Capítulo 42 - Selena Piacessi

4 1 0
                                    

Eu saí desolada, sem chão, literalmente desmoronada vagando pelo apartamento de Tristan.

Num minuto eu abria sua porta principal, no seguinte ele estava parado na minha frente pedindo permissão pra me pegar em seus braços, em seu colo.

Uma parte em mim queria se rebelar, mas uma outra parte queria confiar em alguém, queria confiar nele. E eu também já estava sem forças, estava me sentindo tão cansada e ele parecia uma rocha tão forte, segura..., onde eu poderia me escorar, então me permiti sentir a segurança de seus braços.

Ele não disse nada, apenas me manteve em seus braços enquanto descíamos. Não sei como, mas ele abriu a porta do meu apartamento e fechou comigo em seus braços, não tenho ideia onde encontrou a chave pois eu mesma desconhecia o paradeiro da minha. Mas esses, eram pensamentos que passavam e não se fixavam em minha mente, extremamente cansada e perturbada.

Assim que entramos ele me depositou na cama, tirou meus sapatos e ajeitou as cobertas sobre mim. Foi até a cozinha, me trouxe um copo com água e me fez tomar. Depois pediu permissão, deitou-se ao meu lado na cama, sobre a coberta e ficou ali, segurando minha mão, me olhando e me deixando chorar.

Um longo tempo depois, quando a tempestade no meu interior foi serenando, ele secou alguns resquícios de lágrimas e perguntou.

_ Mais água?

_ Não. Obrigada. – Respondo num fio de voz.

_ Certeza? Precisa repor tudo que perdeu hoje. – Ele fala tentando me fazer sorrir.

_ Desculpa por te envolver nisso tudo Tristan.

_ Não peça desculpas. Eu sou grato por você ter confiado em mim para ouvir sua história.

_ Que bela história. – Resmungo.

_ Eu sinto muito Selena. Sinto muito por você ter encontrado monstros em seu caminho, que fizeram você conhecer o pior da vida. Longe de mim minimizar sua história ou sua dor, mas preciso dizer que também estou feliz, porque nesse caminho você encontrou pessoas como a Maggie e como o Fred, que são anjos em forma de pessoas. – Ele faz uma pausa, depois continua. _ Eu sei que talvez você possa não ver agora, mas de um jeito torto, apesar de todo mal que você vivenciou, também viveu momentos em que foi muito abençoada.

_ Eu sei. Acredite, eu penso nisso sempre. – E como me sentia ingrata, todas as vezes que pensava. _ Foi muita sorte termos conhecido Maggie enquanto ainda éramos novas. Aquilo tudo poderia ter durado anos, ou até que uma de nós ou nós duas morrêssemos. – Eu sempre pensei nisso, o nosso pesadelo poderia ter sido bem pior. _É que as vezes você está tão fundo no próprio poço, que esquece de olhar nos lados e ver que te jogaram uma escada, ou uma corda e que vão te ajudar a subir se quiser.

_ Ei... isso acontece e você tem todo direito de vivenciar sua dor da forma que for melhor pra você, só não esqueça de olhar para os lados. – Ele segura meu rosto pra que eu veja seus olhos. _Estaremos sempre aqui por você, por vocês.

_ De todos ali, acho que você foi o único que não me olhou com pena. – Era tudo que eu mais doía. _Se bem que a maior parte do tempo, estava de costa pra você.

_ Selena, vou fazer o advogado do diabo agora, porque acredito que temos que ser honestos sempre. – Ele se posiciona melhor na minha frente, pra que consiga fixar bem seus olhos em mim. _Ninguém estava com pena da mulher que contava a história. Nós sentimos a dor da menina que as viveu. Amamos tanto você, que nos machuca saber que alguém fez tanto mal a você e que nós não pudemos fazer nada para impedir. O que você entendeu como pena, entenda como empatia. E se me permite dizer, não fique na defensiva conosco. Tenho certeza de que não quer que as coisas entre nós todos mude, então não nos trate diferente, não somos os inimigos. Se você disser não e nos explicar seus motivos, entenderemos. E por favor não entenda isso como invasão, entenda como preocupação.

JUNTANDO OS PEDAÇOSOnde histórias criam vida. Descubra agora