Eu olhava a cidade do ponto onde estava e percebia como tudo era tão insignificante.
Eu costumava subir, um número sem fim de vezes aqui. Mas hoje em dia, eu vinha pra serenar a mente, acalmar o coração, resolver coisas dentro de mim, pra não explodir com quem estava de fora.
Entretanto, a primeira vez que subi foi com a clara intenção de pular, mas fui impedido por Guida. Que assim como o mestre dos magos e o Yoda, surgia do nada e dizia coisas que significavam, simplesmente tudo, nos faziam pensar e depois assim como surgiam, sumiam.
Ela me lembrou da luta do meu avô, da solidão que ele sentiu por não ter uma parceira, da dor que sentiu porque também perdeu seu único filho, dos sacrifícios feito para que seus netos, no caso nós, não passássemos fome, tivéssemos um teto, estudássemos, nos formássemos, tivéssemos caráter e fossemos alguém na vida.
Ela me lembrou do meu amor pelo meu irmão, do quanto meu avô se importava com nosso amor e com nossa união. O tanto que ele ficava triste quando discutíamos e ficávamos sem nos falar. O quanto significa pra ele nosso união, nossa irmandade, nossa fidelidade um para com o outro.
E sim, Guida podia falar com propriedade, pois ela antes de ser nossa amiga e assistente, ela foi nossa vizinha, nossa babá, nossa figura materna...
Vir aqui sempre me trazia tudo de volta.
Principalmente me fazia lembrar o porquê eu tinha que perseverar, apesar dos ventos fortes que tentavam me derrubar.
Tinham aqueles que enfrentavam tempestades e não quebravam, se curvavam como bambu e depois retornavam eretos e prontos novamente para novos desafios.
Selena era exemplo vivo disso, mais merda que ela e a irmã passaram, as bobagens da minha vida nem se comparavam. Meu avô nos blindou o máximo que pode, ele passava fome, mas para nós nunca faltava nada, nunca.
Vir aqui trazia as memorias do meu avozinho querido.
É inexplicável como sinto falta do cheiro dele, de seu abraço, de suas broncas. E naquele dia, Guida me salvou, exatamente por conhecer esse amor e esse respeito que tínhamos por ele.
(*****)
Fazia uma semana que tínhamos perdido nosso avô.
Ele era nosso chão, nosso tudo. Nos criou depois da morte estupida de nossos pais em um acidente de carro. Nos fez homens, nos deu direção, nos ajudou com nossa primeira pequena e para muitos, insignificante fábrica em sua própria garagem. Nos deu força, nos incentivou, não nos permitiu desistir diante dos primeiros fracassos, dos primeiros não. E ele simplesmente se foi no dia seguinte que entramos nesse prédio.
Eu tinha acabado de me formar em economia e Tristan já havia se formado fazia dois anos em administração.
Meu avô, nesse dia, terminou de jantar conosco na cozinha, depois que meu irmão e eu organizamos a louça do jantar, pedimos a benção dele e antes dele ir se deitar ele disse; que agora ele estava em paz, com a sensação de dever cumprido.
Tinha nos formados, nos tornado homens de bens, tinha feito de nós mais que irmãos, tinha nos transformado em amigos e ele tinha muito orgulho de nós, pela nossa amizade, pela nossa força, pelo nosso senso de justiça e claro pela nossa empresa que agora, já não era em sua garagem.
Então ele nos abençoou, nos beijou na testa como todas as noites e foi dormir.
No dia seguinte, a cozinha não cheirava café como todas as manhãs, o radinho de pilha o qual ele nunca permitiu que trocássemos, também não estava ligado em algum programa de música sertaneja e quando fomos procurá-lo ele ainda parecia dormir, mas seu corpo já estava frio, sem vida.
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JUNTANDO OS PEDAÇOS
RomanceSelena é uma garota forte, destemida, determinada... por fora. Por dentro, ela ainda é uma criança quebrada, machucada que não teve a proteção de quem deveria tê-la amado, cuidado e protegido. Ela não confia em homens. Tristan é um CEO que junto com...