Capítulo 4

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Vamos até um restaurante na beira da praia de frutos do mar, nos sentamos do lado de fora em um deque de frente ao mar, comemos em silêncio, mas toda vez que ouso levantar meu olhar para Thomas cruzo minhas pernas.

Enquanto ele paga a conta eu vou até o banheiro e antes de alcançar o banheiro no fim das mesas espalhadas pelo restaurante o mundo congela.

Em uma mesa perto da janela está uma família conversando enquanto comem, um casal e dois filhos, um menino de uns dezoito anos e uma garotinha loira de doze. Nada demais, se o pai dessa família não fosse meu pai e agora sei que só o menino o puxou, porque a menina é loira igual a mãe.

Paro no meio das mesas, os olhos do meu pai encontram os meus, não consigo controlar minha respiração, meus ombros sobem e descem de forma frenética, dou um passo na direção da mesa, meu pai chacoalha a cabeça negativamente e volta a conversar com sua esposa como se eu fosse uma desconhecida. Minha visão embaça, meus dentes grudam uns nos outros e me viro procurando a saída desse maldito lugar.

Vejo Thomas se levantando quando me vê saindo, continuo caminhando até o estacionamento, o carro dele está em meio a tantos outros, consigo o encontrar pela cor, mas paro em meio aos carros e grito:

— AAAHHH! — Cerro as mãos e vejo Thomas em minha frente.

— ei. — ele se aproxima de mim — o que aconteceu?

Ouço a preocupação no seu tom de voz, minha visão está embaçada, não consigo ver seu rosto direito, não quero chorar, mas as lágrimas começam a molhar meu rosto e meus lábios começam a tremer.

Thomas não diz nada e apenas me abraça.

Seus braços envolvem meu corpo contra o seu, encosto a testa em seu ombro e choro que nem uma criancinha. Ele não se importa com os meus soluços e me deixa ficar ali até eu me acalmar.

Me afasto quando consigo parar de chorar, olho em direção ao carro mais a frente e digo:

— podemos ir? Por favor.

Ele assente com a cabeça, caminhos até o carro, entramos, colocamos o sinto e Thomas dirige em silêncio.

Acho que já faz uma hora que estamos em silêncio dentro do carro, estou com a cabeça encostada no vidro olhando para fora, não acredito que aquele miserável fingiu que não me conhecia, as lágrimas começam a embaçar a minha visão de novo e digo:

— ele fingiu que não viu, odeio ele.

Thomas me olha e fica em silêncio.

— odeio o meu pai e a família perfeita dele. — Bufo.

Thomas desvia o olhar rapidamente de mim e diz:

— eu sei. — diz — você me contou.

Mas, é claro, o que mais eu contei para ele?

— não quero que você julgue minha mãe por isso, ela estava grávida de mim quando descobriu que ele já era casado a dois anos e ela achou que seria bom para mim crescer com a presença de um pai já que ela não cresceu, só que ela está completamente errada, eu o odeio.

— nunca a julgaria. — diz calmo.

— ele fingiu que não viu. —Arrumo minha postura e olho para Thomas — ele simplesmente fingiu que eu não estava ali. — Começo a chorar.

Thomas solta uma das mãos do volante, segura a minha mão em cima da minha coxa e diz:

— eu sinto muito Isa.

Seu toque me acalma, ele me olha sério e volta com a mão no volante.

Fico o olhando, como posso não lembrar de nada da noite que conversamos, falar sobre meu pai é algo que eu tenho dificuldade de conversar até com Julia. Ele me olha, percebe que eu estou o encarando e diz:

IsabelliOnde histórias criam vida. Descubra agora