**Scarlett**
Aceitar o conselho de meu pai e procurar um marido parece uma tarefa tão desinteressante quanto ir à guerra sem uma espada. E, no entanto, aqui estou, participando de uma espécie de feira de lordes e reis infernais, cada um mais presunçoso e autossuficiente que o outro. A ideia de estar aqui, me exibindo como uma mercadoria de luxo, é simplesmente exasperante.
Meus irmãos, Henri e Belial, estão ao meu lado, como duas sombras inescapáveis. Henri é mais sutil em suas observações, enquanto Belial faz questão de ser vocal sobre suas opiniões conservadoras. Cada vez que um pretendente se aproxima, Belial torce o nariz, faz um comentário sarcástico ou simplesmente dispensa o pobre coitado com um olhar de desprezo. É como se ele estivesse me vendendo para o mais alto lance, mas apenas se o comprador fosse suficientemente antiquado para o seu gosto. Machistas, conservadores, homens que acreditam que uma mulher deve ficar em casa e cuidar dos filhos. É isso que ele acha que eu deveria procurar?
"Ele é um idiota," murmura Belial após um pretendente particularmente enfadonho se apresentar.
"Idiota? Ele é o lorde de um dos níveis mais prósperos do inferno," respondo, já cansada.
"Próspero, mas fraco. Ele não seria capaz de controlar nem uma legião de diabretes," rebate Henri com uma risada seca.
Revirando os olhos, eu estava prestes a sair dali, quando vi Orion entrar na sala. Um dos irmãos de consideração do meu pai, ele é uma figura imponente, com uma presença que comanda atenção. Minha primeira reação é de confusão; o que ele está fazendo aqui?
"Se você veio procurar o meu pai, sinto informar que veio em vão. Ele está no reino de minha mãe," digo, tentando esconder minha irritação crescente.
Orion sorri com aquela calma característica dele. "Não, Scarlett, só vim tomar um copo de chá com meus sobrinhos e, quem sabe, fofocar um pouco."
Respiro fundo, sentindo a pressão aumentar. Orion pode ser irritante às vezes, mas sua presença é, no mínimo, um alívio em meio a este circo.
"Vou mandar uma serva trazer algo para beber," respondo, estalando os dedos para chamar uma das servas. Enquanto esperamos, ele se senta com uma postura descontraída, observando os outros lordes com um olhar quase divertido.
"Então, que fofocas tem para compartilhar, Orion?" pergunto, tentando parecer desinteressada.
Ele se inclina para frente, os olhos brilhando de malícia. "Bem, ouvi dizer que o rei do nono nível está com problemas conjugais. Sua rainha descobriu não uma, mas três amantes. E, como se não bastasse, há rumores de que ele tem filhos bastardos espalhados por aí."
Eu bufo, quase sorrindo. "Não me surpreende. Ele sempre foi um idiota narcisista."
Orion ri, concordando. "E o lorde do quinto nível? Dizem que ele está desesperado para encontrar um herdeiro, mas nenhum de seus filhos parece digno o suficiente. Talvez ele devesse ter pensado nisso antes de trair sua esposa com metade das servas de seu palácio."
A conversa continua nesse tom, uma sequência de fofocas e escândalos dos reinos infernais. Apesar de tudo, é um alívio poder rir e descontrair um pouco. No entanto, Orion logo muda o assunto para um tópico que eu preferiria evitar.
"Então, Scarlett, por que não foi à coroação de Asura? Ouvi dizer que foi uma cerimônia e tanto."
Eu hesito, não sabendo exatamente o que dizer. A verdade é que estava ocupada com assuntos do meu reino, mas também evitei a cerimônia por motivos mais pessoais. Ver Asura se tornar rei, ao lado de Serena e do filho deles, não era algo que eu queria presenciar.
"Estava ocupada," digo, finalmente. "Muitos problemas para resolver. E você sabe como são essas coisas, Orion. Nem sempre podemos nos dar ao luxo de ir a festas."
Belial decide intervir, com um comentário típico dele. "Talvez tenha sido melhor assim, Scarlett. Não teria sido agradável vê-lo com a nova rainha ao seu lado."
Eu o encaro, ressentida. "Obrigada, Belial, mas não preciso das suas observações sarcásticas."
Orion, sempre o conciliador, levanta uma sobrancelha. "Talvez ela só estivesse ocupada demais sendo a rainha mais poderosa e influente do inferno. Afinal, conquistar dois novos níveis em sete anos não é algo que se faz facilmente."
"Exatamente," respondo, grata pelo apoio inesperado. "Tenho responsabilidades e não posso simplesmente deixar tudo para participar de cerimônias."
Henri, que até então estava em silêncio, finalmente se manifesta. "E sobre os pretendentes? Alguma chance de encontrarmos um homem digno para você, Scarlett?"
Seu tom é quase provocativo, como se ele realmente esperasse que eu aceitasse qualquer um desses homens sem pensar duas vezes. Mas a realidade é que a maioria deles não passa de interesseiros ou figuras sem caráter. Não é assim que quero escolher meu futuro.
"Eu me sinto como se estivesse sendo leiloada," digo, sem esconder meu desgosto. "Como se minha vida estivesse à venda para o maior lance, e vocês dois fossem os leiloeiros."
"Não seja dramática," Henri responde, mas há um leve sorriso em seus lábios, como se ele estivesse se divertindo com meu desconforto.
"Você precisa de alguém forte e capaz de cuidar de você," Belial insiste, ignorando minha expressão de irritação. "Alguém que possa te proteger e dividir as responsabilidades."
"Ou alguém que só queira se aproveitar do meu poder," respondo, minha paciência começando a se esgotar. "Eu não vou me casar com qualquer um só porque vocês acham que é o certo. E, definitivamente, não vou me casar com alguém que vocês aprovem só porque ele é machista e conservador."
Orion ri, parecendo apreciar a tensão. "Acho que Scarlett tem razão. Ela é mais do que capaz de escolher seu próprio destino."
Os olhos de Belial se estreitam, mas ele não responde. Em vez disso, o silêncio se instala entre nós, carregado de frustração e desentendimentos não resolvidos.
Nesse momento, a serva retorna com bebidas, interrompendo a atmosfera tensa. Orion toma um gole do seu chá, ainda com um sorriso no rosto.
"Bem, se me permitem dizer," ele começa, em um tom mais sério, "acho que Scarlett precisa de alguém que entenda sua força e independência. Não alguém que queira controlá-la."
Agradeço a Orion mentalmente, mesmo que ele possa ser um tanto irritante às vezes. Pelo menos ele entende que não sou uma mercadoria para ser trocada ou vendida.
Ainda assim, a conversa me deixa pensativa. Meu pai sempre quis que eu encontrasse alguém para dividir a responsabilidade, e meus irmãos parecem compartilhar desse sentimento, mas é difícil imaginar encontrar alguém que realmente entenda e respeite quem eu sou.
Enquanto a noite avança, os pretendentes continuam a se apresentar, mas meu interesse está em outro lugar. O pensamento de encontrar alguém adequado parece cada vez mais distante, quase impossível.
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Meu Mestre, Meu Problema
RomanceScarlett Meu nome é Scarlett, sou uma demônia meio raposa, sou filha do demônio mais forte do inferno, mas ele é somente considerado o guardião do lugar, minha mãe me abandonou quando nasci, mas não quer dizer que não tenho uma referência materna, m...