Capítulo 10 - Selena Piacessi

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Estranhamente, Tristan começou a aparecer mais em suas próprias reuniões.

Ele nunca conduzia, geralmente era Patrícia ou Theodoro e as vezes até mesmo eu, mas batia o martelo e não deixava nada pendente.

Passou a gaguejar menos também, descobri mais tarde que ele voltou a fazer fono e fez algumas sessões de terapia.

Que bom que algumas coisas são fáceis de se resolver.

Nossos dias passaram voando, como um borrão em frente aos nossos olhos, nunca imaginei a loucura que era o final de ano numa fábrica. Se eu tinha achado o Dia das Crianças ruim e cansativo. As festividades natalinas eram muito piores.

Estávamos em contagem regressiva, faltava três dias para o Natal e as lojas no centro de São Paulo estavam fervendo de pessoas que se acotovelavam para comprar seus presentes de última hora, especialmente presentes infantis, afinal Papai Noel não deveria deixar nenhuma criança na mão.

Nossa linha de produção continuava a todo vapor, mesmo estando as portas do Natal.

Tínhamos planejado parar no dia vinte, mas devido aos inúmeros pedidos extras, ficou impossível... o que nos levou a outra reunião com os funcionários, dessa vez mais calma e concordata.

Patrícia e eu, preparamos uma bela cesta de Natal para todos, afinal era o mínimo que podíamos fazer, para aqueles que tinham se dedicado tanto durante o ano. Eram mais de cem funcionários efetivos e trinta temporários que estávamos pensando em efetivar, assim que mudássemos de lugar.

Finalmente chegou à véspera de Natal. Tudo foi tão corrido que mal conseguimos comprar os nossos próprios presentes.

Maggie sempre fazia uma grande comemoração em sua casa na capital de São Paulo no ano novo, mas o Natal era em Paraty, no Rio de Janeiro. Era algo bem mais intimista, geralmente éramos apenas ela, Fred, Cecil, Timothy e eu.

Vez ou outra aparecia alguém, convidado por ela ou um de nós, pois mesmo sendo na casa dela, ela nos dava tal liberdade, mas era raro.

Hoje, ao que parece, ela tinha convidado mais gente.

A quantidade de veículos na porta indicava isso.

Logo que cheguei dei de cara com Theo, Patrícia e Tristan que conversavam animadamente com os irmãos Fratelli. Gregori e Gustavo, que sempre me olharam com gula e nunca esconderam suas intenções, talvez por isso eu sempre evitava festas como aquela.

Eu já tinha batido num dos gêmeos, não sei ao certo qual foi agora, mas o fato era que apesar de me olharam de maneira incomoda, eles nunca mais se atreveram a me tocar.

E pelo visto hoje passaram só para cumprimentar, pois estavam acompanhados de quatro garotas idênticas que pareciam saídas de uma revista.

Me aproximei com Guida a tiracolo da rodinha que eles formavam e cumprimentei a todos com um beijo no rosto, mantendo uma distância segura, uma vez que eu odiava esse tipo de aproximação em estranhos. Embora eu os conhecesse, mas esse era meu jeito de tentar me curar um pouco mais. Por fim cumprimentei Tristan também, que valeu o esforço de ter que cumprimentar todos os outros, pois além de lindo, o homem era muito cheiroso.

Assim que vi a oportunidade, saí de perto deles e fui me isolar num jardim de inverno maravilhoso que havia na casa e aonde eu ia sempre que sentia os picos de ansiedade surgirem.

Sentei-me num banquinho que havia ali, de frente para a sala, respirei fundo algumas vezes e fiquei observando a interação de todos eles.

Theodoro e Patrícia pareciam que estavam iniciando um romance, sem grandes rompantes, sem dramas, sem criar expectativas.

JUNTANDO OS PEDAÇOSOnde histórias criam vida. Descubra agora