|ALERTA GATILHO: SE VOCÊ JÁ SOFREU QUALQUER TIPO DE ABUSO E É SENSÍVEL A ESSE TIPO DE CONTEÚDO, NÃO LEIA.|
[• Corumbá (MS), 1987. •]
- Hora de dormir Irene! A mãe adentrou no espaço simples onde sua filha de treze anos ainda penteava os cabelos de sua boneca preferida.
- Só mais um pouquinho mãe. Pediu. Hoje eu passei o dia todo estudando. Nem deu tempo de cuidar da Alice. Protestou.
- Tudo bem. Sorriu, sem poder resistir. A mulher que já entrava no seu 7° mês de gestação, entendeu os instintos maternos da filha. Só não demora muito. Seu pai já deve estar chegando e você sabe que ele não gosta de ver você brincando até essa hora. Alertou, antes de depositar um beijo sereno na testa da menina.
Irene ainda não sabe por quanto tempo continuou ajeitando Alice. Mas ainda se culpa por não recolhe-la quando viu seu pai chegar em casa, bêbado mais uma vez. A única coisa que sabe, é que nunca queria ter vivido aquela noite de verão como também não gostaria de viver as tantas noites em que foi abusada por ele. Desde os seus dez anos.
- Brincando de boneca é menina? Cochichou enquanto a puxava pelos cabelos. Eu já te falei que você não tem idade mais pra isso, não disse? A encarou. Toma isso aqui. Eu comprei pra você vestir pra mim. Arremessou uma camisola vermelha, sobre o rosto infantil da menina.
- Eu não quero usar isso. Reagiu. Por favor pai, por favor. Implorou. Eu não quero mais fazer isso. Não quero. Eu me sinto...
- Eu não quero saber como você se sente menina. Continuou cochichando enquanto olhava para os lados. Eu quero que você vista isso aqui, se deite na sua cama e me espere. Ordenou. Agora![• Nova Primavera (MS), 2011).]
- Nãaaaaaao. Gritou, enquanto se sentava na cama, depois de se assustar com o próprio grito.
A mulher de trinta e sete anos, quase loira, de cabelos ondulados e de boa forma, acendeu o abajur do lado da cama e buscou um copo d'água, para se acalmar.
- Que foi? Outro pesadelo com o seu pai? Se sentou ao lado da esposa, retirando alguns fios de cabelo de seu rosto. Me desculpa, eu me esqueci de deixar uma das lâmpadas acesa.
- Tudo bem. Eu... Eu preciso superar isso. Engoliu a água enquanto respirava fundo, tentando controlar seus devaneios.
- Nossa... Alisou seu rosto. Irene, você chegou a suar, olha aí. Tá ofegante. Se preocupou. Olha, eu fico uma pilha cada vez que te vejo assim. Se levantou da cama, e andou por todo o quarto como se estivesse sem destino. O que esse homem te fez, me deixa louco. Olha pra mim. É uma pena que você nunca tenha me deixado ir atrás dele. A encarou. Mas, eu preciso te dizer que você agora é Irene La Selva. Minha mulher. A dona de tudo isso daqui. Você deu a volta por cima. Lembrou.
- Eu sei... Eu só queria conseguir esquecer isso. Se irritou com as próprias lembranças. Já faz tanto tempo... Eu já conquistei tantas coisas... Antônio, eu achei que tinha superado. Reclamou.
- Calma. A abraçou. Vem cá, deita aqui. Eu vou te ajudar a dormir. Descansa. Eu tô aqui pra garantir que nada de ruim vai acontecer. Nada. Nunca mais. Prometeu.[• Nova Primavera (MS), 2023. •]
O carro que corria em alta velocidade, deslizava sobre a pista de via dupla da saída da cidade. As lembranças invadiam os pensamentos da primeira dama de Nova Primavera como se agora tivessem total controle sobre ela. Seus olhos encharcados se desesperaram a cada batida acelerada do coração. Ela tinha medo do que era capaz de fazer a si mesma essa noite. Mas, sabia que não poderia viver sem o homem a que tanto amava.
- Antônio?! Chamou como se estivesse escutando. Eu não posso viver sem você. Não posso.
O desespero tomou conta da mulher e ela se sentiu na obrigação de aliviar o próprio sofrimento.
- Daniel. Gritou. Daniel meu amor. Eu quero ficar com você meu filho. Encarou o precipício que tirara a vida de seu primogênito há alguns meses. Sem o seu pai e você, eu não consigo mais viver. Não consigo. Balançou a cabeça em negação total, enquanto acelerava um pouco mais a Porsche que havia ganhado do marido há dois anos. Soltou o volante e fechou os olhos, se entregando ao destino.
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Antorene: The After
FanfictionE se Irene decidisse fugir da polícia? E se fosse obrigada a deixar Antônio para trás? E se Antônio fosse condenado a pagar por todos os crimes que cometeu, preso dentro de seu próprio império? Sozinho, como sempre temeu estar, até mesmo durante as...