Aruana saiu da casa de Fiber deixando-o com Blade. Fiber não queria e Blade insistiu para ele deitar, mas somente quando ela pediu, ele aceitou deitar um pouco.
Ela caminhou de volta para o escritório. Pediria a Estela o contato de Felipe. Decidira visitar a tal maternidade de vegetais da qual o agrônomo falara.
Sentia-se abalada. A experiência com Fiber a deixara desnorteada. Nunca estivera tão sensível a um homem assim; era como se ele exalasse feronômios que despertassem uma atração sexual primitiva. Saíra da casa dele decidida a se controlar, não misturaria trabalho com... Nossa, seria muita diversão!
Entrou nos escritórios e foi até a sala de TI, procurar por Estela. Bateu na porta da sala e entrou. A temperatura na sala estava bem abaixo da temperatura ambiente. Uma Nova Espécie acenou para ela, era Leona.
— Oi. Voltou?
— Vim falar com Estela.
— Ela saiu para dar almoço ao Peace. Ele gosta de almoçar com ela.
— Peace é a única criança aqui?
— Não. Temos dois bebês Novas Espécies e cinco crianças dos funcionários.
— Há uma creche?
— Sim. Fiber não te levou lá?
— É que ele teve um acidente.
Leona se levantou e sua cadeira rolou para longe. O humano e os dois Novas Espécies na sala pararam o trabalho.
— Que acidente?
— Ele lutou com Blade e teve uma concussão.
A mulher arfou.
— Eu tenho que ir ao Centro Médico.
— Ele já está em casa.
— Então eu vou lá.
Aruana lembrou-se de Leona se oferecendo para ir para casa com ele. Deu a próxima informação com cuidado.
— O Blade o fez se deitar. Precisa fazer repouso.
— Você estava lá?
— Eu o acompanhei do Centro Médico.
Leona a encarou.
— Por que o acompanhou?
— Ele estava tonto.
A linda Nova Espécie franziu a testa.
— Você estava sozinha com ele?
— Blade chegou e está lá.
— Sei... - Leona arrumou a cadeira. Virou-se para um Nova Espécie. — Voltarei daqui a pouco.
Ela balançou a cabeça para Aruana e saiu.
Aruana ficou um instante em silêncio. Não fizera nada de errado, mas se sentia como se tivesse feito. Olhou para o homem.
— Você tem o contato do engenheiro agrônomo?
— O Felipe?
— Isso.
O Nova Espécie pegou o telefone celular e disse os números para ela.
— Quem é a sua escolta? - o homem perguntou.
— Era o Fiber.
— Mas se ele está ferido, precisa de outra.
— E o que eu faço agora?
— Espere aí, vou ligar para o Blade.
Aruana esperou o rapaz falar com Blade.
— Ele vai mandar alguém.
Menos de dez minutos depois, uma fêmea chamada Firmness veio acompanhá-la. Aruana aceitou de boa vontade, pois precisava continuar o seu trabalho e esquecer aquele fogo que tomara conta do seu corpo.
Ligou para Felipe e marcou de encontrá-lo. Voltou para a cabana e Firmness a aguardou na varanda. A mulher era bem quieta.
Aruana passou a hora seguinte fazendo anotações e revisando as fotografias. Ficou um tempo admirando uma em que Fiber segurava uma orquídea que pendia de uma árvore. Ela tirara aquela foto quando ele estava distraído; o homem gigante segurando a planta delicada fazia um contraste instigante.
No meio da tarde sairam para encontrar Felipe. O rapaz mostrou animação ao vê-la.
— Oi, Firmness.
— Olá, Felipe. Está sumido; não tem ido ao Clube.
— Estou dando um tempo.
— Entendo.
Felipe tocou o ombro de Aruana.
— Achei que não teria tempo para mim hoje.- ele disse.
Ela contou sobre o acidente de Fiber e ele balançou a cabeça, rindo.
— É normal isso acontecer.
— Estou curiosa para ver sua maternidade.
Ele deu um sorriso e tirou o chapéu. Era muito bonito e parecia ser jovem.
— Vamos lá?
— Vamos, sim.
Felipe a levou na direção do criadouro e ela viu uma grande estufa no meio da floresta. Quando entrou viu muitas bancadas com plantas em diversas fases de crescimento. O engenheiro agrônomo mostrou experimentos.
O restante da tarde passou tranquilamente e ela evitou pensar em Fiber. No final da visita à estufa, Felipe as acompanhou de volta ao vilarejo. Firmness ficou alguns metros atrás. Aruana achava Felipe muito simpático e engraçado.
— Escute, Aruana, quer tomar café comigo?
— Claro. Estou precisando mesmo.
— Aqui temos uma comunidade unida. De humanos, como os espécies nos chamam.
— Não convivem bem com eles?
— Às vezes a comunicação é quebrada. Somos diferentes.
— Fisicamente?
— Ah, isso com ceteza. - ele mostrou os bíceps. — Nem que eu passe o dia na academia chegarei perto desses caras. - sorriu com ela. — Eu falo sobre hábitos. Sabe, costumes.
— Por exemplo?
— Você nunca verá um Nova Espécie cansado. Eles ficam acordados até o início da madrugada e dormem umas quatro, cinco horas por noite. Temos horários diferenciados de trabalho e refeições. Imagino as humanas que têm filhos com eles.
