Capítulo 75

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Levo a mão na maçaneta no instante que Lucio sai para abrir a porta, mas está trancada por fora.

Esmurro a porta várias vezes.

Não acredito que esse imbecil me usou me fazendo acreditar que tudo ficaria bem dpeois que transamos.

Chuto a porta.

— AAAHHH!

Eu o mato!

Passo as próximas, horas, dias, semanas... não sei, o tempo é confuso aqui e está sempre de noite o que me deixa ainda mais perdida, deitada na cama recebendo apenas as visitas de Tryn quatro vezes ao dia para me trazer refeições.

Não estou conseguindo comer, fiquei satisfeita por um tempo com o sangue de Lucio, mas depois a sede voltou e os corações dos celestiais que voam do lado de fora da janela batendo a todo instante como um tambor em minha mente não tem ajudado. Sem contar que quando Tryn entra no quarto o volume das batidas do seu coração aumentam no máximo e é por isso que sempre que ele entra ou estou encolhida na cama ou trancada no banheiro.

Os livros!

Estava com tanta expectativa de encontrar alguma coisa de como trazer os mortos a vida, mas são apenas livros de ficção, romance, fantasia... nada diferente do que tem no mundo humano. E como a leitura nunca foi um hábito para mim, me obriguei a ler para passar o tempo.

A porta do quarto se abre, abaixo o livro que estou lendo para ver Tryn entrando com mais uma refeição em uma bandeja, roupas limpas, assim como lençóis, toalhas e um celular no qual sou obrigada escrever uma mensagem e enviar um vídeo para minha mãe para que alguém enviei para ela quando vai à Terra, já que não pega celular aqui. De tempos em tempos os lençóis são trocados e as roupas vem junto com a última refeição do dia, é quando eu presumo ser noite, ou a hora de dormir.

Ele deixa tudo em cima da cama e vira as costas para sair como seu não estivesse aqui.

— Tryn. — o chamo e ele se vira em minha direção antes de sair — você poderia trazer sangue, eu...

— não. — Sai e fecha a porta.

Olho para a comida na ponta da cama e me levanto.

Tenho tentado comer a carne, mas nem isso tem parado no meu estomago e assim que termino de comer saio correndo para o banheiro e jogo tudo fora.

Me levanto do chão onde estou ajoelhada em frente ao vaso passando as costas das mãos na boca e me seguro na pia, porque tudo acabou de rodar.

Olho no espelho e percebo minhas olheiras profundas, minha pele pálida e meu cabelo ressecado.

Respiro fundo enquanto me olho e soco o espelho fazendo o vidro se espatifar no chão.

Ouço a porta do quarto se abrir, Tryn entra no banheiro enquanto eu saio, quando ele sai estou sentada na cama olhando para chão, ele para na porta do quarto, aponta a prateleira e diz:

— devia ler mais.

Ergo minha cabeça e forço um sorriso.

Olho para o livro sobre a cama, quando vou ter meu final feliz? Acho que nunca, minhas decisões transformaram minha vida em uma tragédia e o único vilão sou eu.

Passo a mão pelo rosto, preciso pelo menos tomar um banho, pego a roupa em cima da cama e sigo para o banheiro onde me ajoelho no chão para recolher os pedaços de vidro antes de ir tomar banho.

Eu queria ao menos que tivesse sol para eu ter noção do tempo, mas só notei o padrão de troca de turno dos dois celestiais que ficam sobrevoando a janela me vigiando com duas celestiais quando Tryn traz a última refeição e roupas limpas que são sempre moletons cinzas.

IsabelliOnde histórias criam vida. Descubra agora