Os dias pareciam se arrastar diante de mim.
Eu voltei a trabalhar dois dias depois de Selena ter partido.
Tinha combinado de fazer uma pequena viagem de férias para as Maldivas com Theo, mas como ele parecia estar em lua de mel, me senti meio que uma "vela" entre eles e achei melhor ficar em casa mesmo.
Sabíamos que nos primeiros dias não teríamos notícias de Selena.
A clínica pra onde ela havia ido, tinha regras similares as clínicas de dependentes químicos ou de saúde mental. As regras eram claras, ela falaria por celular apenas uma vez por semana, por meia hora e apenas com Maggie. Visitas não eram permitidas durante a internação, tinha que participar de um monte de atividades, não sei como alguém aguenta ficar assim tanto tempo... essa desintoxicação de tudo e de todos deveria funcionar porque eu havia pesquisado a clínica e tinham só elogios para ela.
Ansiava como um louco pelo seu retorno.
Passado a primeira semana em abstinência de Selena, minha cabeça pirou e comecei a me perguntar se aquilo era realmente o que eu queria. Me perguntava se aquela agonia da espera valeria a pena.
Não tem ideia de quanta bobagem passa na cabeça de alguém ansioso, que cria expectativas sobre a outra pessoa, é terrível.
Ansiedade nunca foi algo que eu cultivasse, mas, estava começando a ter um pequeno surto por conta dela.
Percebendo minha situação Maggie marcou uma sessão terapêutica pra mim e acredite ou não, colocar tudo aquilo pra fora me ajudou muito.
A psicoterapeuta era a mesma que tratava Selena, mas por mais que eu insistisse, ela nunca dava nem uma dica ou um sinal de fumaça, de que eu estava indo na direção certa.
Mas falar me fez bem, ela me fez perceber as coisas de uma outra perspectiva.
Depois de muito insistir, mesmo me dizendo que eu tinha que priorizar a mim, ela acabou me passando uma espécie de guia, para revisar e relembrar todas as atitudes que tive ou que eu venha a ter com uma vítima de violência sexual. Ela disse que iria me passar porque uma das dicas, a última especificamente, era pra eu usar sem parcimônia.
As dicas eram coisas práticas, mas que nunca me vieram a mente, como:
• Acreditar. Quando alguém nos conta que foi vítima de violência sexual o nosso papel é acreditar, apoiar e ajudar a explorar opções para o que fazer a seguir.
• Ouvir. Algumas pessoas querem falar sobre o que aconteceu, outras não. Temos apenas que estar ali por ela, ouvir sem interromper e sem julgar, apenas oferecendo apoio.
• Ajudar a explorar opções. Mostrar a ela o que pode ser feito, seus direitos e suas opções. Ajudar a pessoa encontrar assistência e mostrar como usá-la.
• Nunca culpar. A agressão sexual é inaceitável. O que uma pessoa está vestindo, a sua cultura, a sua idade, se é usuária de drogas ou álcool, ou a relação com o agressor... essas atitudes nunca são responsáveis por alguém abusar sexualmente de outra pessoa. A vítima nunca é a culpada.
• Pedir permissão para tocá-la. A pessoa as vezes não quer ser tocada, pois isso pode desencadear lembranças ruins e a reviver os traumas passados, por isso devemos pedir permissão para tocá-la.
• Reconhecer seus próprios sentimentos e procurar ajuda para si mesmo. Se eu quero ajudar alguém que sofreu esse tipo de violência, tenho que me ajudar também.
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JUNTANDO OS PEDAÇOS
RomanceSelena é uma garota forte, destemida, determinada... por fora. Por dentro, ela ainda é uma criança quebrada, machucada que não teve a proteção de quem deveria tê-la amado, cuidado e protegido. Ela não confia em homens. Tristan é um CEO que junto com...