Capítulo 78

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A reunião havia sido longa e exaustiva, mas a festa que se seguiu foi uma compensação generosa. Com música alta, mesas repletas de iguarias e bebidas abundantes, os lordes e damas do inferno finalmente puderam relaxar e aproveitar o momento. Era uma rara oportunidade para descontrair, mesmo para aqueles que costumavam manter uma postura rígida e calculada. Entre eles, Scarlett e Asura se destacavam, ambos em estados de espírito diferentes, mas igualmente ansiosos por um momento de alívio.

Asura, sempre frio e controlado, parecia mais relaxado do que de costume. Ele estava em um canto, apreciando um copo de vinho infernal forte, o único tipo de bebida que ele considerava suficiente para abafar as vozes e os pensamentos que normalmente mantinha à distância. Scarlett, por outro lado, estava circulando pela festa, conversando com conhecidos e aproveitando a bebida. O álcool fluía livremente, e os risos eclodiam a cada minuto. Era uma noite onde todos podiam, temporariamente, esquecer suas preocupações.

À medida que a noite avançava, Scarlett encontrou Asura no corredor. Ele estava encostado na parede, observando a festa com um olhar distante. Quando seus olhares se encontraram, uma tensão familiar surgiu no ar. Scarlett, já sob o efeito do álcool, aproximou-se dele, sem muita intenção além de uma conversa amigável.

— Parece que até você está aproveitando a festa, — ela comentou com um sorriso atrevido, segurando seu próprio copo de bebida.

Asura olhou para ela, seu rosto inexpressivo como sempre, mas havia algo em seus olhos que a fez hesitar. Ele ergueu o copo em saudação e tomou um gole antes de responder:

— Apenas uma pausa da monotonia habitual.

Eles ficaram ali, em silêncio por um momento, deixando o som abafado da música e das conversas preencherem o vazio. Era raro encontrá-los assim, em um espaço onde não precisavam manter as aparências. Asura, talvez influenciado pela bebida, parecia menos impenetrável, e Scarlett, por sua vez, se sentia corajosa o suficiente para cutucar um pouco mais fundo.

— E como vai a futura paternidade? — ela perguntou, tentando soar casual, mas não conseguiu esconder totalmente o tom de curiosidade.

Asura encarou-a por um instante, seus olhos azuis inexpressivos. Ele deu de ombros levemente.

— Não há muito a dizer. Serena está feliz, e é o que importa, não é?

A resposta vaga e indiferente fez Scarlett sentir uma pontada de frustração. Ela não sabia o que esperava ouvir, mas a indiferença dele a incomodava. Antes que pudesse controlar suas palavras, perguntou:

— E você? Não está feliz?

Asura virou o rosto para ela, o olhar fixo em seus olhos. Por um momento, Scarlett sentiu como se ele estivesse prestes a dizer algo importante, mas então ele simplesmente desviou o olhar e tomou outro gole de sua bebida.

— Felicidade é relativa, — ele respondeu, seu tom neutro, mas carregado de um significado que Scarlett não conseguia decifrar completamente.

A tensão entre eles era palpável, uma força invisível que os aproximava apesar de tudo. Scarlett sabia que deveria ir embora, que essa conversa só poderia levar a complicações, mas algo a impediu. Talvez fosse a bebida, talvez fosse o peso de tantos sentimentos não resolvidos. Antes que pudesse se afastar, Asura se aproximou dela, sua presença intensa como sempre.

— Você sabe, — ele murmurou, sua voz baixa e rouca, — ainda te desejo, Scarlett.

As palavras foram ditas quase em um sussurro, mas soaram altas e claras nos ouvidos dela. Scarlett ficou congelada, surpresa e confusa. Ela não conseguia entender por que ele estava dizendo isso, especialmente agora. O olhar que ele lhe deu era firme, mas havia algo mais profundo ali, algo que ela não conseguia ler.

Scarlett tentou responder, mas as palavras ficaram presas na garganta. O álcool, a proximidade, o olhar dele — tudo parecia girar ao redor dela. Sem pensar, ela se aproximou mais, e antes que percebesse o que estava fazendo, seus lábios se encontraram em um beijo intenso e desesperado. Foi como uma explosão de emoções reprimidas, um momento em que todas as barreiras caíram.

A partir daquele instante, tudo se tornou um borrão. O corredor, as paredes, as portas — tudo desapareceu quando eles se entregaram ao desejo que há muito evitavam. Tropeçando e rindo, eles acabaram em um dos quartos do castelo, onde, finalmente, perderam o controle completo. A noite se tornou uma mistura de beijos, toques e palavras sussurradas, ambos se deixando levar pela paixão que sempre os envolveu.

Quando a manhã chegou, Scarlett foi a primeira a acordar. A luz suave do amanhecer filtrava-se pelas cortinas pesadas, iluminando o quarto com uma luz pálida. Ela sentiu o calor de Asura ao seu lado e, de repente, a realidade da situação a atingiu como um balde de água fria. Levantou-se devagar, tentando não acordá-lo, e sentiu uma onda de vergonha e culpa. Olhou para ele por um momento, ainda adormecido, e se perguntou como as coisas chegaram a esse ponto.

Tentando juntar as peças da noite anterior, Scarlett percebeu que não se lembrava de tudo. Fragmentos de memória flutuavam em sua mente — o corredor, o beijo, a sensação de urgência e, finalmente, a escuridão. Sentou-se na beira da cama, passando as mãos pelo rosto enquanto tentava processar tudo. A sensação de estar no castelo principal, tão perto de Serena, e ainda assim envolvida em algo tão errado, fazia seu estômago se revirar.

Quando Asura começou a se mexer, Scarlett se afastou da cama, vestindo suas roupas rapidamente. Ele abriu os olhos lentamente, piscando contra a luz do dia. Olhou para ela e, por um momento, pareceu que ele também estava tentando entender o que havia acontecido. Levantou-se, vestiu-se em silêncio e, finalmente, olhou para Scarlett, com uma expressão neutra.

— Desculpa por isso, — disse ele, suas palavras soando vazias.

Scarlett sentiu uma pontada de raiva e tristeza. Desculpas? Como se isso pudesse consertar o que haviam feito. Ela balançou a cabeça, tentando encontrar as palavras certas.

— Desculpas não vão resolver essa situação, Asura, — respondeu, a voz embargada.

Ele a observou por um momento, os olhos azuis fixos nela, antes de responder com frieza:

— Isso não foi causado apenas por mim.

Com essas palavras, ele se virou e saiu do quarto, deixando Scarlett sozinha com seus pensamentos e sentimentos conflitantes. Ela se sentou na beira da cama, abraçando os joelhos, sentindo-se perdida e confusa. Como poderia continuar depois disso? Como poderiam fingir que nada aconteceu, especialmente quando as consequências eram tão profundas?

Scarlett sabia que precisava sair do castelo o mais rápido possível, mas se sentia presa pelo peso das escolhas que haviam feito. Respirou fundo, tentando encontrar um senso de calma em meio ao caos. Sabia que a partir daquele momento, nada seria igual.

Meu Mestre, Meu ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora