Scarlett
Voltar para a casa dos meus pais sempre trazia uma mistura de sentimentos. A nostalgia das memórias da infância, o conforto de estar cercada por pessoas que me amavam e o peso das expectativas não ditas. Hoje, porém, o motivo da visita era diferente. Depois de ouvir do médico que meu estilo de vida estava me prejudicando, decidi que precisava de algum conselho materno. E, claro, ninguém melhor para me aconselhar do que minha mãe, Mia.
Assim que cheguei, fui recebida por ela com um abraço caloroso. Sentimos a conexão que sempre tivemos, mesmo com as diferenças. Conversamos um pouco sobre trivialidades, até que eu finalmente tomei coragem para contar o que estava acontecendo.
— Mãe, o médico disse que eu estou me esforçando demais. Que, se eu continuar assim, minha expectativa de vida será curta, mesmo para uma kitsune — comecei, tentando manter minha voz firme.
Mia olhou para mim com preocupação genuína em seus olhos.
— Ah, minha filha... — disse ela, apertando minhas mãos nas dela. — Eu sabia que você estava se esforçando muito, mas não imaginei que fosse tão grave.
Suspirei, sentindo o peso das palavras dela. Sabia que ela se preocupava, mas também sabia que, como eu, ela entendia o valor de lutar pelo que acreditamos.
— Eu só... Não sei como desacelerar. Não quero abandonar tudo pelo que lutei — respondi, sentindo um nó na garganta.
Antes que Mia pudesse responder, ouvimos passos pesados descendo a escada. Dagon, meu pai, desceu com uma expressão séria no rosto. Ele deve ter ouvido toda a conversa. Seus olhos estavam fixos em mim, e eu soube imediatamente que ele estava prestes a dizer algo importante.
— Scarlett, você deveria deixar seu nível infernal e voltar para casa. Aqui você teria paz e não precisaria se esforçar lutando — disse ele, direto como sempre.
Olhei para ele, surpresa. Nunca pensei que meu pai, que sempre incentivou minha independência, me pediria para desistir de tudo.
— Não vou abandonar o que lutei toda minha vida para conseguir — respondi, a voz firme, mas com uma ponta de tristeza.
Dagon cruzou os braços, sua expressão inabalável.
— Ser uma rainha forte não é mais importante que sua vida, Scarlett. Eu não saberia o que fazer se você morresse antes de mim — suas palavras foram duras, mas carregadas de uma preocupação sincera.
Mia, sempre a mediadora, interveio.
— Querida, se você largar tudo para viver mais, com certeza viverá mais tempo, mas não será do jeito que deseja. Eu entendo por que você não quer largar seu nível infernal.
Houve um momento de silêncio, enquanto as palavras dela ecoavam na sala. Então, meu pai, como se tivesse se lembrado de algo, acrescentou:
— Se ao menos você deixasse de ser tão lasciva e independente e casasse de uma vez, teria alguém para dividir seu fardo. Mas não, até mesmo o Arlan você largou, depois de estragar o único vínculo familiar que eu tinha. Eu o considerava um irmão.
As palavras dele me atingiram como um golpe. Arlan, o pilar do inferno, e eu... Havia sido uma situação complicada. Senti meu rosto esquentar com a culpa e a vergonha.
— Eu sei que o que fiz foi errado, mas eu queria o Arlan. E sinto muito de verdade por isso — murmurei, abaixando o olhar.
Dagon soltou um suspiro exasperado.
— Queria tanto que engravidou de outro, e quando ele quis assumir e se casar contigo, recusou — sua voz estava fria, mas eu podia sentir a decepção.
Minhas mãos tremeram, e minha voz subiu sem querer.
— Eu fiz isso por ele! Ele merecia mais do que uma mulher como eu, que estava grávida de outro. Ele merece uma esposa melhor, e tenho certeza de que até mesmo você acha isso.
Dagon ficou em silêncio por um momento, surpreso com a minha reação. Ele não sabia o que dizer. Finalmente, ele suspirou.
— Tenho certeza de que ele ainda te quer. Deveria tentar dar uma chance a ele. Ele é forte e importante, seria um bom marido e cuidaria de você.
Mia concordou com um aceno.
— Nisso, tenho que concordar. Ele cuidaria bem de você, te mimaria e protegeria com a própria vida.
Eu não podia negar a verdade nas palavras deles. Arlan seria um bom marido. Mas o estrago já estava feito, e eu não podia simplesmente desfazer o passado.
— Eu realmente não duvido que seria um bom marido, mas não o vejo há tanto tempo... — disse, mais para mim mesma do que para eles.
Mia, com um sorriso suave, sugeriu:
— Deveria tentar sair para conversarem. Eu tenho que sair agora, sabe? Quero ver alguém...
Algo na maneira como ela falou me fez franzir a testa. Normalmente, minha mãe dizia exatamente para onde ia, para não nos preocupar.
— Vai ver quem, mãe? — perguntei, com um tom de curiosidade e leve desconfiança.
Mia hesitou por um momento, depois respondeu:
— Minha mãe me chamou para conhecer o filho de Asura, meu sobrinho, e eu não queria que isso te afetasse.
Senti uma pontada de dor, mas forcei um sorriso. Não queria que ela se preocupasse.
— Está tudo bem. Vai lá, são sua família, e isso não me afetará. É um bebezinho, e nessa história inteira, a errada sou eu de qualquer jeito.
Dagon, sempre direto, concordou.
— Sim, você está errada, mas o Asura também está. Vá descansar um pouco. Vou mandar seus irmãos cuidarem da proteção do seu reino por algumas semanas.
Eu ri baixinho, sem humor.
— Se eles não se matarem enquanto estiverem lá...
Dagon deu um sorriso de canto, algo raro de ver.
— Relaxa. Quem está com problemas aqui é você. Seus irmãos eu consigo lidar.
Assenti, sabendo que, por mais que quisesse continuar lutando, meu corpo e minha família estavam pedindo para eu parar. Pelo menos por um tempo. Eu não queria mais problemas, nem para mim nem para eles. E assim, decidi aceitar a ajuda, mesmo sabendo que não seria fácil deixar meu reino nas mãos de outros. Mas talvez, só talvez, fosse a melhor coisa para mim no momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Mestre, Meu Problema
RomanceScarlett Meu nome é Scarlett, sou uma demônia meio raposa, sou filha do demônio mais forte do inferno, mas ele é somente considerado o guardião do lugar, minha mãe me abandonou quando nasci, mas não quer dizer que não tenho uma referência materna, m...