Depois de duas horas de um sono perturbado no avião, desisto de dormir.
Pra não pensar obsessivamente em tudo que acabei de descobrir, decido trabalhar e passo a ler meus e-mails da empresa. Mesmo assim, a cada cinco, dez minutos, olho o celular e vejo se há resposta da mensagem que enviei para Selena mais cedo, mas ela ainda, sequer visualizou a mensagem.
Percebo que provavelmente, pelo horário deve estar dormindo.
São em média 16 a 18 horas de voo de Vermont até São Paulo. Uma viagem extremamente cansativa e extenuante, cochilo em alguns momentos, choro em muitos outros, tentando entender como é possível que um ser humano possa machucar outro de forma tão malévola e degradante.
Eu sinceramente, não consigo entender até onde vai a maldade desse mundo.
Sei que fazemos uma parada para abastecer e trocarem os pilotos, isso não durou nem vinte minutos. Alguém perguntou se eu queria descer e esticar as pernas, mas respondi que não.
Eu só queria chegar.
Aparentemente, a equipe de voo era toda da Maggie, pois ela sabia exatamente onde estávamos e a que horas meu voo iria aterrissar, diferente de mim que, mal sabia quanto tempo de viagem já tinha percorrido.
Noto que lá pelas dez da manhã no Brasil, Selena visualiza minha mensagem. Ela passa algum tempo digitando, mas no fim... aparentemente, desiste de responder.
Não sei se acho bom ou ruim, nesse momento, não sei o que falaria e como falaria com ela, ainda estou tentando entender tudo o que descobri.
Aproveito pra falar com um colega meu, psicólogo que conheci na época de faculdade, ele está online e acho a oportunidade perfeita uma vez que já queria falar sobre trabalho com ele, pois Theo quer um espaço terapêutico para os funcionários na nova fábrica, mas ele diz que ainda é segredo e não quer que ninguém saiba.
Entendo agora que, ele não quer que Selena saiba, pra que ela não se sinta pressionada.
Quero marcar um horário com ele, mesmo que Selena e eu não tenhamos nada no futuro, quero aprender a lidar com ela e com Cecilia, sem ferir ainda mais seus sentimentos e sem me machucar no processo.
Converso um pouco com Lucca, choro um pouco sem saber o que posso dizer exatamente a ele.
Finalmente, digo que estou passando por um momento tenso e queria conversar um pouco.
Ele pergunta se Theodoro está bem. E quando confirmo, ele diz que está na Itália, que volta na primeira semana do ano. Se eu posso esperar ou se eu quero conversar online.
Adoro a tecnologia e aprecio tudo que ela nos trouxe de bom, mas nesses casos, não abro mão de olhar nos olhos e sentir as pessoas, então digo que prefiro esperar por seu retorno.
Ele se compromete em marcar um horário pra mim assim que voltar, nem que tenha que me encaixar.
Agradeço, finalizo a conversa e volto a dar atenção aos e-mails que, Patrícia e Theo me encaminharam de muitos dos nossos novos fornecedores.
Alguém me oferece um almoço, mas assim como o café da manhã, eu dispenso. Estou a base de água, pois nesse momento nada desce, nem mesmo o café preto que tanto amo.
Exatamente as 13:43, horário de Brasília, o avião taxia pelo aeroporto de São Paulo. Assim que pousa pego minha bagagem de mão e mais que depressa me levanto.
Assim que as portas são abertas, já estou descendo a escada.
O vento gelado de São Paulo me abraça. A terra da garoa está chorando, um choro em forma de chuva, leve e fina. O tempo está nublado, combinando bem com meu humor.
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JUNTANDO OS PEDAÇOS
RomanceSelena é uma garota forte, destemida, determinada... por fora. Por dentro, ela ainda é uma criança quebrada, machucada que não teve a proteção de quem deveria tê-la amado, cuidado e protegido. Ela não confia em homens. Tristan é um CEO que junto com...