Capítulo 66

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Eu marquei de encontrar o Bryan em uma cafeteria perto da casa dele e assim que coloquei os pés no local avistei um loiro gatíssimo olhando em minha direção e acenando. Impressionante, o tempo passa e desgraçado parece que fica mais lindo ainda. A vida não é justa.

-Finalmente chegou, achei que me daria um bolo.- fez biquinho me encarando.

-Deixar um homem gostoso me esperando? Não é do meu feitio, me desculpe se dei a você essa impressão.- coloquei a mão no peito de forma afetada.

Nós dois rimos e olhei rapidamente pro cardápio, era melhor ter pedido pra encontrar ele em um bar, a noite seria tão mais fácil se eu tivesse com álcool até nas minhas células. Bom, já que não tinha um bom vinho pra acalmar meus nervos, eu iria encher a cara de capuccino de chocolate com muito chantilly. Fizemos nossos pedidos e aguardamos por eles na mesa.

-Preciso te contar algumas coisas.- falei assim como quem não quer nada trazendo sua atenção para mim.- Bom, eu meio que... Eu e o Derek estamos juntos.

-Uau, tô chocado porém não surpreso. Era previsível que vocês ficassem juntos, ou ficasse com o Liam, na verdade eu sempre achei que fosse o Liam.- murmurou coçando sua barba rala e colocou o cardápio em cima da mesa.

-E por falar em Liam, estou aqui justamente pra falar sobre ele.  Eu sei que no fundo você não esqueceu ele.- arqueei minha sobrancelha o encarando.

-Ta tão na cara assim?- choramingou derrotado.

-Ta, e eu como uma boa amiga estou aqui pra te dizer: REAGE CARALHO!- gritei tão alto que as pessoas na cafeteria olharam em nossa direção, escondi meu rosto com o cardápio e esperei a poeira baixar pra concluir a conversa.- Bom, como eu ia dizendo, você precisa reagir. Se reaproxima dele mas como um amor em potencial e não como amigo, eu sei que você foi um babaca no passado mas agora você tem a chance de fazer diferente. Conquista teu homem, bro!

Falei séria o encarando e ele estava tão chocado que nem ao menos disse alguma coisa. A garçonete trouxe nossos pedidos e eu aproveitei meu capuccino enquanto esperava o Bryan reagir de alguma forma ao meu discurso.

-Você tem razão, eu fui um idiota no passado mas posso mostrar que mudei. Eu posso conquistar ele de novo.- finalmente falou com um largo sorriso no rosto.

-É assim que se fala, esse é meu pãozinho!- sorri o apoiando.

-Obrigada pelo conselho Docinho.- sorriu de lado e olhou em meus olhos.- Estamos de volta?

-Estamos.- sorri entendendo ao que ele se referia.

E aquilo era tudo que eu mais queria, as coisas finalmente estavam caminhando para estarem onde sempre deviam estar. Minha amizade com Bryan, meu lance mal resolvido agora resolvido com Liam, o meu romance com o Derek e agora, o fim do meu ciclo confuso com o Seung. Tudo devia ser assim desde do início, mas bom, nunca é tarde para colocar as coisas no lugar e foi exatamente por isso que eu estava parada em frente a porta do Seung esperando que ele abrisse a porta.

-Lilian?- franziu o cenho confuso ao abrir a porta.- Eu não esperava te ver aqui.

-Acho que ainda temos assuntos pendentes, atrapalho?- perguntei mordendo meu lábio inferior meio incerta.

Ele parecia cansado, havia olheiras embaixo de seus olhos e ainda estava usando uma calça social mesmo que a blusa fosse uma leve e sem mangas, acho que havia acabado de chegar do trabalho.

-Não, sem problemas. Entra.- deu espaço me deixando entrar.

Engoli seco me sentindo um pouco nervosa, conversar com os outros dois foi mais fácil com toda certeza do mundo. Ficamos um tempo calados apenas nos encarando até que eu resolvi quebrar o silêncio.

-Me desculpa.- falei suspirando pesadamente e ele me encarou em um misto de surpresa e confusão.- Você tinha razão, eu não tinha o direito de te esconder a existência do Alec e nem tinha direito de impedir que vocês se aproximarem e criarem laços. Acho que me cérebrozinho de mãe narcisista sentia medo que ele amasse mais alguém que não fosse eu. Fui um monstro, com vocês dois.

