𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐈𝐅𝐓𝐘-𝐅𝐈𝐕𝐄

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Eu não disse nada

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Eu não disse nada. Meu olhar estava fixo em minhas mãos, sujas pelo líquido avermelhado e viscoso que cobria meus dedos. Pequenas gotas respingavam em meu rosto, o sangue se misturando ao suor que escorria pela minha pele. O som abafado das hélices da aeronave preenchia o espaço ao meu redor, enquanto a luz fria da noite filtrava-se pelas janelas da parte da frente, lançando sombras irregulares sobre os rostos cansados e abatidos dos que estavam ao meu redor.

Agora que tudo havia chegado ao fim, a realização me atingiu com força, como uma maré que retrocede apenas para voltar ainda mais forte. Matteo. Seu nome ecoou em minha mente, trazendo com ele o peso insuportável da perda. Sua morte foi o ápice de uma longa série de tragédias que eu havia suportado, e naquele instante, quando vi sua vida escapar de seus olhos, algo dentro de mim se quebrou, talvez de forma irreparável.

Eu me contive, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar. A noite havia sido um caos, uma espiral de violência e desespero. Pessoas haviam perdido suas vidas, pessoas que eu conhecia, que haviam lutado ao meu lado. E agora, enquanto o zumbido constante dos motores da aeronave continuava, a verdade me golpeava como um soco no estômago. Talvez eu fosse amaldiçoada. Todos que tentavam me proteger, todos que se aproximavam de mim, morriam. Eles davam suas vidas por mim, enquanto eu continuava a minha, carregando o peso de cada uma de suas mortes como pedras que me arrastavam para baixo, afundando mais a cada passo. Eu não sabia quanto tempo mais conseguiria suportar esse fardo.

Gally se aproximou silenciosamente, o som de seus passos abafado pelo ruído da aeronave. Ele se sentou ao meu lado, o banco de metal frio e duro não oferecendo conforto algum. Sua presença, no entanto, era familiar, um consolo em meio à tempestade de dor que me consumia. Ele ficou ali por um momento, em silêncio, permitindo que o peso do que havíamos perdido se estabelecesse entre nós.

── Sinto muito pela perda de Matteo ── disse Gally, sua voz baixa, quase apagada pelo som dos motores. ── Sei que ele era alguém importante pra você.

Assenti lentamente, incapaz de encontrar palavras para responder. Meu olhar permanecia fixo em minhas mãos, agora ligeiramente trêmulas, enquanto o sangue começava a secar, endurecendo contra minha pele. Aquele silêncio, o peso do que havíamos perdido, era sufocante.

Gally suspirou, um som pesado que parecia carregar o peso do mundo. Ele passou um braço por cima dos meus ombros, puxando-me gentilmente para mais perto dele. Com a outra mão, ele segurou a minha, mesmo que estivesse suja, manchada pelo meu ato mais cruel. Seus dedos entrelaçaram-se nos meus, oferecendo um conforto simples, mas poderoso.

── Hazel, sei que isso é difícil... ── começou Gally, sua voz suave, as palavras escolhidas com cuidado, como se ele temesse me quebrar ainda mais. ── Você não está sozinha nisso. Matteo... Ele sabia o que estava fazendo. Ele fez o que fez porque se importava com você. Isso não é culpa sua.

Eu não respondi. As palavras de Gally pareciam distantes, como se ele estivesse falando de um lugar muito longe, enquanto eu permanecia presa em minha própria mente, isolada pelo luto e pela culpa. Os segundos se passou, e quanto mais ele falava, mais a dor dentro de mim se tornava insuportável, uma ferida aberta que não parava de sangrar.

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