— Eu conheci a Estela.
— Tem a Kauane e a Rosângela que têm bebês. Fora as outras que estão grávidas.
— Há muitos casados?
Ele fez uma careta engraçada.
— A colônia tem um ano e houve treze casamentos. Fora as mulheres de Santa Rosa que passam o final de semana aqui.
— Sério?
— Esses caras não perdem tempo.
Aruana notou o incômodo de Felipe.
— Você é contra?
— Eu? Não. - abaixou a voz. — Tive um lance com uma das mulheres deles.
— E não deu certo?
— As mulheres gostam de serem livres para trocarem de parceiros. Eu não quis.
— Como assim serem livres?
— Rain, a minha ex-namorada, disse que elas eram forçadas no cativeiro a ter sexo com os machos.
— Que horror!
— Se elas não concordassem os machos eram torturados e, às vezes, elas também.
— Não me admira que nem todo Nova Espécie goste dos humanos.
— Temos uns aqui assim.
— O quê?
Chegaram no Clube e Felipe mudou de assunto quando Firmness os alcançou. A mulher a encarou.
— Esperarei aqui fora.
— Tem certeza.
— Tenho, fique tranquila.
Entraram no Clube e Felipe continuou.
— Está gostando da sua visita até agora?
— Ah... Estou, sim. Vi a administração, as plantações e o ginásio. Amei os porquinhos.
— Se tiver tempo amanhã, posso te mostrar os pomares.
— Pode ser.
Serviram-se do café e sentaram a uma mesa. Aruana notou que só havia humanos.
— E as Novas Espécies, não tomam o café da tarde?
— Como almoçam muito cedo, eles fazem outra refeição entre duas e três da tarde. Muita carne.
— É, reparei que é a principal dieta deles.
— Os felinos adoram a piraíba. Cru.
— É um peixe?
— Um bem grande,
— Bom, eu gosto de sushi.
Os dois riram e continuaram a conversa.Na saída, Aruana se ofereceu para mostrar algumas fotos. Caminharam para a cabana de Creek.
Uma mulher Nova Espécie muito alta, de volumosos cabelos castanhos, parou à frente deles, abruptamente e Firmness se aproximou. A mulher encarou Felipe, com as mãos na cintura.
— Está com sua amiga repórter?
— Oi, Rain. Esta é Aruana.
A mulher a olhou de cima a baixo e Aruana precisou se controlar para não recuar.
— Olá, humana.
— Boa tarde. - cumprimentou, estendendo a mão.
Rain a ignorou.
— Me disse que estava muito ocupado.
— E estou.
— Mas está passeando com a humana.
Aruana mordeu os lábios, reconhecendo uma mulher ciumenta.
— E daí? - Felipe perguntou sem paciência.
A mulher arregalou os olhos.
— Não tem tempo para mim por que não quer?
— Pensei que você tivesse muitos fãs para te dar atenção.
— Gosto da sua atenção.
— E dos outros também!
Muito constrangida, Aruana pensou em se retirar.
— Olha, gente...
— Você quer me dominar, é isso?
— E você quer ser livre. Então vá ser!
— Felipe... - Aruana tentou falar, mas a mulher se virou e saiu pisando duro.
Felipe passou a mão pela testa e depois a olhou, parecendo envergonhado.
— Me desculpe por isso.
— Tudo bem.
— Ela não me entende e nem eu a ela.
— Ela parecia bem enciumada.
— Mas não quer que eu sinta ciúmes. - passou novamente a mão pela testa e olhou de lado para Firmness. — Essas criaturas são muito temperamentais. Não ligue para Rain.
— Espero que não.
Felipe olhou para baixo e esfregou o pé no chão.
— É difícil conviver com Novas Espécies, mas eles são fascinantes.
— Estou vendo.
— Sabe, a maioria deles deve ter quase quarenta anos, parecem ter menos de trinta e, apesar de extremamente inteligentes, são emocionalmente imaturos.
Um rosnado veio de Firmness e Aruana se espantou.
— Não gosta de nós, Felipe? - a mulher perguntou.
— Sabe que gosto.
— Não faça a repórter pensar mal de nós.
— Eu disse alguma mentira?
— Não.
Aruana achou Felipe muito corajoso para discutir com aquela mulher de aparência feroz . Para sua surpresa, ele segurou a mão dela.
— Não fique chateada, Firmness. Estou com ciúmes.
— Eu sei. - olhou-o com o que parecia pena.
Ele apertou os lábios.
— Aruana, nos vemos amanhã, ok?
— Tudo bem.
— Tchau, então.
Ele se despediu das duas e se afastou. Aruana olhou para Firmness. Aquelas Novas Espécies eram incríveis mesmo! Eles eram grandes, fortes e podiam ser ferozes, porém tinham um lado quase infantil. Pensou no homem gigante que era Fiber e de seu rosto adormecido. Tinham um lado muito sensível.
— Firmness, podemos fazer uma visita?
— É claro.
— Gostaria de ver se o Fiber melhorou.
— Certo.
Aruana seguiu a bela mulher e não quis pensar no motivo de sentir um frio no estômago.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanficQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...