Seung me encarava atônito até que pigarreiou limpando a garganta, ele parecia querer falar alguma coisa mas parecia que nem ele próprio sabia o quê.

-Eu... Também quero me desculpar, também agi feito babaca na última conversa que tivemos e isso tem me assombrado.- coçou a nuca e olhou para os pés envergonhado.- Ser pai, isso me pegou muito de surpresa, fiquei puto, eufórico, assustado... Tudo tava uma grande bagunça aqui dentro, bom, ainda tá mas de toda forma não justifica ter te tratado assim.

Certo, eu fiquei surpresa de verdade. Seung Park se desculpando, admitindo que errou e envergonhado? É, aquilo era uma evolução e tanto. Os cientistas estão certos, tudo está em constante evolução. Quase bati palmas de tão chocada que estava com aquilo, mas consegui me controlar.

-Lilian, eu quero conhecer ele e...- o interrompi já sabendo o que ele pediria.

-Tudo bem, não vou te impedir. - concordei sorrindo fraco.- Você tinha razão eu estava sendo egoísta misturando o que tivemos com o medo de ficar sem ele, acabei esquecendo que a coisa mais importante é o que ele quer, ele é um ser humano e cabe a ele a decisão de te querer ou não em sua vida. Alec é a coisa mais importante do mundo pra mim, espero que um dia seja pra você também.

Novamente ele pareceu surpreso e afetado por minhas palavras. Colocou as mãos no bolso da calça e me encarou abrindo um pequeno sorriso.

-Acredite ou não ele é. Desde o dia que eu descobri que sou pai não paro de pensar nele.- seu olhar transparecia sinceridade e aquilo foi um alívio pra mim.- Eu quero fazer parte da vida dele, Lia. É meio louco isso mas eu já o amo, nem o conheço e a pouco tempo nem sabia da sua existência mas eu te garanto, eu amo nosso filho.

Sorri sentindo meus olhos marejarem. Amor paterno e materno as vezes era assim, inexplicável, a gente ama antes de conhecer. Eu sei, algumas mães e pais precisam criar uma conexão, outros a conexão é instantânea e alguns essa conexão nunca surge. É meio triste pensar na última possibilidade, mas eu me sinto feliz por ter sido tão fácil pra gente. É, amar meu pimpolho era fácil.

-Ele sabe sobre você, ficou com medo de você não gostar dele mas eu garanti que não existe ninguém no mundo que não gostaria daquele carinha. Ele é um idoso no corpo de uma criança, fala sério, tem como não amar?- sorri limpando as lágrimas que escorriam por meu rosto e ele sorriu também.

-Bom, pode avisar a ele que eu também tô com medo que ele não goste muito desse velho sem graça aqui. Não costumo ser muito popular entre as crianças.- apontou pro próprio rosto que quase sempre havia uma expressão dura ali.

-Relaxa, vocês são igualzinhos, garanto que vai rolar uma identificação logo de cara.- dei de ombros e encarei meus pés.

O silêncio novamente dominou o ambiente, acho que ele estava absorvendo tudo que havia acontecido e aquela era a deixa perfeita pra eu dar no pé. Me virei caminhando até a porta mas sua voz chamou minha atenção.

-Então a gente...- parou no meio da frase comprimindo os lábios.

-Não existe a gente Seung, deixamos isso claro a anos atrás. Não vamos insistir, isso só vai nos ferir e ferir o Alec.- o olhei de forma triste e ele apenas se limitou em concordar com a cabeça.- Além do mais, há outro em meu coração agora. Eu tô com alguém, dessa vez é de verdade e... Bom, eu tô feliz.

-Ah.- murmurou coçando a nuca e deu de ombros.- Nesse caso, então felicidades.

-Obrigada.- agradeci de forma sincera.

-Diz pro Derek também que mandei felicitações.- me virei pra ele com os olhos arregalados.- Ah, fala sério, tava na cara que era ele, só um cego não veria isso.

É, parece que todo mundo mesmo havia percebido que era o Derek menos eu. Agora sim sinto que ganhei meu atestado de burra, até meu ex tinha percebido isso. Rindo daquela situação, e com o coração mais leve, fui embora finalmente me sentindo pronta pra recomeçar de novo minha vida.

Meu melhor amigo gayOnde histórias criam vida. Descubra agora