Capítulo 53

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### Asura

A volta da lua de mel foi recebida com uma carga pesada de responsabilidades e problemas. O inferno nunca dormia, e meu pai, Dantalion, estava ansioso para me colocar de volta ao trabalho. Não era novidade que ele sempre me considerara insuficiente como herdeiro. A mistura do sangue vampiro com o demônio parecia ser uma marca indelével da minha inadequação aos seus olhos.

Assim que entrei no salão principal do castelo, meu pai estava lá, aguardando com uma pilha de documentos e uma expressão severa.

—Asura, a lua de mel acabou. É hora de enfrentar os problemas do reino —disse ele, sem sequer uma palavra de boas-vindas.

Assenti, aceitando os documentos que ele me entregava. Sentia o peso da expectativa esmagando meus ombros.

—A situação econômica do terceiro círculo está se deteriorando —começou ele, sua voz fria e cortante. —Precisamos de uma solução imediata. E, além disso, há um levante nas regiões periféricas. Sua tarefa é resolver isso antes que se transforme em uma rebelião.

Eu o ouvi em silêncio, ciente de que qualquer argumento ou queixa seria inútil. Dantalion nunca mostrava clemência, e qualquer sinal de fraqueza de minha parte só pioraria a situação.

—Sim, pai. Cuidarei disso imediatamente —respondi, tentando esconder a exaustão em minha voz.

Ele me observou por um momento, seus olhos avaliando cada movimento meu.

—Espero que desta vez você não cometa erros. A última vez foi um desastre, e você sabe o quanto isso me irrita. Eu esperava mais de você, Asura. A mistura de sangue talvez explique sua falha contínua, mas não é desculpa para a incompetência.

Suas palavras me atingiram como lâminas. Sempre a mesma história. Eu nunca seria bom o suficiente.

O dia se arrastou com reuniões intermináveis e tentativas desesperadas de resolver os problemas que Dantalion me impusera. Cada decisão era meticulosamente revisada por ele, e cada falha era destacada com uma precisão cruel.

Quando a noite chegou, me senti exausto. Serena estava esperando por mim no quarto, mas minha mente estava em outro lugar. As palavras de meu pai continuavam ecoando na minha cabeça.

—Você parece cansado —disse Serena, tentando me confortar.

—Estou. Mas há muito trabalho a ser feito —respondi, tentando não deixar transparecer a frustração.

Ela assentiu, respeitando meu espaço. Eu sabia que ela queria ajudar, mas este era um fardo que eu precisava carregar sozinho.

### Dantalion

—Asura, sua mãe e eu discutimos suas falhas novamente —disse Dantalion, no dia seguinte, sua voz tão fria quanto sempre. —Você precisa melhorar. Seu sangue mestiço não deve ser uma desculpa para incompetência.

A raiva e a frustração aumentavam dentro de mim. Era sempre o mesmo discurso, a mesma decepção em seus olhos.

—Sim, pai. Farei o meu melhor —respondi, reprimindo a vontade de gritar.

Os dias se transformaram em uma rotina dolorosa de tentar agradar um pai que nunca ficaria satisfeito. Cada pequena falha era amplificada, cada pequeno sucesso ignorado. Estava começando a perceber que nunca seria o herdeiro perfeito que Dantalion queria. E essa percepção me consumia.

Uma noite, depois de mais um longo dia de críticas incessantes, sentei-me sozinho em meu escritório. Olhei para os documentos espalhados pela mesa e, pela primeira vez, senti uma onda de desespero. Precisava mudar. Precisava encontrar uma maneira de bloquear os sentimentos que me tornavam fraco aos olhos de meu pai.

Decidi que seria frio. Que bloquearia tudo que me fazia parecer insuficiente. Serena, Scarlett, o amor... tudo isso precisava ser reprimido para que pudesse ser o líder que meu pai exigia.

—Asura, você está bem? —perguntou Serena, sua voz cheia de preocupação. Ela sabia o quanto eu estava lutando.

Olhei para ela, sabendo que minha decisão afetaria nosso casamento. Mas tinha que ser assim.

—Estou. Só preciso me focar no trabalho. Serei um bom marido, Serena, mas não posso mais me deixar ser consumido por emoções.

Ela assentiu, a compreensão em seus olhos misturada com tristeza.

Depois que ela saiu, fiquei sozinho com meus pensamentos. Precisava de uma solução, algo que me permitisse ser o líder que meu pai exigia sem ser consumido pelas emoções que me tornavam fraco.

Foi então que lembrei das histórias sobre meu avô, Lúcifer, e de um remédio que ele possuía, capaz de bloquear emoções.

Resolvi procurá-lo, uma tarefa arriscada, mas necessária. Viajei até seu domínio, um lugar repleto de segredos e poder antigo.

Quando finalmente o encontrei, Lúcifer estava sentado em seu trono, um sorriso enigmático no rosto.

Lúcifer —Asura, meu neto. O que traz você aqui? —perguntou ele, sua voz suave mas carregada de autoridade.

—vô, preciso de sua ajuda. Quero bloquear minhas emoções. Preciso ser forte, ser o herdeiro que meu pai quer que eu seja —respondi, tentando esconder a urgência em minha voz.

Ele me observou por um momento, seu olhar penetrante.

Então, levantou-se e caminhou até uma prateleira cheia de frascos e poções.

Lúcifer —Eu sabia que esse dia chegaria. Aqui está —disse ele, entregando-me um frasco contendo um líquido escuro. —Isso bloqueará suas emoções. Mas lembre-se, Asura, um coração vazio pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição.

Voltei ao castelo com a poção em mãos, decidido a usá-la.

Tomei o conteúdo do frasco, sentindo o líquido amargo descer pela garganta.

A mudança foi imediata. As emoções que me atormentavam desapareceram, substituídas por uma frieza calculada.

Quando Serena me viu novamente, percebeu a diferença, mas não disse nada. Ela sabia que essa era a única maneira de eu suportar o fardo que me foi imposto.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora