Capítulo 41 - Cecília Piacessi Giardelli

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Deus me ajude que estou quase surtando tentando me manter calada e polida.

Tudo piora quando vejo Selena, entrando na sala de vídeo com Tristan de mãos dadas.

Eu adoraria pensar que eles anunciariam algum tipo de romance, mas pelo rosto choroso dela e pela cara preocupada dele, isso parece estar longe de acontecer.

Fred percebe minha tensão e aperta meu ombro.

Maggie arrumou as poltronas de forma estratégica. Eu e minha irmã, uma de frente a outra e nosso apoio em pé ao lado, só que um pouco mais pra trás.

Maggie fica bem no meio entre nós duas e começa falar.

_ Muitas coisas aconteceram na minha vida. Muitos acontecimentos e momentos maravilhosos, os quais eu vou guardar pra sempre. Mas há também muitas coisas que eu gostaria de apagar da memória, rasgar, riscar, excluir da linha do tempo da minha vida. Algumas eu consegui superar... outras ainda carrego comigo. Cada um de nós, trabalha as coisas internamente a sua maneira, porque só nós sabemos a dor que carregamos em nosso peito. Eu encontrei Selena e Cecilia, em um momento muito difícil de suas vidas e de lá pra cá eu as tenho como minhas filhas. Amo as duas de forma iguais e incondicionalmente e quero que ambas sejam felizes. Sei que elas desejam o mesmo pra mim, assim como tenho certeza de que se vocês estão aqui hoje, são especiais pra elas. Nem preciso dizer que seja lá o que for dito aqui, ficará aqui. Essa não é uma conversa, mas sim um monologo. Selena chegou num ponto em que precisa se abrir ou vai perder o que mais preza na vida, sua irmã, sua família e principalmente sua saúde mental. Ela preferiu que nós estivéssemos aqui hoje, por causa da gravidez de Cecilia e porque no futuro, de uma forma ou de outra, todos nós, teremos que saber. Mas reforço que somos apenas e tão somente expectadores. Podemos ouvir, até sentir, mas não opinar ou interferir. Isso vale pra você Cecilia. Você nos disse que estava pronta pra tentar escutar mais, faça isso agora. Tente menina, abra seu coração e seus ouvidos e escute, apenas escute. – Apenas assinto com a cabeça.

Maggie se afasta e Selena olha pra Tristan como se buscasse força. Ele puxa uma cadeira para mais perto dela e senta, colocando uma mão sobre seus ombros, confortando-a, como Fred faz comigo, então ela começa sua narrativa, já chorando.

_ Cecil, eu te amo muito e sou muito grata por todo carinho e cuidado que sempre teve comigo. Embora eu não saiba me expressar, uma vez que não falo o tempo todo, ou não ajo como tal. É importante dizer que você, o Timmy, a Maggie, todos aqui, são muito especiais pra mim. – Ela faz uma pausa, parece respirar com dificuldade, busca a mão de Tristan em seu ombro e aperta, depois continua. _ Primeiro quero que saiba que só não te contei essas coisas antes, porque não queria que você tivesse mais esse peso sobre os ombros. Depois, não queria que você se sentisse culpada. Porque eu sei no fundo do meu coração, que você fez o melhor por mim, sempre.

Selena se afasta das mãos de Tristan, abaixa a cabeça, fecha os olhos e começa a nos contar sua narrativa de pavor, dor e medo.

Ela passa a descrever todas as vezes que ela era queimada pela nossa mãe com o cigarro. Lembra com detalhes das surras de cinto, da falta de comida, de quando papai morreu, de todos os homens com os quais mamãe namorou.

Ela era tão pequena e se lembra com precisão de detalhes. Coisas que eu, mesmo tendo vivido tudo já mais velha que ela, não tinha tão claras em minha memória.

Claro, é bem como diz o ditado: "Quem apanha nunca esquece" e ela, era quem mais sofria essas agressões, tanto físicas quanto psicológicas.

Selena fala dos namorados da mamãe, de como eles gostavam de tocar em nós e nos colocar em seus colos. Fala de Richard e da fase boa que passamos enquanto mamãe e ele, apenas namoravam e ela surtava pouquíssimas vezes. E fala do dia que mamãe morreu e de como ela se sentiu, livre por um breve momento.

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