Capítulo 45

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Asura

Estou sentado em uma poltrona ao lado de Serena, ajustando os últimos detalhes do nosso casamento. O ambiente é silencioso, exceto pelo som suave das penas do escriba escrevendo em pergaminhos. Olho para Serena, tentando encontrar alguma faísca de emoção, algum desejo ardente de tê-la em meus braços. Mas nada. Apenas um vazio desconcertante. Serena é uma dama impecável, sempre educada e respeitosa, mas meu coração parece incapaz de se aquecer por ela.

—Então, a data está marcada para o próximo mês — digo, tentando soar entusiasmado.

Serena sorri gentilmente, seus olhos azuis esverdeados brilhando com expectativa. — Sim, será uma cerimônia linda, Asura. Estou feliz que estejamos fazendo isso, mesmo que por obrigação.

—Sim, claro. — Tento devolver o sorriso, mas sei que ela percebe a falta de sinceridade.

O som de passos firmes interrompe nossos pensamentos. Meu pai, Dantalion, entra na sala, a aura de frieza e autoridade sempre presente ao seu redor.

—Asura, preciso falar com você — diz ele, sem sequer olhar para Serena.

Levanto-me e sigo Dantalion até seu escritório. O ambiente é opressor, com paredes escuras e prateleiras repletas de pergaminhos antigos.

—O que deseja, pai? — pergunto, mantendo meu tom respeitoso.

Dantalion me observa por um momento, seus olhos penetrantes parecendo avaliar cada fibra do meu ser.

—Há problemas no nível inferior do inferno. O novo governante precisa de orientação para resolver questões econômicas. Quero que vá lá e cuide disso.

—Sim, senhor. — Não ouso questioná-lo. Meu pai sempre foi frio e inflexível, e sua palavra é lei.

—Lembre-se, Asura, nossa posição exige sacrifícios. Não quero falhas. — Sua voz é como gelo, cortante e severa.

—Entendido. — Curvo-me ligeiramente antes de sair.

***

Chego ao nível inferior do inferno, preparado para lidar com os problemas econômicos. No entanto, nada poderia me preparar para o choque ao ver quem é o novo governante. Scarlett, minha serva destinada, está ali, diante de mim, governando com uma presença firme e determinada. Meu peito aperta, uma sensação de aflição se espalhando pelo meu corpo.

Ela me vê e nossos olhos se encontram. Tento ignorar o tumulto de emoções que surge, lembrando-me do meu dever.

—Scarlett — digo, tentando manter minha voz estável. — Estou aqui para ajudar com os problemas econômicos.

Scarlett ergue uma sobrancelha, sua expressão profissional, mas seus olhos traem uma surpresa. — Claro, Asura. Precisamos resolver algumas questões urgentes.

Trabalhamos juntos, discutindo estratégias e analisando os dados. A proximidade dela é sufocante, cada movimento seu trazendo uma onda de memórias e sentimentos que tento reprimir. Ela está concentrada, mas noto seu olhar furtivo ocasionalmente se desviando para mim.

—Você está bem? — pergunto, quebrando o silêncio.

Scarlett suspira, seus olhos fixos nos documentos à sua frente. — Estou tentando me ajustar a tudo isso. Governar não é fácil, mas estou aprendendo.

—Você está fazendo um bom trabalho. — As palavras saem antes que eu possa contê-las.

Ela me olha, uma mistura de gratidão e algo mais nos olhos. — Obrigada, Asura. Isso significa muito vindo de você.

Voltamos ao trabalho, mas a tensão no ar é palpável. Cada gesto, cada palavra parece carregada de significado. Tento me focar nos problemas econômicos, mas minha mente não consegue escapar da presença de Scarlett.

—Precisamos encontrar uma solução para esse déficit — digo, apontando para um gráfico. — Talvez possamos aumentar os impostos sobre certos produtos.

Scarlett assente, seus olhos percorrendo os dados. — Sim, essa pode ser uma boa abordagem. Mas também precisamos considerar os impactos sociais.

Nossos debates são produtivos, mas a conexão emocional é inegável. Cada vez que nossas mãos se tocam acidentalmente, sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Tento manter a compostura, mas é uma luta constante.

Depois de horas de trabalho, finalmente encontramos algumas soluções viáveis. Scarlett se recosta na cadeira, parecendo exausta, mas satisfeita.

—Acho que conseguimos fazer um bom progresso hoje — ela diz, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.

—Sim, conseguimos. — Tento sorrir de volta, mas a sensação de peso no meu peito persiste.

Enquanto saio do escritório de Scarlett, sinto o olhar dela me seguir. Não posso deixar de me perguntar se algum dia conseguiremos superar essa tensão, se algum dia seremos capazes de encontrar paz em nossos destinos entrelaçados.

No entanto, por agora, devo focar no meu dever e deixar minhas emoções de lado. Scarlett é uma líder capaz, e eu sou seu príncipe, destinado a proteger e servir. Mesmo que isso signifique ignorar a aflição que ela provoca em mim.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora