Capítulo 75

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Asura

A viagem até o aniversário dos meus sobrinhos, Belial e Henri, filhos de Mia, minha meia-irmã, foi feita na carruagem da família real. Ao meu lado, Serena, minha esposa, estava tranquila e elegante como sempre. Ao chegarmos, fomos imediatamente saudados pela minha sobrinha Eliza e sua filha Cristal, ambas radiosas em meio à celebração.

Cumprimentamos as duas e entramos no salão de festas, e logo avistei Scarlett na parte de cima, observando tudo. Decidi ignorar sua presença, focando na razão oficial da nossa visita. Com Serena ao meu lado, nos dirigimos aos gêmeos para os cumprimentar.

— "Parabéns, Belial, Henri," — disse, minha voz sem emoção. — "Desejo a ambos muitos anos de sucesso e felicidade."

— "Obrigado, Asura," — respondeu Belial, com um sorriso. — "A presença de vocês é um presente em si."

Depois dos cumprimentos formais, a sensação de estar sempre sob vigilância tornou-se opressiva. Decidi que precisava de um tempo longe das formalidades sociais. Informei Serena da minha breve ausência e me dirigi ao jardim, onde a serenidade do céu estrelado oferecia um contraste reconfortante à agitação do salão.

No jardim, avistei Aron sentado em um banco, com um olhar calmo e pensativo, bem diferente de como estava durante nossa última confrontação. Ele percebeu minha aproximação e abriu um sorriso forçado.

— "Irmãozinho," — disse ele em tom brincalhão.

— "Isso não vai funcionar se está tentando me irritar," — respondi friamente. — "Essas provocações infantis podem até irritar meu pai, mas para mim não fazem diferença. Você é meu irmão, afinal de contas."

Aron suspirou, baixando a cabeça.

— "Posso saber o que você realmente queria no castelo? Pelo trono, nunca se interessou. Pode até ter desejado, mas sei que não foi por ganância."

Ele respirou fundo, antes de responder.

— "Se eu te disser o motivo, você vai se irritar, e não é nem brincadeira."

— "Eu não tenho sentimentos," — retruquei. — "Não é como se eu fosse agir sem pensar."

Aron abriu um sorriso estranho antes de falar.

— "O que eu realmente queria no castelo? Desafiar seu pai para uma luta até a morte. Realmente não era pelo trono do inferno, mas sim para conseguir matar seu pai. Eu quero Sarah, mas ela só tem olhos para ele. Se ele morrer, talvez..."

A ideia de Aron estar disposto a arriscar sua vida pela possibilidade de ter minha mãe de volta parecia uma piada cruel.

— "Minha mãe ama meu pai," — disse, sem me importar muito. — "Mesmo que vencesse, o que é quase improvável pelas habilidades de luta do meu pai, ela nunca voltaria para você. O ódio dela seria muito grande, jamais passaria."

— "Eu queria minha Evy de volta," — respondeu Aron, a tristeza evidente em sua voz.

— "Por que insistir em uma mulher que ficou contigo por parecer o marido dela? Além de eu ter certeza que foi síndrome de Estocolmo, você a sequestrou."

— "Eu não obriguei sua mãe a ficar comigo, pirralho," — retrucou Aron, irritado.

Revirei os olhos, percebendo que ele nunca desistiria dela. Talvez meu pai estivesse certo quando dizia que o amor enfraquece, cega as pessoas e as leva à morte.

— "Não deveria estar parabenizando seus netos?"

— "Já fiz isso," — respondeu Aron. — "E você não deveria estar fazendo companhia a sua esposa, ao invés de deixá-la sozinha em uma festa onde não conhece ninguém, com sua ex-amante presente?"

— "Serena tem mais postura e etiqueta do que eu," — respondi friamente. — "Nunca se rebaixaria a arrumar confusão. Ela se acha melhor pela posição em que está, por não se rebaixar a tal nível."

— "Tenho pena da sua esposa e da Scarlett," — disse Aron, com um suspiro. — "Infelizmente, estão ligadas a você eternamente, um demônio que não se importa com os problemas que causa."

— "Pelo menos não estou querendo arriscar minha vida por uma mulher que não me ama," — retruquei, sem intenção de causar problemas.

Aron riu, balançando a cabeça.

— "Eu pelo menos não desisti de quem eu sou por causa da aceitação do meu papai," — disse de forma debochada.

Scarlett

Eu estava no salão, ainda sentindo os olhares de Asura quando decidi ir ao jardim. Encontrei Aron e Asura conversando calmamente, uma visão estranha considerando suas personalidades conflitantes. Respirei fundo e me aproximei, lembrando-me da missão que minha mãe, Mia, me dera.

— "Aron, minha mãe está chamando você," — disse, tentando soar firme. — "Ela descobriu sobre o problema que você causou no castelo principal. A rainha Sarah contou, e ela está brava. Meu pai também..."

Aron suspirou, levantando-se.

— "Obrigado, Scarlett. Eu vou resolver isso."

Enquanto ele se afastava, tentei me virar para ir embora, mas a voz fria de Asura me deteve.

— "Scarlett, podemos conversar?"

Eu hesitei, sabendo que Serena estava por perto e temendo criar novos boatos.

— "Não quero que novos boatos sejam criados," — disse, tentando me afastar. — "Ainda mais agora que os antigos estão diminuindo. Serena está aqui, deveria pensar nela antes de ser imprudente."

— "Eu só estou querendo conversar, é sério," — insistiu Asura.

Pensei por um momento e decidi ouvir o que ele tinha a dizer. Sentei-me no banco em frente ao dele.

— "Posso perguntar por que estava em uma loja de roupas de bebê?" — perguntou Asura, seu tom ainda frio.

Será que Serena contou para ele? Acho que ela não faria isso, nem tocar em meu nome ela deve querer.

— "Por que quer saber? Talvez eu tenha seguido em frente, talvez esteja grávida. Isso não seria da sua conta de qualquer jeito," — respondi, irritada.

— "Por que está com um tom tão ignorante? Está braba?" — Asura perguntou, sua expressão fria e sem emoção.

— "Queria que você me esquecesse," — disse, virando o rosto para o jardim de rosas azuis.

— "Eu tento, mas infelizmente a destinação não deixa. Raposinha, mesmo sem sentimento, a destinação ainda me faz querer você," — respondeu ele, sua voz sem calor.

— "Chega, já conversamos o suficiente," — disse, levantando-me para ir embora, mas ele segurou meu braço e me fez encarar seus olhos azuis.

Pensei que ele iria fazer algo, mas ele apenas me abraçou por um momento e sussurrou um pedido de desculpas em meu ouvido, antes de se afastar e desaparecer.

Voltei para a festa ainda confusa com sua ação, que foi bem estranha.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora