Capítulo 49

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Aruana estava arrasada. Fiber caminhou ao seu lado em silêncio. Afastava a vegetação para ela passar, lhe dava a mão quando precisava transpor algum obstáculo e a amparava em descidas, mas sempre em silêncio.
Ela teve bastante tempo para refletir sobre suas ações. Nunca fora chamada de inconsequente, era tida como pró ativa e destemida. Sua independência sempre fora valiosa para ela e se destacara na vida por isso.
O que machucava o seu coração era que Fiber tinha razão; ela sempre se colocava em primeiro lugar.
Imaginou como teria sido para ele ter seus amigos testemunhando que não tinha absolutamente controle nenhum sobre quem consideravam sua mulher. Seu rosto queimava quando lembrava que ele dissera que ela o envergonhara. Várias vezes.
Pensou que na sociedade Novas Espécies, os homens eram muito másculos e controladores. E ela passara por cima daquilo.
Não que achasse que deveria se submeter à Fiber, porém ele ficara com raiva com a história do Felipe, mas se controlara por ela. Ela partira deixando-o infeliz e ele a recebera de volta. E agora? Ele a perdoaria por sua ousadia? Ser uma companheira era mais difícil do que pensava.
Cedar pediu que descansassem um pouco e ela agradeceu intimamente, pois estava muito cansada. Fiber carregava o seu equipamento, entretanto o calor e a umidade estavam acabando com ela.
Fiber entregou uma garrafinha de água para ela.
— Sente-se um pouco. - ele falou com a voz tranquila, mas não a encarou.
— Eu trouxe água.
— Economize a sua para a volta.
— Está bem.
Ela olhou ao redor. Os homens colocaram seu equipamento no chão, os Novas Espécies, no entanto, permaneceram com seus fuzis em prontidão.
Aruana queria que Fiber a olhasse, que lhe dissesse algo, contudo ele continuou perto dela e sem falar. Sky e Blade a olhavam com gravidade e ela percebeu que fizera realmente uma enorme besteira.
Cedar se dirigiu a ela.
— Pronta para ir?
— Ah, sim, claro.
Foi então que Aruana entendeu que Cedar só fizera a parada por causa dela. Sentiu-se agradecida e envergonhada.
Fiber estendeu a mão e a levantou. Aruana não soltou sua mão.
— Fiber...
— Agora não. - declarou e soltou sua mão.
O rosto dela queimou ao perceber que Blade e Sky ouviram o corte dele. Decidiu que era melhor dar um tempo.
Caminharam por mais vinte minutos e pararam com um sinal de Lion. Ele disse algo para Cedar, que chamou o líder dos policiais. Ele e Cedar chamaram alguns homens e logo a informação se espalhou.
Cedar transmitiu para Fiber.
— Chegamos na tribo. Você vai com uma equipe à leste e eu irei à oeste.
— Certo.
— Os comunicadores deles estão na nossa frequência. Vamos?
Finalmente Fiber a olhou.
— Não posso deixa-la aqui, mas preciso que faça tudo o que eu disser.
— Eu farei.
Ele lhe deu um olhar intenso.
— Aruana, eu preciso que me obedeça.
— Eu prometo que te obedecerei. Prometo.
Fiber respirou fundo.
— Fique atrás de mim.
Aruana sabia que merecia aquela desconfiança. Queria abraçar Fiber e pedir que a perdoasse. Queria que ele soubesse que ela se esforçaria para ser uma boa companheira.
Ele e Cedar caminharam sem fazer barulho e os policiais os seguiram. Aruana ficou atrás do seu amor, a câmera a postos e pediu a Deus que os guardasse.

Fiber não tinha medo de confronto, mas o evitava, porque se sentia descontrolado. Para dizer a verdade, a adrenalina circulando em seu corpo o fazia se sentir muito bem. Quase feliz. Sabia que seu DNA de fera o fazia tender para a violência e era através de uma luta que ele a extravasava. Era violento e o aroma do sangue acelerava o seu coração.
Entretanto, naquele momento daria tudo para estar no seu sofá com Aruana. O medo por vê-la correr perigo era maior do que a decepção que ela lhe causara. Seu coração estava dolorosamente ferido desde que a encontrara na floresta, porém seu instinto era de protegê-la. Deixaria para depois o que faria com ela.
Sentia-se mais do que desconfortável, pois toda sua atenção estava na mulher irritante atrás dele e não nos garimpeiros que cercariam.
Chegaram numa parte da floresta que permitia ver a clareira onde estava a tribo. Várias malocas se alinhavam formando um semicírculo. Ele podia ver além da aldeia um riacho onde muitos homens garimpavam. Indígenas carregavam baldes e bateias, enquanto vários homens apontavam rifles para eles. Outros homens armados vigiavam o perímetro.
Cedar fez um sinal para se preparar. Fiber se virou para Aruana.
— Fique aqui. Se proteja atrás da árvore. - falou e tirou o capacete.
Aruana soltou uma exclamação quando ele o colocou sobre sua cabeça. Ele tirou o colete.
— Não, Fiber!
— Fique quieta.
Fiber vestiu o colete nela que ficou imenso.
— Mas você vai ficar descoberto!
— Eu fiquei na hora que te vi na floresta. - os lábios dela formaram um O e não comentou. Fiber respirou fundo, puxou-a pelo colete e encostou a testa na dela. — Pelo amor do seu Deus eu te peço, não saia daqui, não importa o que aconteça.
Aruana segurou seu rosto.
— Eu prometo. Tome cuidado. - ela beijou seus lábios. — Eu te amo.
Fiber fechou os olhos. Queria que ela estivesse a salvo. Beijou-a de volta e a soltou.
Fiber se aproximou de Cedar e alguns policiais. Devagar, o grupo saiu da floresta, entrando na aldeia com o maior silêncio possível.
A um sinal de Cedar, o lider da polícia gritou.
— Polícia Federal! Parados!
Os homens armados se assustaram e se viraram na direção deles. Fiber viu o grupo de Sky se aproximando à oeste.
E o tiroteio começou.

Aruana deu um pulo de susto quando ouviu o primeiro tiro. Em seguida ela viu mais homens armados surgirem.
A aldeia se tornou uma zona de guerra. Os policiais se espalharam se protegendo das balas, mas os Novas Espécies correram na direção dos atiradores.
A velocidade deles era irreal ! Fiber, Lion e Gale saltaram tão alto e tão longe que o queixo de Aruana caiu. Gale praticamente caiu em cima de um atirador e com um golpe forte arrancou a arma de sua mão. Fiber e Lion aterrizaram na frente de três homens e se jogaram contra eles, enquanto Cedar e seu grupo se aproximavam por trás dos outros. Os Novas Espécies ziguezagueavam para evitar as balas que zuniam de todas as direções. Outros reagiram ao ataque de garimpeiros armados com facões.
Aruana arregalou os olhos diante do ataque veloz e violento dos Novas Espécies. Seus corpos enormes pareciam leves, enquanto corriam e saltavam para alcançar os bandidos. Um soco deles lançava um homem à distância e ela pensou em como ficariam os homens que se engalfinharam com eles.
Foi uma luta rápida e brutal; ela mal tivera tempo de tirar fotos.
A Polícia Federal começou a imobilizar os homens caídos no chão ou presos pelos Novas Espécies, enquanto Wolf e outro grupo percorria as malocas.
Aruana procurou por Fiber. Ele estava de costas para ela , uma mão segurando o ombro de Lion. O homem imenso gritou algo e alguns homens correram para eles. Aruana viu Cedar parar na frente de Fiber no momento em que os joelhos dele dobraram. Ela gritou quando Lion e Cedar o agarraram, evitando que Fiber caísse no chão.
— Fiber!
Aruana ignorou a ordem dele para não sair do esconderijo. Saiu da floresta e tentou correr, porém o colete era muito pesado e tropeçou. Ela caiu e um Nova Espécie veio em sua direção. O homem começou a levantá-la.
— Fiber! - ela gritou novamente.
Fiber fora deitado no chão, a cabeça descansando no colo de Cedar.
Aruana lutou para tirar o colete e o Nova Espécie a ajudou. Livre, ela correu para Fiber.
Blade a segurou quando chegou perto dele.
— Espere, Aruana.
— Fiber!
Com horror, ela viu duas manchas molhadas em sua camisa preta. Arregalou os olhos ao perceber os furos no centro das manchas. Fiber fora baleado!
— Não!
— Calma.
— Me solte!
Mas Blade não a soltou. Um policial se ajoelhou ao lado de Fiber, enquanto outro rasgou sua camisa. Aruana perdeu o ar quando viu os dois orifícios sanguinolentos, um no peito direito e outro mais abaixo.
Ela ouviu um zumbido alto e tudo ao seu redor começou a escurecer.
— Fiber... - murmurou e apagou.

Fiber: Uma história Novas Espécies 4Onde histórias criam vida. Descubra agora