Capítulo 89

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**Narrado por Scarlett**

O dia começou como qualquer outro, mas uma sensação estranha me acompanhava desde que acordei. Um aperto no peito, como se algo terrível estivesse para acontecer. Tentei ignorá-lo, atribuindo-o à minha preocupação constante com o estado das coisas no Inferno. Asura poderia estar treinando ou envolvido em algum conflito. Mas o pressentimento não se dissipava.

Mais tarde, um mensageiro chegou ao meu castelo com notícias que pareciam arrancar o chão sob meus pés. Serena havia sido assassinada durante uma invasão ao castelo principal. Asura, sempre tão imperturbável, estava devastado. Fiquei sem palavras. Serena, que sempre foi uma presença gentil e forte, estava morta. E Asura, meu destinado, enfrentava uma tragédia que nenhum de nós poderia imaginar.

Meu pensamento imediatamente foi para Vayron, o pequeno filho de Asura e Serena. Como Asura, com sua incapacidade de sentir emoções profundas, lidaria com essa perda e cuidaria de uma criança tão pequena? Claro, seus pais poderiam ajudar, mas nada substituiria a presença da mãe.

Eu queria ir ao castelo principal, mas hesitei. Parte de mim temia o que encontraria lá. No entanto, a necessidade de estar lá, de ver Asura e entender o que estava acontecendo, venceu minha hesitação. Usei meu poder de teletransporte e apareci no jardim do castelo principal. O caos era palpável; guardas corriam de um lado para o outro, e o luto estava presente no rosto de todos.

Identifiquei-me para os guardas, que, reconhecendo-me, me permitiram entrar. Dirigi-me ao salão onde disseram que Asura estava. À medida que me aproximava, o ambiente se tornava mais silencioso, quase sufocante com a tristeza e a tensão. Quando entrei, vi Asura em pé diante de um caixão fechado, sua figura imponente ainda mais sombria.

Hesitei por um momento, sem saber como abordá-lo. Ele estava imerso em seus pensamentos, sua expressão mais dura e fechada do que nunca. Caminhei até ele, parando ao seu lado. Ele não parecia notar minha presença, seus olhos fixos no caixão.

Finalmente, sem saber o que mais fazer, estendi os braços e o abracei. Senti seu corpo se enrijecer, mas não me afastei. "Eu sinto muito por sua perda," murmurei, a voz baixa e cheia de sinceridade. "Minha mãe também sente muito."

Ele permaneceu em silêncio por um momento que pareceu uma eternidade, antes de falar com uma voz fria e controlada. "Não deveria estar aqui. O castelo está um caos."

Soltei-o e recuei um pouco, tentando entender sua reação. "Eu... eu sei," respondi, ainda insegura. "Mas eu precisava ver você. Saber como está."

Ele virou a cabeça, finalmente me olhando, mas seus olhos eram um abismo de indiferença. "Como você acha que estou?" perguntou, com uma amargura que nunca o havia visto demonstrar. "Minha esposa está morta, meu filho está sem mãe, e tudo porque falhei em protegê-los."

Suas palavras foram um golpe. Ele se culpava, claro. Sempre se culpou por tudo o que acontecia ao seu redor, mesmo que nunca demonstrasse isso abertamente. "Não foi sua culpa," comecei, mas ele me interrompeu com um olhar de aço.

"Foi exatamente minha culpa," ele insistiu. "Eu sabia dos riscos, das ameaças. E ainda assim, não fui capaz de impedir isso."

Houve um momento de silêncio pesado, enquanto eu tentava encontrar as palavras certas. Mas o que se pode dizer a alguém que perdeu tudo? A culpa e a raiva em seus olhos eram evidentes, mesmo que ele não as expressasse verbalmente. Ele não era de demonstrar emoções, mas isso não significava que não as sentisse, mesmo que de forma confusa e reprimida.

"Eu... eu estou aqui, se precisar de algo," disse finalmente, sentindo a inadequação de minhas palavras.

Ele não respondeu, apenas voltou a olhar para o caixão. Senti-me inútil e deslocada, mas ao mesmo tempo sabia que precisava estar ali. Mesmo que Asura não admitisse, ele precisava de apoio, e eu estava disposta a oferecê-lo. O vínculo que nos liga é algo além das palavras e das ações.

Enquanto me afastava, o peso do que havia acontecido caiu sobre mim. Serena estava morta, e Asura enfrentava uma dor que talvez nunca superasse completamente. Mas eu estaria lá, para ele e para Vayron, de qualquer maneira que pudesse. Porque, apesar de tudo, o destino nos ligava de maneiras que nem sempre eram fáceis de entender, mas que eram impossíveis de ignorar.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora