Capítulo 71

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Serena

O dia estava calmo, e eu estava no jardim do palácio, cuidando das flores que tanto amava. Asura chegou silenciosamente, como sempre fazia, seus passos não fazendo ruído algum. Ele se aproximou e sentou-se ao meu lado, observando-me em silêncio.

— "Como foi seu dia, Asura?" — perguntei, tentando iniciar uma conversa. Ele era difícil de ler, e suas respostas geralmente eram monossilábicas, mas eu sempre tentava.

— "Foi normal," — respondeu ele, olhando para as flores. — "E o seu?"

— "Foi bom," — disse com um sorriso. — "Fiz algumas novas decorações para o salão e passei um tempo com as crianças do orfanato. Eles sempre conseguem alegrar meu dia."

Ele assentiu, o que era um grande sinal de aprovação vindo dele.

— "Você se importa muito com eles," — comentou, quase como uma observação.

— "Sim, eu me importo," — respondi, sentindo um aperto no coração. — "As crianças precisam de amor e cuidado. Eu só desejo que um dia possamos dar isso a uma criança nossa."

Asura ficou em silêncio por um momento, parecendo ponderar minhas palavras.

— "Serena," — ele começou, sua voz calma. — "Você ainda quer ter filhos?"

Meu coração acelerou, e eu olhei para ele surpresa.

— "Sim," — respondi sem hesitar. — "Desejo muito uma menina."

Ele me olhou diretamente nos olhos, sua expressão indecifrável.

— "Então vamos tentar fazer uma," — disse ele. — "Acho que depois de 20 anos de casamento já esteja na hora."

Eu fiquei perplexa. Nunca imaginei que ele aceitaria isso. Antes que eu pudesse responder, ouvi um som atrás de nós. Sarah, a mãe de Asura, estava ali, observando-nos da porta.

— "Não," — disse ela, sua voz firme. — "Vocês não terão filhos."

Asura ficou perplexo, sua mãe raramente se intrometia em nossas vidas, muito menos para dizer um não a ele.

— "Por que não?" — perguntou Asura, sem se importar muito, mas visivelmente confuso.

Sarah deu um passo à frente, suas palavras carregadas de emoção.

— "Exatamente por esse motivo, por não se importar," — disse ela. — "Como pretende ter uma criança sendo que não irá amar ela? Não faça a mesma coisa que o seu pai fez. Eu devia ter parado na Mia e não ter feito você sofrer tudo que sofreu por ser egoísta."

As palavras de Sarah eram cheias de sentimento, mas elas não importavam mais para Asura. Ele não sentia nada, apenas se guiava pelo que um dia já foi.

— "Ser egoísta, no final, é o que todos somos," — respondeu Asura, sua voz sem emoção. — "Se acostume com a ideia de ter um neto. Sei que você ama crianças, vai amar quando tivermos um bebezinho."

Sarah olhou para ele com uma expressão de condolência, como se estivesse olhando para um estranho.

— "O filho que eu criei não é esse Asura," — disse ela suavemente. — "Não pode ser ele."

A sala ficou em silêncio. Eu senti a dor nas palavras de Sarah, mas sabia que Asura não sentia nada. Ele era uma casca do homem que um dia foi, e nada do que disséssemos poderia mudar isso.

Eu segurei a mão de Asura, tentando transmitir o amor e o apoio que sempre senti por ele, mesmo sabendo que ele não podia retribuir da mesma forma. Ele apertou minha mão levemente, um gesto que significava mais para mim do que ele poderia imaginar.

— "Vamos para o quarto," — disse Asura, levantando-se. — "Precisamos descansar."

Eu assenti e segui com ele, deixando Sarah para trás, com seus pensamentos e sua dor.

Enquanto caminhávamos pelos corredores, meu coração estava pesado. Eu sabia que ter um filho com Asura seria um desafio, mas estava disposta a enfrentar qualquer coisa ao lado dele. Mesmo que ele não pudesse sentir, eu o amava o suficiente por nós dois.

Quando chegamos ao quarto, ele se deitou na cama e eu me aproximei, deitando-me ao seu lado. Passei meus dedos pelo seu cabelo, um gesto de carinho que ele permitia sem reação.

— "Eu te amo, Asura," — sussurrei, sabendo que ele provavelmente não responderia.

— "Eu sei," — foi tudo o que disse, antes de fechar os olhos e se perder em seus próprios pensamentos.

Fechei meus olhos também, desejando que, de alguma forma, o amor que eu sentia pudesse alcançar aquele coração frio e distante. Sabia que a jornada seria difícil, mas estava determinada a seguir em frente, por nós dois e pelo futuro que ainda sonhava em construir.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora