Meu Mestre, Meu Problema

Capítulo 60

Scarlett

Voltar à casa dos meus pais nunca foi fácil. Toda vez que cruzava o portão, sentia uma mistura de nostalgia e ansiedade. Nostalgia pelos momentos felizes que passei ali e ansiedade por saber que, desta vez, minha visita não era para uma ocasião alegre.

Cheguei à mansão com o coração pesado, meu rosto marcado pelas lágrimas recentes que tentei, em vão, esconder. Bati na porta, e Mia, minha mãe, abriu com um sorriso acolhedor que se desfez ao ver meu estado.

"Scarlett, querida, o que aconteceu?" Ela me puxou para dentro, preocupada.

"Preciso... preciso falar com você, mãe," disse, a voz trêmula.

Ela me guiou até a sala de estar, onde me sentei no sofá que tantas vezes fora um refúgio em minha infância. Mia se acomodou ao meu lado, seu olhar cheio de preocupação e amor incondicional. Não consegui segurar mais as lágrimas e desabei, enroscando-me no colo dela, como fazia quando era pequena.

"Está tudo bem, filha. Estou aqui," sussurrou, acariciando meus cabelos.

Entre soluços, comecei a contar tudo. A batalha contra os monstros ao lado de Arlan, o momento em que passei mal, o dragão que quase me matou e a descoberta da gravidez no hospital. Mia me ouviu atentamente, sem me interromper, apenas segurando minha mão com firmeza.

"Não sei o que fazer, mãe. Não sei se continuo com a gestação ou não. Asura foi tão cruel, não se importou nem um pouco. Ele me tratou como se eu fosse um nada, como se nosso filho não fosse nada," desabafei, sentindo uma dor sufocante no peito.

Mia respirou fundo, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. "Oh, Scarlett. Você passou por tanta coisa. Mas, querida, preciso que você respire fundo e pense com calma. Vamos tentar entender o que você realmente quer."

"Eu... Arlan se ofereceu para casar comigo e assumir o bebê. Disse que assim eu evitaria a difamação e protegeria nossa família. Mas eu não sei se consigo esconder isso. Não sei se é justo com ele," continuei, a confusão tomando conta de mim.

Mia segurou meu rosto com delicadeza, obrigando-me a olhar nos seus olhos. "Scarlett, a decisão é sua. Ninguém pode decidir por você. Você precisa pensar no que é melhor para você e para esse bebê. Se você decidir continuar com a gestação, eu estarei ao seu lado, não importa o que aconteça."

"Mas, mãe, e se eu não conseguir? E se tudo der errado?" A incerteza em minha voz era clara.

"Filha, a vida é cheia de incertezas. Mas você é forte. Sempre foi. E você tem uma família que te ama e que estará aqui para te apoiar, não importa o que aconteça. Se casar com Arlan é a escolha certa para você, nós vamos te apoiar. Se decidir seguir sozinha, também vamos te apoiar. O importante é que você faça o que sente que é certo no seu coração," disse Mia, sua voz firme e carinhosa.

Suspirei, sentindo um pouco do peso sair de meus ombros. "Eu só... eu só queria que Asura se importasse. Que ele sentisse algo."

Mia sorriu tristemente. "Asura tem suas próprias batalhas. Mas você não pode deixar que a frieza dele determine o que você faz da sua vida. Pense no que você quer, no que vai te fazer feliz."

Passamos o resto do dia conversando. Mia me contou histórias de quando estava grávida de Eliza e dos meus irmãos, das dificuldades e das alegrias. Ajudou-me a ver que, apesar de tudo, havia uma luz no fim do túnel.

No final da tarde, Dagon chegou em casa. Seu olhar ficou sombrio ao me ver tão abatida, mas Mia, sempre sensata, pediu que ele esperasse para que pudéssemos conversar com calma.

"Scarlett, o que aconteceu?" perguntou ele, a voz cheia de preocupação.

Contei a ele a mesma história, embora fosse mais difícil encarar a decepção nos olhos dele. Dagon sempre foi um pai protetor e ver sua filha sofrendo era algo que o consumia. Ele ficou em silêncio por um longo tempo, absorvendo tudo.