Capítulo 62

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### Scarlett

Estava sentada em meu escritório, rodeada por pilhas de documentos que precisava assinar. O trabalho, que antes era um refúgio, agora parecia uma carga pesada, uma constante lembrança das responsabilidades que me esperavam. Cada assinatura parecia um passo mais perto da decisão inevitável que eu precisava tomar.

Enquanto minha caneta deslizava pelo papel, meus pensamentos começaram a vagar. Como seria criar uma criança sozinha? As exigências do meu reino já me consumiam. Será que conseguiria dar a atenção e o amor que meu filho merecia? A imagem de um bebê sozinho, esperando por minha atenção enquanto eu estava presa em intermináveis reuniões, me fazia estremecer.

— "Como posso fazer isso com você?" — murmurei para minha barriga, sentindo o bebê se mexer em resposta. As lágrimas começaram a rolar silenciosamente pelo meu rosto.

Pensava também no futuro, nos boatos que certamente surgiriam. Minha fama, minha índole... Mesmo que fossem mentiras, meu filho duvidaria de mim? E se fosse uma menina? Será que comparariam sua beleza, seu comportamento, comigo? Será que ela viveria sob a sombra das minhas ações?

O choro veio mais forte. — "Desculpa, meu anjinho," — sussurrei, — "mas acho que você será mais feliz sem mim. Não quero que sofra por minha causa."

A decisão mais difícil da minha vida estava diante de mim. Entregar a criança a Asura quando nascesse parecia a única escolha que garantiria um futuro estável para o bebê. A ideia de ser criada por uma madrasta, em vez de ser conhecida como filha de uma amante, parecia mais digna, mais segura.

— "Não quero ser como minha mãe de sangue," — disse a mim mesma, lembrando de Shokko, que me abandonou para ter sua liberdade. — "Quero fazer isso pela sua felicidade, meu amor. É melhor ser criada por Asura e Serena do que por mim. Eu não seria uma boa mãe de qualquer jeito."

No meio do meu sofrimento, ouvi uma batida suave na porta. Henri e Belial, meus irmãos mais novos, entraram com cuidado, trazendo um raio de luz para minha escuridão.

— "Oi, Scar!" — disse Henri, correndo até mim e me abraçando. — "Viemos te fazer companhia."

Belial, mais reservado, apenas sorriu e acenou. — "Trouxemos alguns lanches. Você precisa comer."

Os dois se acomodaram ao meu lado, trazendo uma atmosfera de calor e amor que eu tanto precisava. Passamos um tempo conversando sobre coisas triviais, mas logo a curiosidade deles começou a surgir.

— "Scarlett," — começou Henri, olhando para minha barriga. — "Você já pensou em nomes para o bebê?"

Sorri, tentando manter a voz firme. — "Ainda não. Mas tenho certeza de que será um nome lindo."

Belial, sempre mais observador, perguntou suavemente. — "Você está bem, Scar? Está se sentindo melhor?"

Assenti, tentando esconder a dor em meus olhos. — "Estou tentando, Belial. É muita coisa para processar, mas ter vocês aqui me ajuda muito."

Henri, com sua curiosidade infantil, perguntou de novo. — "Você acha que vai ser um menino ou uma menina?"

— "Eu não sei, Henri," — respondi, rindo levemente. — "Mas estou ansiosa para descobrir."

Os meninos ficaram ao meu lado, compartilhando histórias engraçadas e tentando me distrair. Henri fez caretas e piadas, enquanto Belial contava histórias de seus estudos e aventuras no castelo. A presença deles era um alívio, uma pausa necessária no tumulto emocional que eu estava enfrentando.

— "Você acha que o bebê vai gostar de brincar com a gente?" — perguntou Henri, com os olhos brilhando de expectativa.

— "Tenho certeza que sim," — respondi, tentando imaginar essa cena. — "Vocês serão os melhores tios do mundo."

Enquanto passava mais tempo com eles, a certeza da minha decisão só aumentava. Eu queria o melhor para meu filho, e embora isso significasse abrir mão dele, sabia que estava fazendo a escolha certa. Henri e Belial me abraçaram, prometendo estar sempre ao meu lado, e naquele momento, apesar da dor, senti uma pequena esperança crescer dentro de mim.

Quando a noite caiu, coloquei os meninos para dormir em seus quartos. Fiquei um tempo a mais no quarto de Henri, vendo-o adormecer com um sorriso no rosto. Belial, mesmo mais sério, também parecia em paz. Olhando para eles, senti um alívio temporário da minha dor. Eles eram a prova de que o amor de uma família podia superar qualquer dificuldade.

Voltei para meu quarto, sentindo o peso da decisão ainda em meus ombros. Mas sabia que estava fazendo a escolha certa. Toquei minha barriga novamente, sussurrando uma promessa silenciosa para o bebê que ainda não conhecia. — "Eu sempre te amarei, e farei o que for melhor para você, mesmo que isso signifique te deixar ir."

Fechei os olhos, deixando as lágrimas rolarem uma última vez antes de adormecer. Amanhã seria um novo dia, e eu enfrentaria os desafios que viessem, com a certeza de que estava fazendo o melhor para meu filho.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora