarrado à sua perna e o menino saltitou ao vê-lo.
— Tio Fiber!
— Olá, Peace.
O garotinho ergueu os braços e Fiber o pegou no colo.
— Vai dormir aqui? - Peace perguntou, animado.
— Não.
— Tia Arana tá aqui!
— É, eu sei. - olhou para Vengeance. — Onde ela está?
— No meu quarto. Venha.
Fiber atravessou a casa com Peace no colo. Ven foi na frente e, quando chegou à porta, seu coração sofreu outro baque. O doutor Bishop estava no quarto, inclinado sobre Aruana na cama. Ela estava muito ferida?
Ela levantou os olhos e o viu. Os olhos escuros se encheram de lágrimas. Fiber entregou Peace ao pai e foi até à cama;Bishop passava uma pomada malcheirosa no braço de Aruana, mas recuou quando o viu.
Breeze o olhou com os olhos atentos.
— Fiber, está tudo bem.
— Veremos.
Fiber sentou-se na cama e a puxou para seu colo; Aruana o abraçou, escondendo o rosto no seu peito.
— Ei... - ele acariciou seus cabelos. Ela começou a chorar. — Tudo bem. Está tudo bem.
Estela fez sinal para o doutor Bishop , Vengeance e Creek e saíram do quarto.
— Desculpe. Eu devia estar aqui para você. - ela o apertou. — Me desculpe, bebê.
Fiber puxou os braços dela e procurou os ferimentos. Mesmo sob a pele morena, os hematomas estavam evidentes e viu marcas de unhas. Um ódio subiu pela sua cabeça e esqueceu que Leona era uma fêmea; quis castigá-la pelo que fizera à sua mulher.
Segurou suas mãos e encostou a testa na dela.
— Sinto muito.
Aruana respirou fundo.
— Eu não pude fazer nada. Ela apenas me segurou e...
Fiber beijou seus olhos úmidos.
— Está tudo bem agora.
— Ela estava com tanto ódio e magoada.
— Ela não deveria ter ameaçado você.
— Tive medo que ela me machucasse mais.
— Os outros impediriam.
Aruana afastou o rosto e ele viu o medo nele.
— Se ela quisesse poderia ter me matado, Fiber.
Ele sabia daquilo e também foi tomado pelo medo. Leona poderia ter matado Aruana.
— Não aconteceu.
— Não, mas e numa próxima vez? E se ela me encontrar sozinha?
— Você nunca estará sem uma escolta.
Aruana franziu as sobrancelhas e Fiber beijou o vinco entre elas.
— É por isso que as pessoas precisam de escolta para circularem aqui? Porque um Nova Espécie pode atacá-las?
Fiber respirou fundo. A ONE era muito reservada sobre as diferenças das Novas Espécies; tomava o cuidado para não revelar o quanto eram  voláteis e ainda selvagens.
— Isso é informação sigilosa, não é para sua reportagem. Há alguns espécies mais selvagens do que os outros e que não conseguem conviver com humanos. Possuem uma zona especial na floresta, mas se eles vierem até a habitação os humanos estão protegidos.
Ela o encarou por um longo momento.
— Quer dizer que há Novas Espécies que podem matar  humanos se encontrarem um?
— Nunca aconteceu de matarem um inocente, mas o Conselho se previne.
— E Leona?
— Conversarei com ela. Não a incomodará mais. -  a respiração de Aruana estava pesada e Fiber quase podia ver seus pensamentos. Ela estava com medo. — Você está segura.
— Como estive no Clube?
— Eu passarei a fazer sua escolta.
— E o tempo que eu ficar aqui com você estarei exposta a um Nova Espécie que pode enlouquecer e decidir me atacar?
— Isso não vai acontecer.
— Mas pode acontecer?
— Os espécies não atacam mulheres.
— E Leona?
— É a primeira vez que ouço falar em algo assim.
Aruana ficou quieta. Ela escondeu o rosto em seu pescoço e Fiber a balançou, sem saber que a embalava como se fosse uma criancinha.
Fiber pensou que se ela não sentira vontade de ser sua companheira, agora mesmo que não aceitaria. Beijou sua testa.
— Dou minha palavra a você, Aruana, de que Leona não a incomodará mais. E te protegerei pessoalmente.

Aruana passara a última hora ouvindo Estela numa tentativa de tranquilizá-la sobre o momento que vivera. Estela jurara que nenhum Nova Espécie feriria um humano inocente, mas Aruana sentia a dor nos braços para lembrá-la que poderiam ferir, sim.
Não quisera chamar Fiber, porém tudo o que queria era se esconder em seus braços.
Sentira medo, muito medo mesmo de Leona. Ela não se parecia nada com a mulher gentil que conhecera. Leona amava Fiber ao ponto de odiá-la!
Ficou ressentida por ter causado aquela mágoa à mulher, mesmo sem intenção.Olhou ressabiada para Fiber. Ele mudara nos últimos dias. Continuava ardente na cama, contudo se tornara distante. Será que fora aquilo que acontecera no relacionamento com Leona? Ele a convencera que era especial e depois se desinteressara?
— O que foi? - perguntou Fiber. — Por que me olha assim?
Aruana desviou o olhar.
— Estou pensando em Leona.
— Ela não irá te incomodar, acredite.
Com um suspiro, Aruana espalmou as mãos no peito amplo.
— Acho que é melhor irmos para a sua cabana.
— Está bem.
Ele se colocou em pé com ela no colo.
— Fiber, me coloque no chão. Meus braços que estão machucados, não minhas pernas.
— Vou te carregar.
Ele foi para a sala. Peace os viu e gritou.
— Tia Arana tá no colinho!
Aruana olhou para Estela.
— Muito obrigada por tudo.
— Se precisar de mim é só me ligar. - estendeu a pomada para ela. — O doutor Bishop deixou para você.
— Obrigada.
Fiber agradeceu.
— Obrigado, Estela e Ven.
Ven apenas assentiu com a cabeça e abriu a porta.
— Tchau, Peace. - Aruana se despediu do garotinho.
— Dorme aqui!
Estela pegou o menino no colo.
— Tia Aruana tem que ir.
— Ah!
Fiber atravessou a porta e Aruana se aconchegou nele. Estava emocionalmente exausta e queria apenas dormir.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora