Capítulo 95

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Asura

A lâmina da minha espada brilha sob a luz fraca do submundo, cortando o ar e cravando-se no corpo grotesco de um monstro que urra em dor. O sangue negro espirra, manchando minha pele, mas ignoro a sensação quente e pegajosa. Esses monstros, frutos dos pesadelos mais profundos, não são nada para mim. Suas presenças bestiais são meros desafios físicos, algo que posso superar facilmente. Sou o príncipe do inferno, afinal.

Os monstros não cessam, avançam com fúria cega, sem medo ou hesitação. Meu corpo age por conta própria, os músculos contraídos, sentidos aguçados, enquanto destruo um após o outro, sem emoção, sem satisfação. Matar é apenas uma tarefa, uma responsabilidade inerente ao meu papel. Não sinto prazer nisso, nem sequer alívio. Apenas executo o que deve ser feito.

A luta é brutal, mas para mim, é rotina. Esses seres grotescos estão longe de ser uma ameaça real, e cada golpe que desferem, cada ataque que tentam, só resulta em suas próprias mortes. A batalha está quase no fim quando percebo uma presença familiar.

**Asura** —Scarlett— penso, mas não me viro. Eu não preciso vê-la para saber que ela está ali. Posso sentir seus olhos sobre mim, observando cada movimento, talvez avaliando minha força, meu controle.

Ela está escondida na sombra de uma coluna caída, tentando ser discreta, mas sua energia é impossível de ignorar. Termino meu trabalho, exterminando o último monstro com um movimento firme e rápido. Sua cabeça rola no chão com um som surdo, e o campo de batalha cai em um silêncio pesado. Meu peito sobe e desce lentamente, recuperando-se do esforço físico. O sangue dos monstros escorre por meu abdômen, misturando-se ao suor que cobre meu corpo. Meu cabelo, normalmente impecável, está bagunçado, desalinhado pela intensidade da batalha.

Guardo minha espada com um movimento fluido e me viro, finalmente, para encarar Scarlett. Ela está lá, em pé, com uma expressão que não consigo ler de imediato. Não esperava vê-la novamente tão cedo, especialmente após nossa última conversa.

**Asura** —O que você quer?— pergunto diretamente, minha voz baixa e firme, sem traço de calor ou acolhimento. O olhar dela se encontra com o meu, e por um momento, fico em silêncio, apenas a estudando. Seus olhos brilham com algo que não consigo identificar completamente. Curiosidade? Medo? Determinação? Talvez um pouco de tudo.

**Scarlett** —Eu aceito— diz ela de repente, sua voz firme, embora haja um leve tremor nela. —Aceito seu pedido para me casar com você.

Minha reação inicial é o silêncio. Fico apenas a encarando, sem conseguir processar imediatamente suas palavras. Ela parecia tão reticente antes, hesitante em entrar nesse mundo, em aceitar o que eu oferecia. E agora, do nada, ela muda de ideia?

**Asura** —Por quê?— pergunto, meus olhos estreitando ligeiramente enquanto analiso suas expressões. Scarlett não é do tipo que faz algo sem motivo, e algo em sua postura me diz que há mais por trás dessa decisão.

**Scarlett** —Ser rainha de todo o inferno é algo que desejo— responde, sua voz quase convincente. Mas eu sou um mestre em identificar mentiras, e isso não é totalmente verdadeiro. Há algo mais, algo que ela está escondendo de mim.

Fico em silêncio por um momento, ponderando suas palavras. Se for realmente isso que ela quer, então está decidida. Mas, ao mesmo tempo, preciso ter certeza de que suas intenções não vão comprometer o futuro do meu filho.

**Asura** —Vayron— digo, observando atentamente sua reação ao mencionar o nome do meu filho. —Você vai cuidar bem dele?

Sei que Scarlett é forte e determinada, mas minha preocupação não é infundada. Crianças são vulneráveis, e Vayron... ele é tudo o que resta da antiga vida de Serena. Não posso permitir que algo aconteça a ele, especialmente não pelas mãos de alguém que não o vê como uma prioridade.

Ela parece hesitar, talvez compreendendo o peso da minha pergunta.

**Asura** —Você vai acabar vendo ele como um problema?— continuo, minhas palavras cortando o ar entre nós como uma lâmina. Preciso saber se ela o vê como um obstáculo, algo a ser eliminado.

Scarlett respira fundo, como se estivesse tomando um momento para se acalmar antes de responder.

**Asura** —Já conheceu Vayron?— pergunto, querendo ver como ela responde.

**Scarlett** —Sim, sua mãe me mostrou ele. É um bom garoto, me lembra você quando criança, super fofo— diz ela com um sorriso sincero, que logo se desmancha quando ela olha para mim novamente, reparando no estado em que estou. O sangue que cobre minha pele, o cabelo bagunçado... vejo que isso a perturba, mas também a atrai de uma maneira que ela talvez não queira admitir.

**Asura** —Então, você vai vir morar comigo?— pergunto, indo direto ao ponto.

Ela cruza os braços, uma expressão determinada cruzando seu rosto.

**Scarlett** —Você sabe que eu tenho dois níveis infernais. Não vou abandonar tudo para ser rainha. Serei sua esposa, mas não submissa como a sua falecida esposa era. Não espere submissão de mim— sua voz é firme, e posso ver que ela está falando sério. Scarlett não é alguém que cede facilmente, e muito menos alguém que se curva a outra pessoa.

**Asura** —Aceito— respondo, sem hesitação. Não espero que ela seja submissa, mas preciso que ela entenda as responsabilidades que virão com o papel que está aceitando.

A ideia de compartilhar meu espaço com alguém que não seja um simples seguidor ou serva é nova para mim, mas não estou em posição de recusar. Ela fez sua escolha, e agora faz parte do meu mundo.

Aproximo-me um pouco mais dela, sem quebrar o contato visual. O cheiro de sangue fresco ainda paira no ar, e posso ver que Scarlett não está totalmente confortável com isso, mas ela mantém sua postura.

**Asura** —Vai cumprir sua parte, então? Vai cuidar bem de Vayron, mesmo que eu não esteja por perto para ver?

**Scarlett** —Sim— ela responde sem hesitação, mas há algo na maneira como ela olha para mim, como se estivesse pensando em algo mais.

**Asura** —Então, você sabe o que está assumindo, Scarlett— digo enquanto me aproximo ainda mais, minha voz baixa e fria, mas cheia de certeza. —Este não será um casamento normal. Não haverá amor da minha parte, você sabe disso. Mas haverá respeito, e uma aliança poderosa que governará o inferno.

Ela assente, mostrando que compreende as implicações do que está fazendo. Está aceitando um casamento com alguém que não pode amá-la da forma tradicional, alguém cujo coração não bate com emoção, mas que pode oferecer poder e segurança.

**Scarlett** —Eu sei o que estou aceitando— ela responde, a convicção em sua voz é clara. —E estou pronta para isso.

**Asura** —Então é isso— concluo, dando um passo para trás, criando uma distância física entre nós. —Nos casaremos em breve, e você será minha esposa, rainha do inferno.

Não há mais nada a ser dito. Scarlett tomou sua decisão, e eu a aceitei. Em breve, o inferno terá uma nova rainha, e o futuro do meu filho estará seguro.

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⏰ Última atualização: Sep 05 ⏰

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