Capítulo 64

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### Narrado por Asura

Eu voltei para casa sem pressa, sentindo o peso de um dia que parecia ter se arrastado por uma eternidade. A morte da criança me afetava de uma forma que não podia compreender totalmente. Ao entrar na sala, encontrei Serena me esperando, sua expressão ansiosa e esperançosa.

— "Asura," — disse ela, levantando-se rapidamente. — "Você conseguiu ver a criança? O DNA deu positivo? Como ela é?"

Eu não sabia como responder. Apenas me sentei no sofá, olhando para o teto. Não sentia absolutamente nada, apenas um vazio profundo. Uma pergunta perturbadora ecoava na minha mente: que tipo de monstro eu me tornei? Com certeza o monstro que meu pai queria que eu fosse.

— "A criança morreu," — disse, a voz fria e vazia.

Serena recuou, a esperança nos olhos dela desmoronando.

— "Morreu?" — sussurrou ela, a incredulidade evidente.

Olhei para ela sem expressão. — "Sim. Ela não respirou ao nascer. Está morta."

— "Mas... como?" — Serena parecia perdida, tentando processar a notícia. — "Você viu? Ela era... nossa filha?"

Suspirei, tentando organizar os pensamentos, embora isso não trouxesse nenhuma emoção.

— "Ela era pequena, ruiva," — comecei. — "Perfeita, mas não respirou. A médica disse que não deu o suspiro de vida."

Serena sentou-se ao meu lado, os olhos cheios de lágrimas.

— "Ela era ruiva como eu?" — perguntou, sem acreditar, já que seu cabelo era de um tom ruivo acobreado.

— "Era um ruivo acastanhado," — respondi. — "Se tivesse sobrevivido e Scarlett a tivesse entregado, ninguém jamais desconfiaria que não seria sua filha."

Serena ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras.

— "Mas infelizmente o destino não quis assim," — disse ela, a voz trêmula.

Eu a encarei, o vazio em mim era insondável. — "Não sinto nada. Absolutamente nada. E é isso que me assusta. Que tipo de monstro sou eu?"

Serena ficou em silêncio, segurando minha mão.

— "Você fez tudo o que podia," — disse ela, tentando me consolar. — "Talvez... talvez seja melhor assim. Ela não teria tido uma vida fácil."

Eu sabia que ela estava tentando aliviar a dor que imaginava que eu sentia, mas a verdade era que eu não sentia dor. E isso me destruía mais do que qualquer outra coisa.

— "Quando vi a criança," — continuei, mais para mim do que para Serena. — "Eu sabia que era minha filha. Coloquei o emblema da nossa família na mãozinha dela antes de fechar o caixão. Mas não senti nada."

Serena apertou minha mão com mais força, as lágrimas caindo livremente agora.

— "Asura," — disse ela suavemente. — "Você não é um monstro. Você é meu marido, e eu sei que, de alguma forma, isso te machuca, mesmo que você não consiga sentir. Estou aqui para você, sempre."

Eu a encarei, a frieza no meu olhar contrastando com a dor que sabia que deveria estar sentindo.

— "Eu não sei, Serena," — disse, a voz baixa. — "Eu deveria estar devastado, mas não sinto nada. Talvez seja isso que meu pai queria. Que eu fosse vazio, sem emoções. E agora, depois de tudo, eu sou exatamente isso."

Serena abraçou-me, e por um momento, fiquei ali, sem retribuir, apenas aceitando seu consolo.

— "Ela estaria melhor com você," — disse finalmente. — "Se tivesse sobrevivido, teria tido uma vida melhor com você."

Serena se afastou um pouco, segurando meu rosto com as mãos.

— "Não pense assim," — disse ela, os olhos brilhando com determinação. — "O que aconteceu não foi culpa sua. Foi uma tragédia, mas não define quem você é."

Olhei para ela, o vazio ainda presente, mas as palavras dela penetrando lentamente. Talvez ela estivesse certa. Talvez a culpa não fosse minha.

— "Obrigado, Serena," — murmurei, sentindo uma pontada de algo que não conseguia identificar. — "Por estar aqui. Por tudo."

Ela sorriu, um sorriso triste mas cheio de amor.

— "Sempre, Asura," — respondeu ela. — "Sempre."

Eu sabia que ainda tinha um longo caminho a percorrer, mas pelo menos, naquele momento, não estava sozinho. E talvez, com o tempo, encontrasse uma maneira de sentir novamente.

Serena, ainda segurando minha mão, olhou para mim com olhos cheios de uma mistura de tristeza e esperança.

— "Asura," — começou ela, hesitante. — "Quando teremos nossos próprios filhos? Eu sempre sonhei com uma família."

Eu desviei o olhar, sentindo o peso das expectativas dela e da minha incapacidade de correspondê-las.

— "Eu não sei, Serena," — disse, a voz mais fria do que eu pretendia. — "Não desejo ser pai. Não agora, talvez nunca. Não posso amar uma criança. Não quero que ela se sinta como eu me senti na infância. Eu lembro o quanto sofri."

Serena mordeu o lábio, lutando para não chorar novamente.

— "Você tem tanto amor para dar," — disse ela suavemente. — "Talvez só precise de tempo para encontrar esse sentimento dentro de você."

— "Talvez," — respondi, não querendo alimentar falsas esperanças. — "Mas não quero que nossa criança sofra. Não quero ser um pai que não pode amar."

Ela assentiu, as lágrimas finalmente escapando.

— "Eu entendo," — disse, a voz trêmula. — "Só quero que saiba que, se um dia você mudar de ideia, estarei aqui, esperando."

Eu a abracei, sentindo o peso das expectativas dela e a minha incapacidade de correspondê-las.

— "Obrigado, Serena," — murmurei novamente. — "Por tudo."

Ela apenas apertou meu abraço, e ficamos ali, em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, tentando encontrar um caminho para seguir em frente.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora