Capítulo 88

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**Narrado por Asura**

A manhã começou como qualquer outra no reino. Eu estava em meu escritório, lidando com as intermináveis questões administrativas. As disputas de fronteira e a manutenção da ordem entre os níveis infernais eram sempre uma preocupação constante. Serena estava no outro lado do castelo, desempenhando suas funções como rainha, enquanto Vayron passava o dia com seus tutores.

A calma foi rompida ao meio-dia, quando um som de explosão ecoou pelos corredores, seguido pelo alarme dos guardas e o som de espadas. Levantei-me imediatamente. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, um guarda invadiu o escritório, pálido e ofegante.

"Senhor, estamos sob ataque! É seu tio, aquele bastardo. Ele trouxe um exército, acreditando que tem mais direito ao trono por ser um demônio completo."

As palavras dele me atingiram com uma onda de raiva gelada. Meu tio, um dos bastardos de meu avô, sempre se ressentiu do fato de eu, um mestiço de vampiro e demônio, ter herdado o trono. Agora, ele finalmente se revelava, aproveitando a fraqueza percebida para reivindicar o que achava ser seu por direito. Peguei minha espada e segui o guarda, pronto para esmagar essa insurreição de uma vez por todas.

**Narrado por Serena**

Eu estava com Niram, uma das minhas servas de confiança, quando ouvimos o alvoroço. Sem perder tempo, fui direto para o quarto de Vayron. Asura sempre foi um pai atento, mas em momentos como este, a segurança de nosso filho dependia de mim. Encontrei-o lendo, completamente alheio ao caos que se desenrolava.

"Vayron, precisamos ir agora," falei, tentando esconder o tremor em minha voz. Ele olhou para mim, confuso, mas se levantou imediatamente, confiando em minhas palavras.

"O que está acontecendo, mãe?" perguntou, seus grandes olhos azuis cheios de preocupação.

"Não se preocupe, querido. Vamos para um lugar seguro."

Conforme nos dirigíamos para uma sala segura, os sons da batalha se intensificavam. De repente, um grupo de invasores apareceu à nossa frente. Não havia tempo para pensar—empurrei Vayron para trás de mim e saquei minha adaga. Não sou uma guerreira, mas não deixaria ninguém machucar meu filho.

O primeiro demônio avançou e, com um movimento rápido, consegui desviá-lo e cortar sua garganta. Mas enquanto ele caía, outro se lançou contra mim, e senti uma dor lancinante quando uma lâmina perfurou minha barriga. Caí de joelhos, ofegando, mas usei o que restava de minhas forças para matar o segundo atacante.

Sangue escorria de minha ferida, e a dor era insuportável. Vayron gritou meu nome, correndo para mim com lágrimas nos olhos. Niram chegou logo em seguida, pálida de horror ao ver a cena.

"Majestade, temos que ir!" ela insistiu.

"Leve Vayron," murmurei, lutando contra a escuridão que ameaçava me dominar. "Leve-o para um lugar seguro."

"Mas você—"

"Vá!" exclamei, minha voz fraca, mas determinada. Abraçando meu filho uma última vez, sussurrei: "Eu te amo." Com um esforço final, entreguei-o a Niram, que, com lágrimas nos olhos, o pegou e começou a correr. Minha visão ficou embaçada, e antes de desmaiar, tudo o que pude fazer foi observar enquanto eles se afastavam.

**Narrado por Asura**

O castelo estava em chamas, tanto literal quanto metaforicamente. Lutei ao lado dos guardas, cada inimigo caindo sob minha espada. A ira fria e controlada queimava dentro de mim. Esse era o resultado da arrogância de meu tio, que sempre se considerou superior por ser um demônio completo. O fato de ele ter ousado atacar minha família e meu reino era imperdoável.

Finalmente, cheguei ao grande salão, onde meu tio estava comandando suas forças. Ele era alto e imponente, com um sorriso cruel nos lábios. Quando nossos olhares se encontraram, ele riu.

"Asura," ele disse com desprezo. "Você realmente achou que poderia governar este reino? Um mestiço como você?

"Você não é nada além de um traidor," respondi friamente. "E pagará com sua vida por essa insurreição."

Avancei contra ele, e nossa batalha foi feroz. Meu tio era um lutador habilidoso, e por um momento, parecia que estávamos igualmente emparelhados. No entanto, a raiva e o ódio me deram uma vantagem. Com um movimento rápido, desarmei-o e, sem hesitar, enfiei minha espada em seu coração.

"O trono não pertence a você," murmurei enquanto ele olhava para mim, incrédulo. "Nunca pertenceu."

Ele caiu no chão, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Olhei ao redor, vendo os guardas subjugar os últimos dos invasores. No entanto, algo estava errado. Senti uma perturbação, uma sensação de perigo iminente.

**Narrado por Asura**

Corri pelos corredores, seguindo um pressentimento terrível. Então, no corredor principal, vi Serena. Ela estava caída, sangue se espalhando em uma poça ao seu redor. Minha mente se recusou a aceitar o que meus olhos viam. Corri até ela, meu coração batendo desesperadamente.

"Serena!" gritei, caindo de joelhos ao seu lado. Toquei seu rosto, sua pele estava fria e pálida. "Acorde!" implorei, sacudindo-a levemente. "Isso não pode estar acontecendo!"

Mas ela não se moveu. Seus olhos estavam fechados, e não havia mais respiração. O vazio em meu peito se expandiu, ameaçando me engolir. Peguei-a em meus braços, tentando sentir algum sinal de vida, mas ela estava fria. Olhei ao redor, desesperado, e vi Niram com Vayron nos braços.

Niram tentou falar, mas eu a interrompi. "Leve-o daqui," ordenei, minha voz baixa e sombria. "Agora."

Ela assentiu, levando Vayron, que ainda chorava. Fiquei ali, segurando o corpo sem vida de Serena, sentindo uma fúria avassaladora e uma sensação de incapacidade indescritível. Olhei para o teto do corredor. Meu tio havia sido um tolo em achar que poderia me derrubar, mas no final, ele conseguiu causar mais dor do que eu poderia imaginar.

A raiva que senti naquele momento era incontrolável. Meu tio estava morto, mas isso não era suficiente. Eu destruiria todos os seus aliados, todos aqueles que ousaram levantar uma mão contra minha família. Eles conheceriam o verdadeiro significado de desespero e dor. E enquanto olhava para o rosto sereno de Serena, soube que não haveria descanso para minha alma até que todos eles pagassem pelo que fizeram.

O inferno inteiro sentiria minha ira.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora