Capítulo 67

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### Narrado por Serena

Estava na biblioteca do castelo, tentando me concentrar em algumas leituras, quando Sarah, minha sogra e rainha do Inferno, entrou na sala. Seus olhos afetuosos e seu semblante sereno sempre traziam um ar de tranquilidade, mesmo em meio ao caos que frequentemente permeava nossa vida no reino.

— "Bom dia, Serena," — ela disse, sorrindo. — "Como você está?"

— "Bom dia, Sarah," — respondi, fechando o livro e levantando-me para cumprimentá-la. — "Estou bem, obrigada. E você?"

— "Estou bem, querida," — ela respondeu, abraçando-me levemente. — "Vamos caminhar um pouco?"

Assenti, e caminhamos juntas pelos corredores do castelo. Era raro termos momentos assim, e eu apreciava muito essas conversas com Sarah. Ela sempre me tratou com muita gentileza e carinho, algo que eu valorizava profundamente.

— "Você sabe," — começou ela, enquanto caminhávamos pelos jardins internos. — "Eu realmente admiro sua força, Serena. Não é fácil ser a esposa de Asura, mas você tem mostrado uma resiliência incrível."

Sorri um pouco, mas havia uma tristeza em meu olhar.

— "Às vezes, eu não me sinto tão forte assim," — admiti. — "Se eu fosse uma boa esposa, talvez Asura não tivesse precisado bloquear seus sentimentos para seguir em frente."

Sarah suspirou, parando e segurando minhas mãos.

— "Querida, isso não é culpa sua," — disse ela com firmeza. — "O que aconteceu com Asura foi resultado dos métodos brutais de Dantalion. Ele sempre tratou Asura como se fosse imperfeito, tentando moldá-lo à sua própria imagem."

— "Mas por quê?" — perguntei, sentindo a frustração e a dor. — "Por que ele faria isso ao próprio filho?"

— "Dantalion queria que Asura deixasse de ser gentil, bondoso e justo," — explicou Sarah, seus olhos cheios de uma dor profunda. — "Ele queria que Asura se tornasse frio e implacável, como ele. Talvez nem tenha sido o lado vampiro de Asura o problema, mas sim o fato de ele ser bom demais para o que Dantalion esperava de um governante."

A tristeza de Sarah era palpável, e eu senti um aperto no coração.

— "Eu me culpo muito por não ter conseguido impedir Dantalion de ser assim com Asura," — continuou ela, a voz trêmula. — "Dói ver o filho gentil que eu criei se tornar alguém tão diferente. Ele era uma criança tão doce, Serena. Ele sempre se importava com todos ao seu redor, sempre tão justo e amável."

Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto enquanto segurava a mão de Sarah.

— "Sarah, eu quero ajudar Asura a encontrar esse lado dele novamente," — disse, determinada. — "Eu quero que ele saiba que não precisa ser como Dantalion para ser um bom rei ou um bom marido."

Sarah sorriu, enxugando minhas lágrimas.

— "Eu acredito em você, Serena," — disse ela suavemente. — "Você tem a força e o amor necessários para isso. E lembre-se, você não está sozinha nessa. Eu estarei sempre aqui para ajudar no que for preciso."

Caminhamos um pouco mais, em silêncio, aproveitando a companhia uma da outra. A presença de Sarah era reconfortante, e suas palavras me davam esperança.

— "Às vezes, sinto que estou competindo com um fantasma," — confessei de repente. — "Scarlett sempre estará presente na vida de Asura, de uma forma ou de outra."

Sarah parou e me olhou nos olhos.

— "Serena, Asura se casou com você por uma razão," — disse ela com firmeza. — "Ele pode ter sentimentos complexos por Scarlett, mas você é a esposa dele. Você é a mulher que está ao lado dele todos os dias, que compartilha sua vida e seus desafios. Isso não é pouca coisa."

— "Eu sei," — murmurei, suspirando. — "Mas às vezes é difícil não sentir que estou em segundo plano."

Sarah apertou minhas mãos.

— "Querida, você é uma esposa forte e adequada para este reino," — disse ela. — "Eu sei que Asura está em boas mãos com você. E com o tempo, ele vai perceber isso ainda mais."

Sorrimos uma para a outra, e continuei a caminhar ao lado de Sarah, sentindo um pouco mais de esperança em meu coração.

### Mais tarde, no salão de reuniões

Sarah e eu estávamos sentadas juntas, tomando chá, quando ela tocou em outro assunto delicado.

— "Serena, você já pensou em ter filhos?" — perguntou ela, olhando-me atentamente.

Suspirei, sentindo a pressão da questão.

— "Eu gostaria, Sarah, mas Asura não parece muito disposto," — confessei. — "Ele diz que não quer ser pai, que não quer que uma criança se sinta como ele se sentiu na infância."

Sarah balançou a cabeça tristemente.

— "Eu entendo," — disse ela. — "A dor de Asura é profunda, e ele tem medo de repetir os erros de Dantalion."

— "Sim," — concordei. — "Ele diz que não quer amar uma criança e depois machucá-la. Que não quer que ela sinta a mesma dor que ele sentiu."

Sarah suspirou, parecendo perdida em pensamentos.

— "Talvez, com o tempo, ele mude de ideia," — disse ela finalmente. — "Mas até lá, tudo o que podemos fazer é apoiá-lo e mostrar a ele que o amor não precisa ser uma fraqueza."

Assenti, sabendo que a jornada para curar Asura seria longa e difícil. Mas com Sarah ao meu lado, senti que era possível. Juntas, encontraríamos uma maneira de trazer de volta o homem gentil e amoroso que ele um dia foi.

E com essa determinação, continuei a conversar com Sarah sobre a vida, o reino e o futuro, sentindo-me um pouco mais forte a cada palavra de encorajamento que ela me dava.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora