Capítulo 22 - Tristan Lucchesi

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Meus olhos não estavam preparados para aquela visão horripilante.

Dezenas de fotos de duas garotinhas pequenas. Ambas devia ter entre oito e dez anos, não sei precisar ao certo.

Em todas as fotos, as garotinhas estavam fantasiadas de princesas..., Cinderela, Bela Adormecida, Jasmine, Ariel... eram tantas outras fantasias que crianças geralmente adoram.

As primeiras fotos eram fofas.

Havia uma linda garotinha de olhos verdes e cabelos cacheados, embora essa estivesse sempre com uma carinha triste, chorosa, as fotos eram apenas isso... fotos.

Havia algumas fotos que tinha outra garotinha com ela. Olhos negros, cabelo lisinho, com franjinha na testa. Lembrava uma índia e a vestiam de Pocahontas, Mulan e as vezes, as fantasias de ambas as garotinhas, eram semelhantes.

Olhando as sequências de fotos, sempre tinham alguma parte do corpo delas aparecendo. Ora um ombro, ora uma perna, a grande maioria das fotos, eram da pequena de olhos verdes e cabelos cacheados.

Nos álbuns havia uma espécie de sequência, até o momento em que a criança aparecia de calcinha no colo de homens que não deixavam aparecer seus rostos.

Não, realmente meus olhos não estavam preparados para aquela visão terrível.

Eu estava estarrecido, petrificado, injuriado, terrivelmente angustiado, indignado, irritado... meu nível de raiva e ódio, dor e tristeza sem misturavam em demasia, com aquele suplicio que eu via ao virar as páginas daqueles álbuns, sem poder fazer nada.

Havia apenas uma certeza, aquelas crianças haviam sofrido duramente, nas mãos de vários homens diferentes pois além das roupas, a cor da pele, a estrutura física de cada um deles, eram distintas uma das outras, conforme trocava as páginas do álbum.

E o pesadelo final, ao que parece, em todas as sequências, era a foto da garotinha de olhos verdes, nua deitada na cama. As vezes com a coleguinha ao seu lado, mas sempre com a respectiva fantasia visível em alguma parte da cama e com esses mesmos homens, a tocando como se elas lhes pertencessem.

Já estava enojado com as fotos, mas no segundo em que se deu início a perversidade com aquelas crianças, que eu já não tinha mais dúvidas, a de olhos verdes, tratava-se de Selena, algo em mim por dentro, que já estava dilacerado, começou a morrer.

Tamanha era a crueldade daquelas cenas fotografadas.

_ Meu Deus!!!! – jogo os álbuns de lado e tento respirar, mas o ar me falta.

Levanto e preparo um copo de whisky, bebo tudo num único gole e em segundos, estou com outra dose pronta nas mãos. Maggie havia dito que as fotos eram mais "fáceis" de se começar. Não quero imaginar o mais difícil.

Decido deixar as fotos de lado e pego um grande caderno de papel.

Começo a folheá-lo e percebo que é uma espécie de relatório policial.

Nele contém todos os nomes e fotografias de cada crápula que aparece nas fotos com as meninas, contém um enorme histórico de um tal de Richard Smith, que dizia ser o padrasto de Selena e Cecília e no final do grande relatório, fotos e notas das mortes, todas acidentais, de cada um daqueles indivíduos, havia pelo menos dezessete deles ali.

Depois de ver o relatório, percorro alguns arquivos no computador. Lá tem cópias dos sites onde as fotos das meninas eram vendidas. Cópia dos leilões onde eram realizadas todas as transações. Desde a apresentação até os lances, tudo prescrito como forma de prova pericial.

Logicamente, o relatório diz que a polícia derrubou cada um daqueles sites, mas a percepção que tenho, clara como um dia ensolarado, é que nossas crianças nunca mais estarão seguras. E como poderiam? Com todos esses monstros a solta aí fora.

JUNTANDO OS PEDAÇOSOnde histórias criam vida. Descubra agora