### Narrado por Asura
Eu voltei para casa sem pressa, sentindo o peso de um dia que parecia ter se arrastado por uma eternidade. A morte da criança me afetava de uma forma que não podia compreender totalmente. Ao entrar na sala, encontrei Serena me esperando, sua expressão ansiosa e esperançosa.
— "Asura," — disse ela, levantando-se rapidamente. — "Você conseguiu ver a criança? O DNA deu positivo? Como ela é?"
Eu não sabia como responder. Apenas me sentei no sofá, olhando para o teto. Não sentia absolutamente nada, apenas um vazio profundo. Uma pergunta perturbadora ecoava na minha mente: que tipo de monstro eu me tornei? Com certeza o monstro que meu pai queria que eu fosse.
— "A criança morreu," — disse, a voz fria e vazia.
Serena recuou, a esperança nos olhos dela desmoronando.
— "Morreu?" — sussurrou ela, a incredulidade evidente.
Olhei para ela sem expressão. — "Sim. Ela não respirou ao nascer. Está morta."
— "Mas... como?" — Serena parecia perdida, tentando processar a notícia. — "Você viu? Ela era... nossa filha?"
Suspirei, tentando organizar os pensamentos, embora isso não trouxesse nenhuma emoção.
— "Ela era pequena, ruiva," — comecei. — "Perfeita, mas não respirou. A médica disse que não deu o suspiro de vida."
Serena sentou-se ao meu lado, os olhos cheios de lágrimas.
— "Ela era ruiva como eu?" — perguntou, sem acreditar, já que seu cabelo era de um tom ruivo acobreado.
— "Era um ruivo acastanhado," — respondi. — "Se tivesse sobrevivido e Scarlett a tivesse entregado, ninguém jamais desconfiaria que não seria sua filha."
Serena ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras.
— "Mas infelizmente o destino não quis assim," — disse ela, a voz trêmula.
Eu a encarei, o vazio em mim era insondável. — "Não sinto nada. Absolutamente nada. E é isso que me assusta. Que tipo de monstro sou eu?"
Serena ficou em silêncio, segurando minha mão.
— "Você fez tudo o que podia," — disse ela, tentando me consolar. — "Talvez... talvez seja melhor assim. Ela não teria tido uma vida fácil."
Eu sabia que ela estava tentando aliviar a dor que imaginava que eu sentia, mas a verdade era que eu não sentia dor. E isso me destruía mais do que qualquer outra coisa.
— "Quando vi a criança," — continuei, mais para mim do que para Serena. — "Eu sabia que era minha filha. Coloquei o emblema da nossa família na mãozinha dela antes de fechar o caixão. Mas não senti nada."
Serena apertou minha mão com mais força, as lágrimas caindo livremente agora.
— "Asura," — disse ela suavemente. — "Você não é um monstro. Você é meu marido, e eu sei que, de alguma forma, isso te machuca, mesmo que você não consiga sentir. Estou aqui para você, sempre."
Eu a encarei, a frieza no meu olhar contrastando com a dor que sabia que deveria estar sentindo.
— "Eu não sei, Serena," — disse, a voz baixa. — "Eu deveria estar devastado, mas não sinto nada. Talvez seja isso que meu pai queria. Que eu fosse vazio, sem emoções. E agora, depois de tudo, eu sou exatamente isso."
Serena abraçou-me, e por um momento, fiquei ali, sem retribuir, apenas aceitando seu consolo.
— "Ela estaria melhor com você," — disse finalmente. — "Se tivesse sobrevivido, teria tido uma vida melhor com você."
Serena se afastou um pouco, segurando meu rosto com as mãos.
— "Não pense assim," — disse ela, os olhos brilhando com determinação. — "O que aconteceu não foi culpa sua. Foi uma tragédia, mas não define quem você é."
Olhei para ela, o vazio ainda presente, mas as palavras dela penetrando lentamente. Talvez ela estivesse certa. Talvez a culpa não fosse minha.
— "Obrigado, Serena," — murmurei, sentindo uma pontada de algo que não conseguia identificar. — "Por estar aqui. Por tudo."
Ela sorriu, um sorriso triste mas cheio de amor.
— "Sempre, Asura," — respondeu ela. — "Sempre."
Eu sabia que ainda tinha um longo caminho a percorrer, mas pelo menos, naquele momento, não estava sozinho. E talvez, com o tempo, encontrasse uma maneira de sentir novamente.
Serena, ainda segurando minha mão, olhou para mim com olhos cheios de uma mistura de tristeza e esperança.
— "Asura," — começou ela, hesitante. — "Quando teremos nossos próprios filhos? Eu sempre sonhei com uma família."
Eu desviei o olhar, sentindo o peso das expectativas dela e da minha incapacidade de correspondê-las.
— "Eu não sei, Serena," — disse, a voz mais fria do que eu pretendia. — "Não desejo ser pai. Não agora, talvez nunca. Não posso amar uma criança. Não quero que ela se sinta como eu me senti na infância. Eu lembro o quanto sofri."
Serena mordeu o lábio, lutando para não chorar novamente.
— "Você tem tanto amor para dar," — disse ela suavemente. — "Talvez só precise de tempo para encontrar esse sentimento dentro de você."
— "Talvez," — respondi, não querendo alimentar falsas esperanças. — "Mas não quero que nossa criança sofra. Não quero ser um pai que não pode amar."
Ela assentiu, as lágrimas finalmente escapando.
— "Eu entendo," — disse, a voz trêmula. — "Só quero que saiba que, se um dia você mudar de ideia, estarei aqui, esperando."
Eu a abracei, sentindo o peso das expectativas dela e a minha incapacidade de correspondê-las.
— "Obrigado, Serena," — murmurei novamente. — "Por tudo."
Ela apenas apertou meu abraço, e ficamos ali, em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, tentando encontrar um caminho para seguir em frente.
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Meu Mestre, Meu Problema
Roman d'amourScarlett Meu nome é Scarlett, sou uma demônia meio raposa, sou filha do demônio mais forte do inferno, mas ele é somente considerado o guardião do lugar, minha mãe me abandonou quando nasci, mas não quer dizer que não tenho uma referência materna, m...