A tempestade de areia rugia ao nosso redor, transformando o deserto em um mar de grãos dourados e cortantes. Mesmo assim, meus pensamentos vagaram, puxados por uma memória distante e, ao mesmo tempo, dolorosamente próxima. Lembrei-me da Clareira e de Gally, daqueles momentos que, embora repletos de provocações, agora pareciam carregados de uma leveza nostálgica.
Quando cheguei na Clareira, confusa e assustada, Gally foi um dos primeiros a me desafiar. ── Ei, novata! Vai atrapalhar nosso trabalho ou vai aprender a fazer algo útil? ── ele dizia, a provocação clara em sua voz. Eu não recuava. ── Talvez se você me mostrasse como fazer algo direito pela primeira vez, Gally, eu aprenderia mais rápido ── respondia, minhas palavras sempre carregadas de sarcasmo.
Essas primeiras interações eram sempre tensas, com uma energia competitiva que nos impulsionava. Mas, aos poucos, percebi que havia uma certa camaradagem nas nossas provocações. Era como se, através daquela rivalidade, estivéssemos encontrando uma forma de nos conectar e nos entender.
Lembro-me de um dia em particular, quando estávamos ambos encarregados de reparar a cerca para os animais. ── Você sabe mesmo usar esse martelo? ── ele perguntou, um sorriso desafiador nos lábios. ── Acho que vou te surpreender, Gally ── retruquei, pegando o martelo com confiança. Trabalhamos lado a lado, trocando farpas e sorrisos irônicos, mas no final do dia, a cerca estava consertada e havia um sentimento de realização mútua.
Esses momentos, repletos de tensão e leveza, eram agora motivos de saudades. Havia uma alegria inesperada naqueles dias, uma simplicidade que contrastava brutalmente com a realidade dura que enfrentávamos agora.
Os grãos de areia chicoteavam meu rosto, trazendo-me de volta à dura realidade. Nossos pés afundavam na areia, tornando cada passo uma batalha, mas continuávamos nos movendo com uma agilidade surpreendente. O CRUEL não nos deixaria em paz tão facilmente.
Finalmente, quando sentimos que estávamos afastados o suficiente, paramos e nos agachamos, respirando pesadamente. Olhamos para o complexo à distância. Vimos os homens do CRUEL saírem em carros abertos, começando a busca por nós no vasto deserto.
Thomas nos orientou, a voz firme apesar do cansaço. ── Precisamos continuar e tomar cuidado. Eles não vão parar até nos encontrarem.
Teresa e eu descemos quase que automaticamente a descida íngreme na areia, nossos corpos sendo impulsionados para baixo. Paramos ao nos apoiar no vidro do que parecia ser uma estrutura submersa na areia. Os garotos estavam logo atrás de nós. Teresa deu alguns passos para o lado, vendo que um dos vidros estava quebrado, criando uma passagem.
Sem pensar duas vezes, Teresa entrou e desceu. ── TERESA! ── gritou Thomas, preocupado ao vê-la desaparecer para dentro. ── DESÇAM AQUI! ──mandou Teresa.
Entrei e desci, meus pés deslizando facilmente pela areia até chegar lá embaixo. Os meninos fizeram o mesmo, e logo nos reunimos naquele espaço escuro e silencioso. Minho ligou a lanterna, iluminando o que parecia ser uma grande estrutura, com vários pontos que talvez fossem comércios antes, mas agora estavam em destroços.
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𝐁𝐄𝐘𝐎𝐍𝐃 𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐀𝐁𝐘𝐑𝐈𝐍𝐓𝐇
FanfictionEm um mundo devastado pela doença conhecida como "Fulgor", Hazel se vê no centro de uma luta pela sobrevivência e pelo recomeço. Após anos de combate e desafios, Hazel, uma das líderes mais respeitadas do BRAÇO-DIREITI, carrega o peso de proteger nã...